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Por Letycia Cardoso — Rio

No segundo semestre de 2022, de acordo com documentos publicados pela própria Americanas em seu portal de relacionamento com investidores, antes das “inconsistências” de R$ 20 bilhões no balanço da empresa serem informados pela nova gestão, diretores da companhia venderam mais de R$ 210 milhões em ações da empresa.

O ex-CEO da Americanas, Sergio Rial, que renunciou após nove dias no cargo e revelou a discrepância de R$ 20 bilhões no balanço da companhia, informou a investidores que a empresa terá que republicar resultados financeiros de trimestres anteriores. E que a prática contábil que originou o problema de R$ 20 bilhões, conhecida no mercado como "risco sacado", era usada há muito tempo, remontando talvez a até 10 anos.

Após o problema vir à tona, analistas do mercado viram com ressalvas os dados de venda de ações por diretores da Americanas nos últimos meses.

— A diretoria vendeu muitos papéis da própria empresa. Isso nos faz crer que era algo que sabiam e não reportaram. Além disso, na call (videoconferência feita com investidores), Rial deixou escapar que talvez não existisse uma vontade dos administradores de falar sobre o problema — observa Pedro Menin, sócio-fundador da casa de análise financeira Quantzed.

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Para João Frota, estrategista em renda variável da Senso Corretora, a hipótese de que o erro contábil tenha ocorrido por uma década, como disse Rial, enfraquece a tese de que se tratava apenas de um possível deslize no balanço. Victor Bueno, analista da Nord Research, ressalta que o fato de a inconsistência não ser algo isolado preocupa:

— Isso já vem sendo contabilizado há vários anos. É muito cedo para falar de fraude contábil, mas como não apareceu antes, para membros da empresa ou para a auditoria?

A Moat Capital, gestora com sede em São Paulo e que tinha cerca de 2,86% do capital de Americanas (25,8 milhões de ações) em setembro do ano passado, segundo a Bloomberg, disse ao GLOBO ter sido surpreendida pelo fato relevante da companhia.

“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir e resguardar nossos direitos como acionista minoritário e em defesa dos nossos investidores”, declarou em nota.

Os documentos publicados no portal de relacionamento com investidores da Americanas que mostra a venda das ações não especifica os nomes da diretoria que fizeram essas operações.

Procurada, a Americanas não respondeu sobre essa negociação de papéis. O GLOBO não conseguiu contato com os ex-executivos da empresa.

Além do erro no balanço, a forma de conduzir a crise é mais um problema pelo qual a companhia deve ter que responder.

Segundo analistas, a realização de uma videoconferência com o ex-CEO da empresa, Sergio Rial, antes de a Bolsa abrir, às 9 horas da manhã na quinta-feira, exclusiva a um grupo de investidores e em detrimento de outros, configura falta de isonomia na informação, já que os demais só tiveram acesso aos esclarecimentos à tarde.

Após ter deixado o cargo de CEO, Rial segue assessorando os acionistas de referência da empresa, a 3G Capital, segundo ele próprio informou.

Na quinta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, que regula o mercado de capitais brasileiro) abriu dois processos contra a Americanas para obter explicações a respeito das informações contábeis, dos fatos relevantes e dos comunicados emitidos pela empresa.

O BNDES, um dos credores da empresa, informou ter duas operações ativas com a Americanas, mas não está exposto a risco pois há fiança bancária como garantia. Ainda assim, pedirá esclarecimentos.

Correção: Uma primeira versão desta reportagem informava que haveria indícios de que os sócios majoritários tinham ideia da inconsistência contábil. O texto foi editado para deixar claro que a venda de ações foi feita por acionistas que tinham posição majoritária no comando da empresa, ou seja, pela diretoria.

Mais recente Próxima Crise na Americanas: Entregas vão atrasar? Cashback do Ame pode mudar? Como fica o BBB?
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