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Por Vitor da Costa — Rio

As ações da Light desabaram mais de 14% nesta terça-feira, sendo cotadas a menos de R$ 3. O movimento ocorreu após o colunista Lauro Jardim noticiar a possibilidade da empresa entrar com pedido de recuparação judicial.

A tendência de baixa não é novidade. As incertezas diante da proximidade do fim da concessão, o nível de perdas elevado na operação e a dificuldade vista no mercado para a empresa rolar suas dívidas estão entre os fatores que pressionam o ativo há alguns meses.

Os papéis ordinários (LIGT3, com direito a voto) caíram 14,19%, negociados a R$ 2,66. Neste ano, os papéis da empresa já acumulam perda de 42,55%, após derreterem cerca de 60% no ano passado.

Em janeiro, a Light anunciou a contratação da Laplace Finanças para ajudar a companhia na busca por “estratégias financeiras, visando, principalmente, a apresentar melhorias em sua estrutura de capital”. A informação foi antecipada pelo colunista Lauro Jardim. No passado recente, a Laplace assessorou a Oi durante seu processo de recuperação judicial.

Para analistas do setor elétrico, as dificuldades impostas pela área onde a distribuidora opera, na cidade do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense, pressionam os números da empresa.

Furtos e inadimplência elevados

Como explica o analista do setor elétrico do UBS BB, Giuliano Ajeje, existem as perdas técnicas, naturais da operação das empresas, e as não técnicas, onde são incluídos os furtos de energia.

Os furtos sempre foram um desafio para a Light. Nesse sentido, o valor da tarifa não contempla o quanto a empresa perde com os furtos de energia, o que acaba afetando o caixa da companhia.

- Pelo fato de você ter uma diferença muito grande entre o que a empresa tem entregue em termos de perdas não técnicas e aquilo que está na tarifa, a geração de caixa da empresa é muito menor do que o número regulatório. Se a minha concessão tem um custo maior do que o que está considerado na tarifa, significa que você está usando dinheiro que iria para o acionista para pagar a operação.

O cenário macroeconômico, marcado por um aumento da inadimplência, também é um fator de pressão. O analista chefe da VG Research, Luan Alves, estima que a empresa perca R$ 800 milhões por ano devido aos furtos de energia e inadimplência.

- A Light possui problemas muito peculiares, com os índices de furtos de energia e inadimplência em patamares elevados. Ela precisa de uma reestruturação financeira, o que por si só aumenta o risco de investimento na companhia e explica as quedas recentes. A Light provavelmente está tendo dificuldade de rolar as suas dívidas – disse Alves, destacando que mesmo com a passagem de vários CEOs bem avaliados, a empresa não consegue reduzir o impacto dos furtos.

No terceiro trimestre de 2022, a Light reportou aumento da sua dívida bruta, que totalizou cerca de R$ 12,8 bilhões.

Devolução de PIS/Cofins

O endividamento líquido, que subtrai da dívida bruta as disponibilidades em caixa, encerrou o período em R$ 8,7 bilhões, aumento de 21% na base anual. O prazo médio é de 2,9 anos a um custo nominal atual de 13,7% ao ano.

Além das perdas, que prejudicam a receita, analistas da XP destacam, em relatório, que houve aprovação por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que a Light devolvesse créditos fiscais relacionados à cobrança indevida de PIS/Cofins dos consumidores finais.

Como destaca o relatório, a companhia começou a devolver os créditos em 2021. No reajuste daquele ano, foram devolvidos R$ 374,2 milhões e, no de 2022, R$ 1,05 bilhão no reajuste de 2022. Em 2023, há montante expressivo a ser ressarcido aos clientes, segundo os analistas. A devolução é realizada através de desconto nas tarifas, o que afeta diretamente o faturamento da Light.

O analista de energia na Genial Investimentos, Vitor Sousa, acrescenta que o patamar elevado dos juros no país, e que deve demorar a cair, aumenta o custo da dívida em um momento de desaceleração econômica.

Nesse sentido, as dúvidas sobre o que vai acontecer com a concessão da companhia, que termina em 2026, dificultam a rolagem dessa dívida.

- O custo da dívida começou a consumir muito da geração de caixa da empresa. Ela tem uma dívida que, por ora, é pagável, mas fica essa indecisão sobre a concessão – disse Sousa.

Renovação antecipada da concessão

Ajeje, do UBS BB, explica que a empresa que deseja renovar a concessão precisa sinalizar essa intenção até 36 meses antes do vencimento do contrato e que, pela regra, há a possibilidade de prorrogação por igual período a critério do poder concedente, que ainda não é conhecido.

O analista afirma que ainda há incertezas sobre a renovação e que a contratação de um assessor que auxilie na tomada de decisões, como o caso da Laplace, pode ajudar nesse processo.

O cenário base do UBS BB é que a empresa não renove a concessão e haja uma nova licitação. Nesse cenário, a Light teria cerca de R$ 10 bilhões a receber referentes a ativos nos quais investiu e que ainda não foram depreciados.

- A escolha pela relicitação não é trivial. Muitas vezes, eles vão precisar de alguém para pensar e a Light não tem tido uma geração de caixa eficiente. A contratação de um player como a Laplace pode ajudar nessa decisão – disse.

Para os analistas da XP, o consenso no mercado é de que a Light precisa negociar com a Aneel a renovação antecipada da concessão, dando assim maior segurança aos acionistas e credores.

Metas mais realistas de perdas

Mas para isso, eles entendem ser prudente uma revisão no contrato e a criação de metas mais realistas de perdas, dada a área de concessão complexa.

Na avaliação da XP, a reação do mercado à contratação da Laplace pode ter sido acentuada pelos acontecimentos recentes envolvendo a Americanas, cujo caso elevou a percepção de risco dos investidores.

Para os analistas, o fato da Light possuir como sócio Carlos Alberto Sicupira, sócio do 3G Capital e que está envolvido no episódio das inconsistências contábeis da varejista, pode até trazer desconfiança para o mercado, mas eles ponderam que as situações são bem diferentes.

Além do segmento de atuação, Sicupira tem uma porcentagem menor no negócio e a Light é uma corporation, ou seja, tem controle difuso.

Agências de risco rebaixam nota da empresa

Nos últimos dias, a empresa teve suas notas rebaixadas por agências de risco como a Fitch, Moody’s e a S&P. A elevada necessidade de refinanciamento, a alavancagem moderada e as incertezas sobre o futuro da concessão são alguns das justificativas apresentadas pelas agências.

A analista para o setor elétrico da Levante Investimentos, Nelly Colnaghi, ressalta que outra dificuldade para a Light é o fato da empresa não conseguir diversificar os riscos como outros grandes players do setor elétrico fazem, já que não possui diversificação em suas áreas e segmentos de atuação.

- Em momentos de maior incerteza, nos quais investidores comumente buscam em ativos de utilities maior previsibilidade e proteção, papeis de outras empresas do setor tendem a ser selecionadas, pressionando assim os da Light.

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