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Economia Negócios

Dona do Galeão quer levar Santos Dumont em leilão de privatização, dizem fontes

Changi, empresa de Cingapura que opera o aeroporto internacional, estaria buscando investidor estrangeiro para disputar a licitação prevista para 2022
Área de embarque do aeroporto Antonio Carlos Jobim Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Área de embarque do aeroporto Antonio Carlos Jobim Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Changi, empresa de Cingapura que opera o Aeroporto Antônio Carlos Jobim, o Galeão, na Zona Norte do Rio, mira a privatização do Santos Dumont, no Centro, para solucionar a crise que o terminal internacional vive com falta de passageiros.

A situação tende a piorar se o movimento do Santos Dumont aumentar após a privatização, o que está prevista para o ano que vem.

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Interlocutores da companhia, que tem 51% do consórcio RIOGaleão em conjunto com a Infraero, e integrantes do governo acreditam que esta ação seria uma forma de solucionar a privatização do Galeão, que nunca alcançou as metas de sua concessão.

A empresa estaria buscando um investidor estrangeiro disposto a montar um consórcio para arrematar o Santos Dumont. Pessoas próximas da empresa, do setor e do governo afirmam que a solução ideal é a Changi poder fazer uma espécie de coordenação das operações entre os dois aeroportos.

A possibilidade de expansão do terminal central do Rio, inclusive com voos internacionais, poderia esvaziar ainda mais o Galeão.

Além de grandes operadores estrangeiros que ainda não estão no mercado brasileiro, como a francesa ADP e a Ferrovial, que administra os maiores aeroportos ingleses, estão no radar fundos de investimentos, dizem fontes do mercado que acompanham a sétima rodada de concessão dos aeroportos, que inclui o terminal de Congonhas (SP).

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Ação em várias frentes

Em outra frente, a concessionária do Galeão procura convencer o governo a fixar algum tipo de restrição às operações no Santos Dumont, ainda que seja temporária. Uma das ideias é centralizar no aeroporto voos da ponte aérea (Rio-SP), Brasília e Belo Horizonte.

Além dessas iniciativas, a concessionária do Galeão pediu à Secretaria de Aviação Civil (SAC), do Ministério de Infraestrutura, para fazer um acerto de contas, antecipando o recolhimento da outorga que ainda vai vencer, com desconto.

A proposta está sendo avaliada, mas ela depende do aval de órgãos controladores, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e não poderia ser aplicada de forma individual.

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Também faz parte do pacote outro pedido encaminhado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que o órgão regulador faça um reequilíbrio do contrato e desconte os efeitos da Covid-19, ao longo da concessão, que vence em 2039. Outros operadores fizeram proposta semelhante.

O governo vê com bons olhos a entrada do Galeão no leilão do Santos Dumont, mas não está disposto a ceder à pressão da concessionária do Galeão para restringir as operações do Santos Dumont. A minuta do edital está em consulta pública na Anac.

Segundo interlocutores, não seria um bom negócio para a Changi uma simples venda de sua participação no Galeão por causa da desvalorização do ativo.

Leiloado em 2014, foram investidos no aeroporto R$ 2 bilhões a fim de adequar a infraestrutura para receber até 37 milhões de passageiros por ano.

Entre janeiro e agosto deste ano, o movimento no Galeão ficou em 4,6 milhões de passageiros, contra 13,5 milhões no mesmo período de 2019. Em julho, o volume de usuários no aeroporto chegou a 55% do registrado em igual período de 2019, abaixo da média nacional que foi de 65%, segundo dados da Anac.

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Procurada, a assessoria de imprensa do RIOGaleão reiterou que a concessionária vê oportunidades para se fortalecer: “O operador busca formas de fortalecer a estrutura acionária do RIOGaleão e enxerga o momento propício para realização desse trabalho.”

Aéreas no Nordeste

Especialistas afirmam que tudo está na mesa. A Changi poderia, entre as alternativas estudadas, buscar novos sócio para o RIOGaleão ou até se desfazer de sua parte na operadora. O colunista do jornal O GLOBO, Lauro Jardim , publicou nota este fim de semana afirmando que a Changi decidira vender sua participação no aeroporto.

Para o advogado Felipe Bonsenso, sócio de Bonsenso Advogados e especialista no setor aéreo, o problema do Galeão é que as projeções de rentabilidade podem não se confirmar:

— As projeções podem não ter se concretizado tanto pela pandemia, mas também porque várias companhias internacionais deixaram de operar no Galeão. Algumas estão preferindo aeroportos do Nordeste. Com isso, a Changi poderia estar buscando parceiros para se capitalizar — disse Bonsenso.