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Economia Negócios

‘A decisão de investimento ficou para o pós-Natal’, diz presidente de grupo com 39 shoppings no país

Para Rafael Sales, da Aliansce Sonae, retomada nos centros comerciais avança onde vacinação é mais forte. Mas inflação e crise política podem frear o consumo
Rafael Sales, diretor presidente do Grupo Aliansce Sonae Foto: CBELLI / Divulgação
Rafael Sales, diretor presidente do Grupo Aliansce Sonae Foto: CBELLI / Divulgação

RIO - Com 39 shoppings no país, a Aliansce Sonae adiou de agora para depois do Natal suas decisões sobre investimentos no próximo ano. É efeito da incerteza trazida pela turbulência política e a crise na economia, diz Rafael Sales, diretor presidente do grupo. Ele lamenta o risco de a inflação e a crise institucional frearem o consumo no momento em que a vacinação impulsiona a retomada nos shoppings da companhia, já perto do patamar pré-Covid.

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Como vê a situação após os atos do Sete de Setembro?

O ambiente econômico está impactado pela crise política. Mas a recuperação, ao menos para nós, está muito boa. As regiões estão reagindo de maneiras diferentes. O Norte na frente, com Manaus e Belém. Maceió está bem, e o Rio. A vacinação é um dos alavancadores mais importantes para a recuperação. Traz a confiança de que os protocolos, se seguidos de fato, nos protegem.

Há atraso na vacinação e, com isso, na retomada?

Sim, está atrás do que a gente gostaria. Estamos chegando, em termos de cobertura de primeira dose, ao mesmo nível dos EUA. E esperamos um ambiente que dê suporte para essa retomada avançar. Do ponto de vista macroeconômico, apesar de a atividade não estar tão pujante, a poupança de parte das pessoas aumentou e, agora, elas podem usar esses recursos. O problema é que seria melhor ter um nível de emprego acompanhando esse volume, porque não é a realidade de todas as classes.

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Incerteza vai frear o consumo?

Os negócios, as pessoas, as famílias não gostam de instabilidade. Não é bom para os negócios nem para a sociedade. A inflação é um mal que temos de combater como sociedade, na união de todos os Poderes, de forma contundente. É um dos maiores causadores de desigualdade social. A parte mais humilde da população é a mais sofrida, corrói o tecido social. Ao mesmo tempo, o Brasil tem capacidade de aumento de produção para reduzir a inflação. A reforma administrativa devia ser prioridade. Como fazer a tributária sem saber quanto gastamos?

E o efeito da crise hídrica?

Ar-condicionado é o ponto que mais consome energia no setor. Na Aliansce, é questão estratégica há anos. Temos negociação que garante 100% do fornecimento de energia no mercado livre em todos os shoppings, e sem impacto relevante de custo este ano porque os contratos são de longo prazo. Mas a gente não vive numa bolha. O consumo depende da atividade econômica. Se houver racionamento e aumento de preço da energia, vai retrair o consumo.

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Há impacto em investimentos?

Nunca paramos. Shopping, o varejo em geral, é um negócio de encantar pessoas. E precisamos fazer isso de uma forma cada vez mais integrada entre físico e digital, é inexorável. Reinvestimos com força nos ativos, para que tenham novidades. Acabamos de inaugurar uma fazenda urbana em Campinas, que vai produzir leguminosas e hortaliças. Acreditamos que será capaz de reduzir toda a pegada de carbono do shopping. Investimento em sustentabilidade, em maior qualidade de vida, vamos manter. Já construção de ativos e adição de áreas, desaceleramos em razão do impacto da pandemia e da volatilidade na atividade econômica. Normalmente, decidiríamos entre este mês e o próximo, mas a decisão de investimento ficou para o pós-Natal.

Isso reduz a oferta de emprego?

Não reduzimos o que temos, mas poderíamos gerar mais empregos. Só que sem investimentos em obras, não faremos isso. Tomamos uma atitude robusta de manutenção integral do nosso time. Com a vacinação avançando, vemos as pessoas voltando. Nos dois últimos meses, os shoppings do Norte apresentam crescimento de 15% na comparação com igual período de 2019. No Rio, a média já é similar ao pré-pandemia, com expansão em algumas unidades. No Nordeste, já equiparamos a 2019. São Paulo ainda cai 15%.

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A empresa avalia aquisições?

Anunciamos (em março) uma aquisição adicional no Shopping Leblon, onde tínhamos fatia de 30% e, agora, é de 51%. Estamos avaliando outras possibilidades, mas são processos de negociação longos.

A crise institucional reduz o interesse do investidor?

Certamente. Instabilidade não é boa para negócios, não é boa para a captação. O juro de longo prazo subindo impacta o apetite do investidor estrangeiro de entrar em projetos e investir em empresas no país.