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Economia Negócios

André Esteves: ‘Lobo da Faria Lima’ sai dos bastidores e volta hoje oficialmente ao comando do BTG

Em assembleia e com mais medidas de governança, acionistas devem dizer sim à proposta de eleição do empresário como presidente do Conselho de Administração do banco
Andre Esteves deve retornar hoje oficialmente ao comando do BRG Foto: STRINGER / REUTERS
Andre Esteves deve retornar hoje oficialmente ao comando do BRG Foto: STRINGER / REUTERS

SÃO PAULO - Um dos personagens mais relevantes do mercado financeiro brasileiro volta à cena na Faria Lima, corredor em São Paulo que concentra os principais atores desse meio.

Em assembleia ordinária convocada para hoje, os acionistas do BTG Pactual aprovaram a proposta de eleição de André Esteves como presidente do Conselho de Administração do banco.

Não que ele estivesse só no bastidor. No apagar das luzes de 2018, depois de absolvido da acusação de tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, o BTG comunicou ao mercado e às autoridades que Esteves retomara o controle do seu negócio.

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Mas seu papel perante a instituição ainda não havia sido definido. E, apesar do perfil hands on de Esteves — como definem na Faria Lima, com anglicismo típico, os executivos que botam a mão na massa —, ninguém duvida que a posição de chairman lhe cairá como uma luva.

O presidente do Conselho de Administração é, por definição do cargo, aquele que escolhe as estratégias a serem seguidas pela companhia.

Egresso do Colégio Militar, no Rio, o banqueiro demonstrou, ao longo de toda a sua trajetória, exímia habilidade para traçar e executar estratégias decisivas e posicionar sua instituição na parte mais alta da cadeia alimentar do sistema financeiro do país.

Reviravoltas e disputas

O “lobo da Faria Lima”, epíteto usado para apontar não só Esteves, mas um ou outro executivo que de fato se destaque no mercado financeiro nacional, usou também sua destreza para alçar e manter o comando de uma operação bancária que, desde seus primórdios, nos anos 1980, se notabilizou pela pluralidade de seu controle.

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No fim dos anos 1990, quando o Pactual já era considerado “o último dos moicanos” por ser o único remanescente dentre os bancos de investimento do país desvinculado de um conglomerado financeiro, nacional ou estrangeiro, Esteves foi um dos protagonistas do grupo que substituiu do comando da instituição a tríade que lá estava desde a fundação: Luiz Cesar Fernandes, André Jakurski e o hoje ministro da Economia, Paulo Guedes.

Quando Guedes tomou posse no Ministério da Economia, no início de 2019, Esteves era um dos poucos convidados para a sala VIP da cerimônia, como evidência de que a disputa havia sido estritamente relativa a negócios, nada pessoal.

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Ele circulava, então, nos corredores do poder com a mesma desenvoltura que demonstrava anos antes, até que a prisão, em 2015, abalou não só Esteves, mas também o banco.

Um antigo parceiro de negócios e também cliente avalia que foi o momento mais difícil pelo qual a instituição passou, talvez o único em que tenha ficado sob risco.

Foram muitas as encruzilhadas, outras tantas reviravoltas societárias e disputas por poder na história do Pactual. André Esteves saiu mais forte de cada uma delas, graças à habilidade que lhe é peculiar.

Limonada suíça

Depois da tomada de controle da operação, em meados de 2006, Esteves voltou a demonstrar toda sua habilidade na tentativa frustrada de fusão com o Goldman Sachs.

Fonte de inspiração para o modelo de participação compartilhada adotado pelo Pactual, o banco americano tornou o que parecia ser um sonho num pesadelo, com exigências inexequíveis para adequar a instituição brasileira ao seu compliance inflexível.

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Nem toda a vontade do Pactual de se juntar ao banco americano bastou para o enquadramento às regras, e a negociação ruiu. Esteves e seu grupo, entretanto, fizeram do limão uma limonada suíça, e se juntaram ao UBS.

O banco suíço se viu obrigado a assumir prejuízos ocorridos na crise de 2008, e Esteves enxergou na crise a oportunidade de comprar de volta a operação brasileira.

Assim nasceu o BTG Pactual, que logo passou a abocanhar várias das maiores operações de crédito corporativo e do mercado de capitais brasileiro.

Mas a concentração de poder e a consequência dramática de sua prisão após um envolvimento com a esfera política, considerado íntimo demais pelos sócios, aumentaram a pressão por limites. Em seu regresso ao comando, Esteves, que já foi chamado de “banqueiro do Lula”, teve de ceder.

Comitê de 'Compliance'

No pacote a ser votado pelos acionistas, junto à eleição de Esteves está o revestimento de mais uma camada de governança sobre a estrutura do banco. Serão criados quatro comitês com essa finalidade.

Um deles, de compliance , tem como finalidade “propor as melhores práticas” para a instituição. Ficará a cargo de um profissional também com experiência no desenho de estratégias militares, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que guardava o assento de chairman , até agora, para o regresso de Esteves.