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Por New York Times

Shoichiro Toyoda, que comandou a gigante automotiva Toyota quando a empresa expandiu sua produção para os Estados Unidos e fez da montadora líder global do setor e sinônimo de carro de qualidade, morreu nesta terça-feira, aos 97 anos.

Segundo comunicado da empresa, a causa da morte foi falência cardíaca.

Em apenas uma década no comando da Toyota, o executivo usou seus talentos como engenheiro, gestor, político e diplomata para colocar a empresa fundada pelo seu pai na rota para se tornar líder global da indústria automobilística, desbancando a americana General Motors do posto de maior montadora do mundo.

Os feitos são ainda mais impressionantes levando-se em conta que Toyoda assumiu a companhia em 1982, no auge das tensões comerciais entre Japão e Estados Unidos. Na época, americanos vinham a ascensão da cada vez mais sofisticada indústria automobilística japonesa com assombro e temiam ver os EUA superado pelo Japão como maior potência econômica global.

Apesar desse clima hostil aos japoneses nos EUA, Toyoda firmou uma aliança com a General Motors em 1984 para levar aos EUA carros da marca. E, em 1988, inaugurou a primeira fábrica da montadora japonesa em território americano, no Kentucky, cedendo às crescentes pressões para que os veículos fossem produzidos nos EUA.

O empresário Shoichiro Toyoda, que liderou a expansão da Toyota pelo mundo — Foto: Reprodução
O empresário Shoichiro Toyoda, que liderou a expansão da Toyota pelo mundo — Foto: Reprodução

Ao fim de seu mandato, a Toyota tinha operações em vários outros países e havia se tornado uma empresa global.

Ele tinha uma abordagem pragmática para lidar com as tensões entre EUA e Japão, na época a primeira e a segunda maiores economias do mundo. Toyoda argumentava que se Japão queria ter uma ascensão, o país precisaria se esforçar para se integrar com seus concorrentes, uma mensagem que se tornou parte da filosofia corporativa da Toyota.

Após deixar a presidência da Toyota, ele se tornou, em 1994, diretor do mais influente coalizão empresarial japonesa, atuando politicamente nos esforços do país em lidar com a estagnação econômica dos anos 1990.

Shoichiro Toyoda, então CEO honorário da Toyota (à direita), o governador do Texas na ocasião, Rick Perry (centro) e o presidente da Toyota no Texas, Hidehiko "T.J." Tajima, plantam juntos uma árvore na cerimônia de inauguração de uma fábrica em San Antonio, em 2003 — Foto: Alicia Wagner Calzada/ Bloomberg News.
Shoichiro Toyoda, então CEO honorário da Toyota (à direita), o governador do Texas na ocasião, Rick Perry (centro) e o presidente da Toyota no Texas, Hidehiko "T.J." Tajima, plantam juntos uma árvore na cerimônia de inauguração de uma fábrica em San Antonio, em 2003 — Foto: Alicia Wagner Calzada/ Bloomberg News.

Poupado na Segunda Guerra

Shoichiro Toyoda nasceu em 27 de fevereiro de 1925 em Nagóia, uma cidade industrial e portuária da região central do Japão. Segundo de quatro filhos de Kiichiro e Hatako Toyoda, ele teve uma infância de privilégios.

Em 2014, em artigo no jornal japonês Nikkei Shimbun, Toyoda contou como seus colegas de escola zombaram quando ele contou que tomava café da manhã com uma empregada doméstica, luxo que só os japoneses ricos podiam pagar.

Seu pai fundou a Toyota em 1937, a partir de uma fábrica de tear automático da família criada pelo avô de Toyoda, Sakichi. O “d” no sobrenome foi mudado para “t” porque ficava melhor quando escrito em japonês.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Kiichiro Toyoda ingressou na Universidade de Nagoya. Ele foi preterido para o recrutamento de soldados porque sua graduação, em engenharia, era considerada vital para os esforços de guerra, segundo contou no artigo ao Nikkei.

Quando a guerra acabou, ele se matriculou em um programa de pós-graduação na Universidade de Tohoku e mais tarde, fez doutorado da Universidade de Nagoya.

Em 1950, a fábrica de teares do pai de Toyoda estava endividada e precisou se desmembrar em duas empresas, uma de produção, que Kiichiro Toyoda comandava, e outra de vendas. Mas após uma disputa trabalhista na Justiça, o pai de Toyoda precisou renunciar e, temporariamente, a empresa ficou sem um membro da família como presidente. Kiichiro Toyoda morreu pouco tempo depois.

De 'motor fraco' a sinônimo de carro de qualidade

Shoichiro Toyoda começou a trabalhar na fábrica da família aos 27 anos, como diretor do departamento de inspeção. No início de sua carreira, ele teve um papel fundamental na primeira incursão da Toyota nos Estados Unidos, assinando em 1957 a exportação do modelo Crown da empresa, após uma viagem de carro pela América que incluiu uma parada atrevida para foto em frente à sede da Ford em Detroit.

Mas os americanos rejeitaram o carro por conta do motor "fraco". Este primeiro fracasso o deixou “determinado a desenvolver um automóvel de passageiros de alta qualidade que teria bom desempenho em qualquer lugar do mundo”, escreveu no artigo de 2014.

Ele logo subiu na hierarquia da empresa, em parte porque era bom em engenharia e negócios, mas também pela influência familiar. Em 1982, quando as duas empresas do grupo - produção e vendas - foram reunificadas, ele já estava no topo. Na sequência, o Japão ultrapassou os EUA como a maior montadora do mundo.

Em 1992, quando Toyoda saiu do cargo, a Toyota tinha fábricas em 22 países — Foto: Reprodução
Em 1992, quando Toyoda saiu do cargo, a Toyota tinha fábricas em 22 países — Foto: Reprodução

Era um período de grandes perspectivas mas também de enormes riscos para a empresa. O Japão tinha acabado de ultrapassar os EUA como maior fabricante global de automóveis. Mas, com a inflação, o desemprego e um crescente sentimento protecionista assombrando os americanos, Tóquio e Washington fecharam o primeiro de muitos acordos para restringir as importações de carros japoneses nos EUA.

'Sal para inimigos'

Enquanto a Nissan e a Honda construíram fábricas nos EUA, Toyoda liderou a empresa em um acordo com a General Motors (GM), para ampliar as vendas no mercado americano. Mas a investida foi controversa. Em entrevista ao New York Times na época, um executivo disse que a parceria era mais como oferecer "sal aos inimigos", numa referência à tradição japonesa do período feudal, quando senhores de terra muitas vezes alimentavam súditos de territórios inimigos. A parceria com a GM, no entanto, atravessou vários anos e só acabou quando a montadora americana declarou falência, em 2009.

De perfil diplomático, Toyoda pressionava empresas japonesas a investir nas comunidades americanas onde tinham construído suas fábricas. Em um discurso em 1990, conclamou os industriais japoneses a "contribuir no mesmo nível que os americanos" em organizações de caridade dos EUA - e o governo japonês concedeu isenções fiscais às empresas que fizeram esse tipo de doação.

Os americanos se encantaram com o modelo Toyota de ultra eficiência na produção e nas linhas de montagem. Toyoda então lançou um centro de treinamento para gestão voltado para executivos americanos. Com medidas como essa e com concessões a Washington, ajudava a aliviar as tensões comerciais.

Em 1992, quando deixou o comando da empresa e seguiu para seu Conselho de Administração, a Toyota tinha fábricas em 22 países, e já se aproximava da General Motors como maior montadora do mundo. A liderança global foi enfim alcançada em 2008.

Em 1994, o Japão entrou em um período de estagnação, então Toyoda foi nomeado diretor do grupo de lobby empresarial Keidanren, onde passou quatro anos pressionando o país a reduzir as muitas regulamentações que ele via como travas ao crescimento econômico.

Em 1999, ele deixou a presidência do Conselho de Administração da Toyota e se tornou presidente honorário vitalício da montadora, continuando a influenciar os rumos da empresa.

Ao refletir sobre sua longa carreira no artigo de 2014, Toyoda escreveu:

"Trabalhei de forma obstinada para acrescentar ao menos algumas linhas novas aos livros de história sobre a indústria automobilística"

Toyoda deixa mulher, Hiroko, com quem se casou em 1952, seu filho Akio e sua filha Atsuko.

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