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Adriano Pires desistiu da Petrobras após ser avisado de parecer contrário

Comitê de Pessoas da estatal apontou conflito de interesses
Adriano Pires, economista, novo presidente da Petrobras Foto: Leo Pinheiro / Valor
Adriano Pires, economista, novo presidente da Petrobras Foto: Leo Pinheiro / Valor

BRASÍLIA — O Comitê de Pessoas da Petrobras tinha em mãos pareceres contrários às nomeações do consultor Adriano Pires e de Rodolfo Landim (presidente do Flamengo) para a presidência da empresa e para a chefia do Conselho de Administração da estatal, respectivamente, de acordo com fontes do governo.

Landim e Pires foram avisados desses pareceres e, então, decidiram desistir de ocupar os postos. O risco, sem a renúncia, era de serem vetados pela própria Petrobras.

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Landim avisou no domingo que não iria assumir o Conselho de Administração da Petrobras. Como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, Adriano Pires comunicou nesta manhã ao Palácio do Planalto que desistiu de ocupar a presidência da empresa .

O Comitê de Pessoas da Petrobras iria se reunir nesta terça-feira para decidir sobre as nomeações. Era necessário o aval desse colegiado para que ambos pudessem assumir os postos.

Esse comitê, porém, tem pareceres contra as duas nomeações, especialmente a de Pires, por supostos conflitos de interesses. Esse parecer é decorrente de uma investigação conhecida internamente como Background Check de Integridade (BCI).

Consultoria a distribuidoras de gás

O BCI, segundo a Petrobras, é um mecanismo “de suporte à tomada de decisão, que visa aumentar a qualidade das nomeações, sem prejuízo da meritocracia, por meio de um processo de análise de integridade de candidatos indicados pela Petrobras para atuar em funções gratificadas na companhia e posições na alta administração em Participações Societárias da Petrobras, respeitando a legislação vigente em cada país no que tange à proteção da privacidade e acesso à informação”.

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A principal conclusão desse parecer aponta conflitos de interesse de Pires por ele ter sido contratado como consultor pelo empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás, e também da associação das distribuidoras de gás (Abegás).

As relações dele também despertaram críticas da equipe econômica.

Como um dos consultores mais requisitados do país em assuntos de energia, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires contrariou vários pontos das propostas defendidas pelos auxiliares de Paulo Guedes.

Suarez é figura conhecida em Brasília e com forte interlocução junto ao Congresso Nacional, especialmente com lideranças do Centrão — o grupo de partidos que apoia Bolsonaro.

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Integrantes da equipe econômica afirmam que ele foi um dos principais articuladores contra a aprovação do Novo Marco do Gás, proposto em 2019 pelo ministro Paulo Guedes e só aprovado dois anos depois. Guedes dizia que, com esse programa, iria dar um “choque de energia barata” para a indústria e os consumidores.

O choque não aconteceu, em grande medida, por conta da forma como o texto foi aprovado, com poucas mudanças práticas. O objetivo do programa era abrir o mercado, tendo as distribuidoras de gás como principais prejudicadas.

Comitê já vetou indicados

Na sexta-feira, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) entrou com pedido de liminar na Corte para impedir que Pires assuma o comando da Petrobras antes que seja feita uma investigação “em profundidade” por parte das autoridades competentes para apurar eventual conflito de interesse.

Na representação, o subprocurador-geral Lucas Furtado destaca que Pires é dirigente de uma empresa de consultoria que presta serviço a várias empresas do setor de óleo e gás há mais de 20 anos.

“Tendo em vista sua atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras", afirmou Furtado.

O Comitê de Pessoas da Petrobras é formado por membros do Conselho de Administração da empresa e por especialistas indepenentes. Em 2021, esse colegiado, por exemplo, considerou inaptos duas das 11 indicações para o Conselho de Administração.

O órgão argumentou, na época, que os indicados trabalharam, nos últimos 3 anos, em empresas com relação direta com a estatal.