Negócios
PUBLICIDADE

Por Bloomberg

Há apenas nove dias no cargo, o CEO da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil, renunciou ao cargo na quarta-feira à noite, depois de ter sido descoberta uma “inconsistência” contábil no balanço da companhia da ordem de R$ 20 bilhões.

A revelação do rombo levou a uma queda de mais de 77% das ações da empresa, a maior na Bolsa brasileira desde 2008.

Mas o que aconteceu com esses R$ 20 bilhões? Qual é essa “inconsistência”? Como isso ocorreu numa empresa que tem como acionistas de referência a 3G Capital, do badalado trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles?

Afinal, a cifra é gigantesca. Para se ter ideia, no último balanço financeiro da Americanas, de setembro, a empresa informou ter R$ 47 bilhões em ativos e patrimônio líquido de R$ 14 bilhões.

Nesta quinta-feira, em vídeo divulgado a investidores, o agora ex-CEO Sergio Rial disse que a companhia tem dívida bruta entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões, contra um caixa entre R$ 8 bilhões e 9 bilhões. Já o patrimônio líquido, segundo ele, é de R$ 16 bilhões.

O comunicado enviado pela empresa ao mercado não deixa claro o que aconteceu. Mas fontes ouvidas pela agência de notícias Bloomberg afirmam que muito provavelmente os R$ 20 bilhões são originários de uma operação conhecida no jargão financeiro como forfait, muito comum em empresas de varejo, e que deveria ter sido registrada como dívida no balanço contábil.

O forfait - também conhecido como "risco sacado" - funciona da seguinte maneira: a companhia tem uma dívida a pagar, por exemplo, com a compra de mercadorias. E faz um acordo com o banco que a financiou para que este libere o dinheiro primeiro para o fornecedor. Então, na sequência, a varejista quita a dívida com o banco, pagando juros pelo prazo do empréstimo.

É uma maneira de o banco financiar a empresa, enquanto a varejista, na prática, paga o fornecedor em dinheiro, possivelmente com um desconto.

O problema, afirmou um gestor que não quis ser identificado, é que, aparentemente, "essa quantia (em forfait) foi subestimada por anos, ou não foi registrada no balanço da forma correta. E ainda há dúvidas sobre o tamanho real desse problema."

Ter lançado os R$ 20 bilhões de maneira indevida no balanço financeiro pode não representar um impacto direto na reserva de caixa da empresa – o valor da dívida apenas “migraria” de uma linha contábil para outra, de Fornecedores para Empréstimos e financiamentos.

Mas há outros efeitos. Tornar explícito o valor em forfait pode mudar os parâmetros de endividamento da empresa e, consequentemente, as informações que a varejista apresentou ao obter crédito no mercado, as chamadas covenants, ou garantias. Isso pode ser o gatilho para que credores peçam a antecipação do pagamento das dívidas.

- O texto do comunicado (divulgado pela empresa ao mercado) não está totalmente claro, mas indica que esse montante (os R$ 20 bilhões) foi classificado como dívida junto a fornecedores e não como dívida sujeita a pagamento de juros – afirma um ex-diretor financeiro de uma varejista.

Houve fraude?

Outro gestor que acompanha de perto o setor acrescentou que há outras “opções contábeis” no balanço de varejistas, o que justificaria as inconsistências sem necessariamente ter havido uma fraude.

Mas ele ressalta que o tamanho dessa “inconsistência” (R$ 20 bilhões) e o susto da nova administração, “que claramente não quer levar a responsabilidade estatutária pelo que vem a seguir”, colocam a empresa sob enorme pressão.

No último dia 3 de janeiro, logo após assumir o cargo, Rial fez uma live com 40 mil empregados da empresa, na qual destacou suas expectativas positivas.

- Claramente ele não tinha ideia deste terremoto – disse uma fonte familiarizada com o tema. - O problema veio à tona a partir de uma queixa do comitê de auditoria – informa a fonte.

A empresa não quis comentar sobre esse tema.

Para além dos R$ 20 bilhões a esclarecer, a saída de Rial e do diretor financeiro da empresa, André Covre, que também assumiu este ano, será um duro golpe para a Americanas. Só este ano, as ações da companhia haviam subido 24,35% até quarta-feira, na expectativa de que a nova gestão daria uma guinada na empresa. Investidores de peso, como BlackRock, compraram ações da Americanas nessa onda de otimismo.

Possível aporte e caso para uma 'class action'

Por isso, a renúncia de Rial e o problema de R$ 20 bilhões que veio à tona agora devem cair como uma bomba no mercado. Para tentar aplacar os temores dos investidores, a 3G Capital - fundo de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles que controlou a Americanas por quatro décadas e hoje é acionista de referência da companhia - informou ao mercado que pretende "continuar apoiando a companhia".

Em português claro, para gestores que acompanham a crise, isso significa que Lemann, Sicupira e Telles muito provavelmente terão de pôr a mão no bolso e injetar dinheiro na companhia para estancar a crise. A necessidade de uma injeção de capital está sendo analisada por dois grandes fundos equity.

Analistas também querem saber se a empresa vai conseguir novas linhas de crédito no mercado. E dão como certo que a auditoria externa que revisou os últimos balanços da empresa - no caso, a PwC - será alvo de questionamentos, assim como os responsáveis, dentro da Americanas, por chancelar os números.

- Nos Estados Unidos, este seria um caso para class action (ação apresentada por investidores à Justiça para pedir reparação por danos financeiros). No Brasil, o escrutínio ficará a cargo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) - explica um gestor.

Webstories
Mais recente Próxima 'Eu tive uma escolha de Sofia: Eu falo ou não?', diz ex-CEO da Americanas sobre rombo de R$ 20 bi
Mais do Globo

Casal teria retomado acordo milionário com serviço de streaming pra realizar novo documentário sobre realeza britânica

'Em pânico': família real teme novo projeto de príncipe Harry e Meghan Markle, diz site; entenda

Idade avançada continua sendo motivo de preocupação para seus colegas exilados, que temem que Pequim nomeie um sucessor rival para reforçar seu controle sobre o Tibete

Dalai Lama diz que está em bom estado de saúde após cirurgia nos Estados Unidos

Mikel Merino deu a volta na bandeira de escanteio para homenagear o genitor após selar a vitória espanhola na prorrogação

Pai de 'herói' da Espanha na Eurocopa marcou gol decisivo contra alemães no mesmo estádio há 32 anos; compare

Com os criminosos foram apreendidos drogas, dinheiro, máquina de cartão de crédito e diversos celulares roubados

Polícia Civil prende em flagrante três homens por tráfico e desarticula ponto de venda de drogas no Centro

Sem citar caso das joias, ex-presidente citou ‘questões que atrapalham’ e criticou a imprensa

Após indiciamento por joias, Bolsonaro é aplaudido em evento conservador ao dizer estar pronto para ser sabatinado sobre qualquer assunto

Embora Masoud Pezeshkian tenha sido eleito com a defesa do diálogo com nações ocidentais, decisões sobre política externa ou nuclear permanecem sob aiatolá Ali Khamenei

Vitória de candidato moderado no Irã pode aliviar, mas tensões nucleares não vão acabar, dizem analistas

Notícia foi dada pelo neto, Fidel Antonio Castro Smirnov

Morre Mirta Díaz-Balart, primeira mulher de Fidel Castro e mãe de um de seus filhos

Mãe da filha caçula do compositor, Claudia Faissol afirma ter sido companheira dele entre 2006 e 2017

Herança de João Gilberto: jornalista pede à Justiça reconhecimento de união estável com o gênio da Bossa Nova