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Por Raphaela Ribas — Rio de Janeiro

Depois de uma longa espera, finalmente, o show vai continuar. É hora de montar o palco, enfeitar as mesas, ligar o som e servir os convidados. Com o fim das restrições sanitárias impostas pela pandemia, o setor de eventos vive, em 2022, dois anos em um.

O segundo semestre promete ser frenético nos negócios que viabilizam desde festas de casamento e aniversários aos grandes congressos e feiras corporativas, mas faltam espaço, mão de obra e fornecedores.

Agendas lotadas, com filas até 2023, marcam a retomada do setor, e o desequilíbrio entre essa alta demanda e a oferta de serviços infla os preços. Os eventos estão até 30% mais caros do que em 2019, antes de a pandemia derrubar o setor no início de 2020.

Após tanta espera, famílias e empresas estão buscando compensar dois anos de abstinência com festividades e eventos grandiosos, levando Doreni Caramori Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), a dizer que o setor vive agora seu melhor momento.

Mas, como foi um dos segmentos mais prejudicados na pandemia, 44% das empresas fecharam ou voltaram com capacidade parcial, e 45% tiveram que tomar empréstimos para sobreviver, mostra uma pesquisa da entidade com o Sebrae.

O setor tem mais de 647 mil empresas e 2,4 milhões de microempreendedores. Há menos fornecedores e pouco tempo para treinar nova mão de obra. Isso abre oportunidades num setor que envolve mais de 50 cadeias produtivas, mobiliza em torno de 6 milhões de pessoas e movimenta R$ 334 bilhões por ano (cerca de 4,5% do PIB).

— Desde outubro a demanda aumentou muito. O desafio é a outra ponta, a oferta, porque tem uma cadeia desestruturada. Muitas pessoas foram para outros setores, empresas quebraram, venderam equipamentos. Tudo isso está fazendo os custos aumentarem e a margem diminuir — diz Caramori.

Fim de ano em janeiro

Os telefones de empresas que realizam casamentos, aniversários, congressos e feiras não param de tocar. Muitos ainda estão cumprindo a agenda de eventos adiados pela pandemia, e novas vagas, em muitos casos, só há no ano que vem.

Ticiana Szapiro, decoradora e cerimonialista da Sal Grosso Evento, está com a agenda lotada para as próximas semanas — Foto: Acervo pessoal
Ticiana Szapiro, decoradora e cerimonialista da Sal Grosso Evento, está com a agenda lotada para as próximas semanas — Foto: Acervo pessoal

Nos últimos dois anos, o governo promoveu mudanças nas regras do setor, ampliando os prazos de remarcação para eventos culturais e de turismo impactados pela Covid-19. Na última quarta-feira, o Congresso aprovou mais uma Medida Provisória que prorroga em um ano a data limite para cumprimento dos contratos.

Milena Palumbo, CEO da GL events Brasil, explica que a retomada na área de entretenimento, como shows, é mais rápida e ganha força desde outubro. Já eventos técnicos e científicos e feiras de negócios precisam de cerca de um ano de planejamento e só começaram a voltar em março.

— A cadeia se sobrecarregou porque muitos fornecedores sumiram, pois, além de ficarem fechados, são altamente impactados pela alta do diesel e da construção. Uma feira é como um shopping pop-up (temporário). Ou seja, a estrutura envolve madeira, cabo elétrico, compensado, metalon (aço). E tudo isso subiu.

Fabrício Granito, CEO do Grupo Hel, que organiza principalmente eventos corporativos, diz estar marcando para janeiro festas de fim de ano para empresas, tanta é a procura:

— Tem a demanda que estava reprimida há dois anos e a de agora, na área corporativa e social. Não tem mais vaga em espaços no segundo semestre — diz Granito, observando que, apesar do alto desemprego no país, a mão de obra especializada é escassa.

 Chef Malu Mello: encomendas para festas dobram em 4 meses — Foto: Fabio Rossi
Chef Malu Mello: encomendas para festas dobram em 4 meses — Foto: Fabio Rossi

— Faltam cenógrafos, marceneiros, produtores. E os que sobraram estão cobrando o dobro. Juntando a inflação com bufê, decoração, transporte e logística, está, em geral, 30% mais caro fazer evento hoje do que em 2019.

Hora de investir

Caramorini acredita que, depois da euforia deste ano, o mercado vai se equilibrar: — Em razão dos investimentos feitos neste momento, haverá um crescimento orgânico nas empresas.

Paloma Sias, que tem uma confeitaria com seu nome em Niterói (RJ) e fazia bolos de casamento, inovou com kits com doces e bem-casados na pandemia e parcerias. Isso a ajudou a aumentar a estrutura.

— No isolamento, o combo para festas em casa me deu visibilidade e, com o dinheiro, montei um escritório, equipei a cozinha e me preparei para a demanda que viria agora. Estou com a agenda praticamente fechada neste ano. Por causa das remarcações dos salões e bufês, há festas até no meio da semana — diz Paloma, que já contratou dois ajudantes.

Cristiani Giardini também tem aproveitado a disposição dos clientes para festas em dias de semana em São Paulo. Além dos eventos corporativos, ela investe principalmente no preparo especial de casamentos judaicos, que são realizados às quintas e aos domingos.

A promoter e empresária Carol Sampaio — Foto: Divulgação
A promoter e empresária Carol Sampaio — Foto: Divulgação

Assim, os dois salões do Grupo Giardini estão em uso mais dias na semana do que o usual e devem se manter assim durante todo o segundo semestre. Rodrigo Lasmar, sócio da ExC Rio, espaço para festas dentro Jockey Club, no Rio, tem o mesmo diagnóstico:

— O social voltou com intensidade. Com isso, as pessoas estão diversificando as datas e aceitando casar durante a semana, na sexta e no domingo, o que não era comum.

Para Carol Sampaio, sócia da CS Eventos, o mercado aquecido aumenta a confiança das marcas em viabilizar patrocínios, o que gera mais oportunidades no setor:

— Produção, com congressos e eventos para empresas, vêm com força. No cerimonial, temos ao menos dois fins de semana por mês cheios até dezembro — diz a promoter e empresária, contando que muita gente que adiou festas quer celebrar agora em grande estilo.

 João Curvelo decora casamentos no litoral alagoano: flores caras — Foto: Acervo pessoal
João Curvelo decora casamentos no litoral alagoano: flores caras — Foto: Acervo pessoal

Um exemplo desse espírito foi a festa de três dias na Bahia — com direito a show de Ivete Sangalo — que a decoradora e cerimonialista da Sal Grosso Evento, Ticiana Szapiro, organizou para um cliente.

Ele pediu uma celebração épica para comemorar de uma só vez seus aniversários de 39, 40 e 41 anos, inviabilizados pela pandemia. Entre remarcações e novos eventos, Ticiana diz ter poucos fins de semana livres na empresa, mas sofre com a falta de gente nos bastidores:

— Perdemos fornecedores e gente qualificada, e não temos tempo de treinar. Mesmo sem mão de obra, os parceiros estão pegando muitos trabalhos para pagar o que ficaram devendo na pandemia, o que deixa algumas lacunas.

A chef Malu Mello conta que a demanda em sua empresa de catering dobrou nos últimos quatro meses para eventos corporativos, mas ela destaca também os reencontros.

Fabrício Granito, CEO do Grupo Hel, diz que faltam espaços para o segundo semestre  — Foto: Divulgação
Fabrício Granito, CEO do Grupo Hel, diz que faltam espaços para o segundo semestre — Foto: Divulgação

— Um modelo que surgiu é o encontro de colegas na casa de alguém. Não é aniversário nem reunião, mas um encontro mais casual — diz a empresária, que está com encomendas fechadas até o fim de julho.

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O decorador João Curvelo aponta outra tendência no pós-pandemia: o destination wedding, nome em inglês para casamentos realizados fora da cidade dos noivos e convidados. Neste formato que combina celebração e turismo, familiares e amigos participam da cerimônia e de outras festas em cerca de três dias.

Novos modelos de festas

Rústico, charmoso e belíssimo, São Miguel dos Milagres, no litoral de Alagoas, virou um dos destinos preferidos. Curvelo diz que esse deslocamento das festas para a região evidenciou, nos preços, a falta de fornecedores como floristas:

— A produção caiu muito e os preços aumentaram. Um maço de rosa que eu conseguia entre R$ 15 e 20, hoje chega a custar R$ 120.

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