André Esteves: ‘Lobo da Faria Lima’ sai dos bastidores e volta hoje oficialmente ao comando do BTG
Em assembleia e com mais medidas de governança, acionistas devem dizer sim à proposta de eleição do empresário como presidente do Conselho de Administração do banco
Marcelo Mota
29/04/2022 - 04:30
/ Atualizado em 29/04/2022 - 19:37
Andre Esteves deve retornar hoje oficialmente ao comando do BRG Foto: STRINGER / REUTERS
SÃO PAULO - Um dos personagens mais relevantes do mercado financeiro brasileiro volta à cena na Faria Lima, corredor em São Paulo que concentra os principais atores desse meio.
Em assembleia ordinária convocada para hoje, os acionistas do BTG Pactual aprovaram a proposta de eleição de André Esteves como presidente do Conselho de Administração do banco.
Não que ele estivesse só no bastidor. No apagar das luzes de 2018, depois de absolvido da acusação de tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, o BTG comunicou ao mercado e às autoridades que Esteves retomara o controle do seu negócio.
Mas seu papel perante a instituição ainda não havia sido definido. E, apesar do perfil
hands on
de Esteves — como definem na Faria Lima, com anglicismo típico, os executivos que botam a mão na massa —, ninguém duvida que a posição de
chairman
lhe cairá como uma luva.
O presidente do Conselho de Administração é, por definição do cargo, aquele que escolhe as estratégias a serem seguidas pela companhia.
O carioca Andre Esteves, ex-aluno do Colégio Militar e da UFRJ, participa de seminário no Rio já como um dos banqueiros mais influentes do sistema financeiro brasileiro, à frente do BTG Pactual. Foto: Aline Massuca / 10-5-2010
No centro, rodeado entre diretores e sócios, André Esteves ajuda a apertar o sinal da Bolsa de Valores de São Paulo na abertura de capital do BTG, que passou a ter ações negociadas no mercado em 2012. O segundo da direita para a esquerda é o ex-presidente do BC Pérsio Arida, que na época era sócio do banco Foto: Arquivo
André Esteves, o segundo da esquerda para a direita, participa como CEO do BTG Pactual, de plenária da Clinton Global Initiative, no Rio, em dezembro de 2013. Antes dele, o moderador Luis Alberto Moreno, então presidente do BID, e depois, Angélica Fuentes Telles, do Grupo Omnilife e Mark Parker, então presidente da Nike Foto: Pablo Jacob / 10-12-2013
Na lista dos bilionários brasileiros, Andre Esteves fala em sessão do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em 2015. O evento reúne anualmente integrantes da elite financeira global Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg/21-1-2015
O banqueiro Andre Esteves deixa o presídio de Bangu, na Zona Oeste do Rio, em carro da Polícia Federal. Preso sob a acusação de atrapalhar investigações da Lava-Jato, terminou absolvido e retomou influência no BTG e no setor financeiro Foto: Domingos Peixoto / 17-12-2015
Nos bastidores: livre das acusações na Justiça, André Esteves volta a dar as cartas no BTG. Na foto, ele fala ao telefone no intervalo de um evento promovido pelo banco em São Paulo em 2018 Foto: Marcelo Chello / CJPress / Agência O Globo/7-2-2018
De volta à cena: André Esteves gesticula em entrevista à agência Reuters em 2021. Agora ele está de volta oficialmente à cúpula do banco BTG Pactual Foto: Tuane Fernandes / REUTERS/14-6-2021
Egresso do Colégio Militar, no Rio, o banqueiro demonstrou, ao longo de toda a sua trajetória, exímia habilidade para traçar e executar estratégias decisivas e posicionar sua instituição na parte mais alta da cadeia alimentar do sistema financeiro do país.
Reviravoltas e disputas
O “lobo da Faria Lima”, epíteto usado para apontar não só Esteves, mas um ou outro executivo que de fato se destaque no mercado financeiro nacional, usou também sua destreza para alçar e manter o comando de uma operação bancária que, desde seus primórdios, nos anos 1980, se notabilizou pela pluralidade de seu controle.
No fim dos anos 1990, quando o Pactual já era considerado “o último dos moicanos” por ser o único remanescente dentre os bancos de investimento do país desvinculado de um conglomerado financeiro, nacional ou estrangeiro, Esteves foi um dos protagonistas do grupo que substituiu do comando da instituição a tríade que lá estava desde a fundação: Luiz Cesar Fernandes, André Jakurski e o hoje ministro da Economia, Paulo Guedes.
Aos 50 anos, Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, cuja fortuna estimada em março era de US$ 219 bilhões, encabeça pela primeira vez o ranking da Forbes, superando Jeff Bezos. Foto: Brian Snyder / Reuters
Jeff Bezos, criador da Amazon, viu sua fortuna encolher em em US$ 6 bilhões na lista atual da Forbes, somando US$ 171 bilhões. Foto: JIM WATSON / AFP
O empresário francês Bernard Arnault, presidente e diretor executivo da LVMH, maior empresa de artigos de luxo do mundo, e família ocupam o terceiro posto da lista, com uma fortuna de US$150 bilhões Foto: AFP
Bill Gates, fundador da Microsoft, tem hoje uma fortuna de US$ 129 bilhões, e é o quarto homem mais rico do mundo, segundo a Forbes Foto: SAMUEL CORUM / Agência O Globo
Dono do grupo Berkshire Hathaway, o investidor americano Warren Buffet, de 91 anos, aparece na quinta posição, com uma patrimônio de UA$ 118 bilhões Foto: AFP
Larry Page, cofundador da Google, é o sexto mais rico, com uma fortuna de US$ 111 bilhões Foto: Divulgação
Sergey Brin, também cofundador do Google, tem em 2022 uma fortuna de US$ 107 bilhões, segundo a Forbes Foto: Divulgação
Larry Ellison, presidente, diretor de tecnologia e cofundador da gigante do software Oracle, da qual possui uma participação acionária de 35%, ocupa a oitava posição do ranking, com uma fortuna de US$ 106 bilhões. Foto: Reuters
Com um patrimônio de US$ 91,4 bilhões, Steve Ballmer, o ex-CEO da Microsoft, é o nono colocado da lista da Forbes Foto: Bloomberg
Ao atingir um patrimônio de US$ 90,7 bilhões, o magnata indiano Mukesh Ambani, da Reliance Industries, aparece em 10º lugar do ranking Foto: Bloomberg
O também indiano Gautam Adani e família, têm patrimônio de US$ 90 bilhões e ocupam o 11º posto. Foto: Reprodução
O bilionário Michael Bloomberg, cofundador da empresa de mídia e informações financeiras Bloomberg LP, acumula fortuna de US$ 82 bilhões Foto: Christopher Lee / New York Times
O homem mais rico do México, Carlos Slim Helu, e sua família controlam a América Móvil, a maior empresa de telecomunicações móveis da América Latina, e somam um patrimônio de US$ 81,2 bilhões Foto: Arquivo
Françoise Bettencourt Meyers, neta do fundador da L'Oreal, é a mulher mais rica do mundo. Ela e a família acumulam uma fortuna de US$ 74,8 bilhões e ocupa a 14ª posição da lista da Forbes Foto: Reprodução/Facebook
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, aparece na 15ª posição do ranking, com uma fortuna de US$ 67,3 bilhões Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
Quando Guedes tomou posse no Ministério da Economia, no início de 2019, Esteves era um dos poucos convidados para a sala VIP da cerimônia, como evidência de que a disputa havia sido estritamente relativa a negócios, nada pessoal.
Ele circulava, então, nos corredores do poder com a mesma desenvoltura que demonstrava anos antes, até que a prisão, em 2015, abalou não só Esteves, mas também o banco.
Um antigo parceiro de negócios e também cliente avalia que foi o momento mais difícil pelo qual a instituição passou, talvez o único em que tenha ficado sob risco.
Foram muitas as encruzilhadas, outras tantas reviravoltas societárias e disputas por poder na história do Pactual. André Esteves saiu mais forte de cada uma delas, graças à habilidade que lhe é peculiar.
Limonada suíça
Depois da tomada de controle da operação, em meados de 2006, Esteves voltou a demonstrar toda sua habilidade na tentativa frustrada de fusão com o Goldman Sachs.
Fonte de inspiração para o modelo de participação compartilhada adotado pelo Pactual, o banco americano tornou o que parecia ser um sonho num pesadelo, com exigências inexequíveis para adequar a instituição brasileira ao seu
compliance
inflexível.
Elon Musk, homem mais rico do mundo, compra o Twitter por US$ 44 bilhões, um preço 38% acima do valor em Bolsa da empresa em 1º de abril, antes da proposta do bilionário Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg
Em janeiro deste ano a Microsoft anuncia a compra Activision Blizzard, dos jogos 'Call of Duty' e 'Candy Crush', por US$ 68,7 bi, maior aquisição da história da empresa Foto: Reuters
Em 2016, quando a Microsoft anunciou a compra do LinkedIn por US$ 26,2 bi, era considerado o maior negócio da gigante de tecnologia Foto: David Paul Morris / Bloomberg
Em outubro de 2014, o Facebook oficializa compra do WhatsApp por US$ 21,8 bi, maior negócio da empresa de Zuckerberg Foto: AFP
Em outubro de 2017, os acionistas da varejista Whole Foods Market aprovaram a proposta de venda para a Amazon. O acordo foi avaliado em cerca de US$ 13,5 bilhões Foto: AFP
Steve Ballmer e Tony Bates selam a compra do Skype pela Microsoft por US$ 8,5 bi, em maio Foto: Reuters / Reuters
Em maio de 2021, a Amazon concluiu a compra dos estúdios MGM por US$ 8,5 bilhões Foto: Reprodução
Em outubro de 2006, o Google anunciou a compra do YouTube por US$ 1,65 bilhão, em negócio que envolveu troca de ações Foto: Reprodução
Nem toda a vontade do Pactual de se juntar ao banco americano bastou para o enquadramento às regras, e a negociação ruiu. Esteves e seu grupo, entretanto, fizeram do limão uma limonada suíça, e se juntaram ao UBS.
O banco suíço se viu obrigado a assumir prejuízos ocorridos na crise de 2008, e Esteves enxergou na crise a oportunidade de comprar de volta a operação brasileira.
Assim nasceu o BTG Pactual, que logo passou a abocanhar várias das maiores operações de crédito corporativo e do mercado de capitais brasileiro.
Mas a concentração de poder e a consequência dramática de sua prisão após um envolvimento com a esfera política, considerado íntimo demais pelos sócios, aumentaram a pressão por limites. Em seu regresso ao comando, Esteves, que já foi chamado de “banqueiro do Lula”, teve de ceder.
Comitê de 'Compliance'
No pacote a ser votado pelos acionistas, junto à eleição de Esteves está o revestimento de mais uma camada de governança sobre a estrutura do banco. Serão criados quatro comitês com essa finalidade.
Um deles, de
compliance
, tem como finalidade “propor as melhores práticas” para a instituição. Ficará a cargo de um profissional também com experiência no desenho de estratégias militares, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que guardava o assento de
chairman
, até agora, para o regresso de Esteves.