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Por Rennan Setti, Letycia Cardoso e Ivan Martínez-vargas — Rio e São Paulo

Escolhido em agosto para dirigir a Americanas, uma das maiores varejistas do país, a partir deste mês, Sergio Rial decidiu renunciar após permanecer apenas dez dias no cargo. Ele decidiu deixar a varejista ontem, depois de ter sido descoberta uma “inconsistência” contábil no balanço da companhia da ordem de R$ 20 bilhões.

A revelação do rombo levou a uma queda de mais de 77% das ações da empresa em um só dia, a maior na Bolsa brasileira desde 2008. A companhia perdeu mais de R$ 8 bi em valor de mercado nesta sexta, após a revelação do rombo bilionário.

Rombo de R$ 20 bilhões na Americanas assusta investidores

O anúncio feito pela empresa no início da noite de quarta-feira, após o fechamento da Bolsa, caiu como uma bomba entre os investidores, que alimentavam alta expectativa sobre a capacidade de Rial, um dos executivos de maior prestígio no país, de promover uma forte reestruturação na Americanas, um ano e meio depois da fusão da rede de lojas com seu braço de comércio eletrônico, a B2W.

Em teleconferência com investidores na manhã desta quinta-feira, Rial disse teve que fazer "uma escolha de Sofia: Eu falo ou não?"

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Sergio Rial renuncia após achar rombo na Americanas

A saída dele é uma grande frustração para o mercado e deve se refletir na cotação das ações da empresa na Bolsa hoje, embora Rial tenha marcado uma entrevista coletiva para a manhã desta quinta-feira para explicar melhor os sinais de rombo financeiro. Na quarta-feira, antes de ser anunciada a saída de Rial, as ações da Americanas (AMER3) fecharam com alta de 0,76%, a R$ 12

Sergio Rial renuncia ao comando da Americanas após achar rombo de R$ 20 bilhões — Foto: Silvia Constanti/Valor
Sergio Rial renuncia ao comando da Americanas após achar rombo de R$ 20 bilhões — Foto: Silvia Constanti/Valor

Como aconteceu o rombo de R$ 20 bi na Americanas?

Embora não estejam claros os detalhes das falhas contábeis, a companhia informou que o valor se refere a empréstimos para compras junto a fornecedores que não foram reportados da maneira adequada no balanço. Um comitê independente vai apurar o rombo.

Revelação de rombo na Americanas prenuncia escândalo

A detecção do problema prenuncia um escândalo em uma das maiores varejistas da América Latina e deve comprometer a recuperação de um papel que acumula perda de quase 60% em um ano na Bolsa.

As inconsistências também são um revés para a imagem do trio de bilionários da 3G Capital — Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles —, que controlaram o negócio por quatro décadas (até o ano passado) e ainda são os acionistas de referência da Americanas. Além disso, devem gerar questionamentos sobre o trabalho da PwC, auditora das contas da Americanas.

Ex-CEO do Santander Brasil (cujo conselho ainda preside), Sergio Rial foi anunciado como o substituto do então CEO da Americanas Miguel Gutierrez em agosto passado. O objetivo da primeira troca de comando em 20 anos era promover uma ampla reestruturação.

Lemann, Telles e Sicupira são os principais acionistas da Americanas, por meio de vários veículos de investimento — Foto: Divulgação
Lemann, Telles e Sicupira são os principais acionistas da Americanas, por meio de vários veículos de investimento — Foto: Divulgação

O anúncio da chegada de Rial foi muito bem recebido pelo mercado, chegando a provocar valorização de mais de 20% dos papéis num só dia.

Acompanhou Rial em sua decisão de renunciar o novo diretor de Relações com Investidores (RI), André Covre, que havia tomado posse em 2 de janeiro. O conselho da Americanas nomeou interinamente o diretor de Recursos Humanos, João Guerra, como presidente e diretor de RI. Segundo a Americanas, o executivo não estava “envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira.”

A companhia informou que as inconsistências foram encontradas “em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores”, inclusive o do ano de 2022. A empresa disse que operações de financiamento de compras feitas junto a bancos simplesmente não aparecem no último balanço como deveriam.

— O fato relevante da empresa é pouco claro. Não sabemos, porém, a razão das inconsistências, se para reforçar seu caixa com taxa menor ou por outro motivo. De qualquer forma, inconsistência é eufemismo. Houve fraude — analisou Renato Chaves, especialista em governança corporativa.

Posição 'sólida' de caixa

Segundo a Americanas, não é possível determinar os impactos das inconsistências em suas demonstrações financeiras e seu balanço patrimonial. Em referência ao trio da 3G, a empresa disse que “os acionistas de referência da Americanas, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos, informaram ao Conselho de Administração que pretendem continuar suportando a companhia.”

Rial atuará como assessor do trio da 3G no processo. Nesta quinta-feira, ele fará teleconferência, organizada pelo BTG Pactual, para explicar a situação a investidores.

Aplicativo de e-commerce da Americanas: rede física se fundiu à operação digital em 2021 — Foto: Divulgação
Aplicativo de e-commerce da Americanas: rede física se fundiu à operação digital em 2021 — Foto: Divulgação

Na noite de quarta-feira, Rial enviou um comunicado aos funcionários no qual reitera que “os lançamentos contábeis inconsistentes” que o levaram a renunciar “precisam ser agora corrigidos” e que “não está certo ainda a quais anos esses ajustes se referem, mas sabemos que não só dizem respeito ao ano de 2022”. O fato relevante diz que os R$ 20 bilhões em inconsistências são resultado de análise preliminar.

Dois funcionários da empresa confirmaram ao GLOBO que receberam o documento. Assinado por Rial, o texto reitera que “a empresa mostra sinais claros de retomada de vendas” e que “a posição de caixa é sólida”.

Rombo de R$ 20 bi na Americanas é classificado como 'Show de horror'

Reservadamente, um gestor de investimentos classificou a revelação do rombo de “show de horror” e previu que a notícia terá impacto negativo substancial nos papéis da Americanas.

Nas palavras dele, vai colocar a empresa “no corner”, pois são R$ 20 bilhões a mais de capital de giro, o que vai fazer com que sua alavancagem fique estourada. Na avaliação desse gestor, que pediu para não ser identificado, mesmo sem um efeito-caixa imediato, ninguém vai querer dar mais dívida para a empresa e ela corre risco de precisar de um aumento de capital.

Fernando Siqueira, da Guide, concorda que a companhia pode ser obrigada a levantar capital. Com o acréscimo dos R$ 20 bilhões , o valor da alavancagem (montante total de empréstimos) supera muito o que estava previsto anteriormente no balanço:

— Então, a capitalização, com a emissão de novas ações, será necessária para pagara dívida. É processo complexo.

Lucas Lima, analista da VG Research, observou que o valor do rombo “é extremamente elevado, sendo basicamente valor de mercado de empresas como Magazine Luiza e Lojas Renner.”

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Sergio Rial construiu sólida reputação

Ex-CEO do Santander Brasil (do qual ainda é o presidente do Conselho de Administração), Sergio Rial foi anunciado como o substituto do então CEO da Americanas Miguel Gutierrez em agosto do ano passado, mas o que seria a primeira troca de comando em 20 anos em uma das principais varejistas do país foi marcada para 1º de janeiro de 2023.

Entre o anúncio e a posse, há apenas dez dias, Rial se dedicou a visitar lojas e áreas operacionais da companhia, segundo chegou a relatar em sua conta no LinkedIn. Em dezembro, chegou a publicar na rede social um recado para seus futuros comandados na Americanas sobre sua disposição para reestruturar a empresa e enfrentar rivais.

Sergio Rial, em evento do jornal Valor Econômico — Foto: Silvia Constanti/Valor
Sergio Rial, em evento do jornal Valor Econômico — Foto: Silvia Constanti/Valor

O executivo foi escolhido em um cuidadoso processo de seleção que durou meses, segundo informou a varejista na época. Havia a expectativa no mercado de que ele agregaria expertise financeira à companhia, particularmente por meio da fintech do grupo, a Ame.

Rial construiu uma sólida reputação em sua carreira e costuma defender a transparência das empresas de capital aberto com investidores, analistas e clientes. Além do conselho do Santander — onde seu trabalho como CEO foi marcado por um reposicionamento do banco no relacionamento com clientes para enfrentar a concorrência com fintechs e o investimento na área de experiência do consumidor — ele é membro dos colegiados da Vibra (ex-BR Distribuidora) e da BRF. Também já atuou no frigorífico Marfrig.

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