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Bolsa de valores para 'influencers', 'live commerce' e NFTs: veja tendências de 2022 para mercado de influenciadores

Conteúdo por WhatsApp e pagamento em criptomoedas são outras apostas crescentes de negócio. Mercado de conteúdo digital movimenta US$ 13,8 bi
Influenciadoras realizam ‘live streaming’ na China, onde modelo começou. Transmissão ao vivo para vendas online é tendência para 2022 Foto: Bloomberg
Influenciadoras realizam ‘live streaming’ na China, onde modelo começou. Transmissão ao vivo para vendas online é tendência para 2022 Foto: Bloomberg

RIO - Investir no trabalho de um influenciador em uma “bolsa de valores”, interagir com um criador de conteúdo totalmente virtual, fazer sua compra preferida em um live streaming ou assinar para acompanhar sugestões em grupos de WhatsApp são as tendências de consumo que serão ditadas pelo mercado da influência neste ano.

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O papel dos influencers no varejo cresceu tanto que, em 2021, este mercado movimentou no mundo US$ 13,8 bilhões, segundo o relatório anual da consultoria Influencer Marketing Hub. Foi uma expansão de 42% frente ao ano anterior.

Esses bilhões de dólares acabam impulsionando novos negócios. A financeirização do setor — e do próprio influencer — é o mais recente deles.

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A criação de “bolsas de valores” para que projetos de criadores de conteúdo possam ser apoiados a partir da compra de “ações” já chegou ao Brasil, com a DIVIhub.

A plataforma, cujo registro de emissões foi autorizado pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM), oferece uma opção para os influencers se financiarem junto a seu público.

Financiamento com 'ações' de R$ 10

O criador de conteúdo apresenta à DIVIhub uma meta de captação de recursos e fragmenta o valor total em “ações” de R$ 10. Todo o processo é realizado por serviços de criptografia.

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— Usamos um token de representatividade imutável que assegura um contrato de participação nos lucros do influenciador, com retorno a cada três meses, e em modelo pré-fixado, com contrato de dez anos ou pela duração do projeto — explica Ricardo Wendel, CEO da DIVIhub.

Muitas vezes a participação no financiamento do influenciador gera mimos ao investidor. Influencers como a gamer Bibi Tatto já recorreram à estratégia.

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Com 4,5 milhões de seguidores no Instagram, ela entrou na plataforma com o objetivo total de captar R$ 5 milhões para o projeto Bees, que planeja criar uma mansão com cinco influenciadoras para incentivar o mercado feminino de criação de conteúdo.

A 'gamer' Bibi Tatto, que tem 4,5 milhões de seguidores no Instagram, quer captar R$ 5 milhões para o projeto Bees, que planeja criar uma mansão com cinco influenciadoras para incentivar o mercado feminino de criação de conteúdo Foto: Divulgação
A 'gamer' Bibi Tatto, que tem 4,5 milhões de seguidores no Instagram, quer captar R$ 5 milhões para o projeto Bees, que planeja criar uma mansão com cinco influenciadoras para incentivar o mercado feminino de criação de conteúdo Foto: Divulgação

De acordo com a quantidade de “ações” compradas, os fãs poderão ter canais exclusivos de comunicação com as Bees, conhecer a casa antes das gravações e até passar o dia com Bibi Tatto.

Pagamento em cripto

Em seis meses de operação, a DIVIhub já recebeu aporte de 8.600 investidores e, até agora, obteve captação total de R$ 730 mil.

Fora do mercado convencional, despontam as NFTs — certificados virtuais únicos muito associados a obras de arte. No mesmo esquema, o trabalho dos influenciadores vira uma fração de ativo para a comunidade, que tem a propriedade protegida a partir da tecnologia blockchain. Esse modelo já é comum no exterior e, segundo especialistas, poderá chegar ao Brasil

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O professor de Finanças da ESPM Alexandre Ripamonti acredita que o uso das NFTs vai virar um ativo fundamental a partir de 2022, com a popularização de pagamentos em criptomoedas.

— Os influenciadores vão poder oferecer o trabalho deles como ativo. Vamos poder investir no influenciador que acreditamos que dará mais retorno — afirma Ripamonti, que destaca que esses avanços para o digital são uma espécie de avant-première para futuros negócios no metaverso.

'Live commerce', novo filão

Novo ambiente virtual, o metaverso mescla as tecnologias de realidade aumentada e realidade imersiva para criar uma espécie de realidade paralela e tende a ganhar impulso no Brasil com a chegada do 5G.

No varejo das compras de objetos reais, o live commerce será o grande filão em 2022, preveem especialistas. São transmissões ao vivo, por streaming, que surgiram com força na China e já criam tendência no Brasil.

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Nelas, os criadores de conteúdo testam e dão impressões sobre produtos, enquanto os espectadores podem realizar compras em tempo real diretamente na plataforma.

Segundo Fabio Mariano Borges, professor do Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor da ESPM, grandes marcas vão apostar no formato para alavancar vendas. E para Fátima Pissarra, CEO da Mynd, empresa de marketing de influência, a peça-chave para o live commerce são as redes sociais:

— Ele pode ser um modelo de negócio dentro do país. Vemos o futuro das redes sociais como espaço de empreendimento, e os influenciadores são empreendedores.

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Dentro das redes, outra tendência para 2022 é a monetização do trabalho do influenciador dentro de grupos de WhatsApp e Telegram, mercado abraçado pela start-up Hubla.

O negócio baseado na criação de espaços com conteúdos exclusivos para assinantes e contato direto com os influencers movimentou dezenas de milhões de reais para os influenciadores cadastrados na empresa em 2021, e promete ser cinco vezes maior em 2022.

— Deve ser uma das grandes tendências para o próximo ano. A maioria dos brasileiros tem WhatsApp e passa boa parte do tempo lá, e investir em canais de faturamento é um grande negócio com cada vez mais demanda — conta o CEO da Hubla, Arthur Alvarenga, que espera atender dez vezes mais influenciadores em 2022.

Os influenciadores virtuais também devem ganhar espaço, sobretudo com a consolidação do metaverso.

Foco no metaverso

Nascida em 2003, a Lu do Magalu é pioneira no segmento. A personagem foi inspirada na fundadora da empresa, Luiza Trajano, e tem 5,7 milhões de seguidores no Instagram. Fora das redes, a Lu já fez campanhas para a Adidas e participou de um clipe do DJ Alok.

— Vemos que a associação do Magazine Luiza com a Lu é quase imediata, e ela impacta positivamente o resultado das vendas. Produtos com vídeos dela comentando ou provando um produto influenciam muito a compra — conta Pedro Alvim, desenvolvedor da Lu

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Na avaliação da coordenadora de Mídias do ITS, Karina Santos, o influenciador virtual é um fenômeno que permite criar uma identidade singular para o público.

— Além de serem 100% controláveis, também permitem que a empresa construa uma imagem cativante para o público, podem falar das pautas que estão em alta no ambiente digital — explica Karina.

Bia Granja, especialista em marketing de influência da Youpix, também vê enorme potencial no modelo:

— Todo o debate de influenciadores virtuais fica mais interessante quando a gente discute o metaverso, porque eles já estão preparados para interagir de forma genuína nesse espaço.