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Por João Sorima Neto — São Paulo

O brasileiro incorporou à rotina os versos de um antigo hit na voz de Ivete Sangalo: “Quer andar de carro velho, amor? Que venha, pois eu sei que amar a pé, amor, é lenha”. No primeiro trimestre, as vendas de veículos usados no país somaram 3,3 milhões de unidades, segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).

Isso equivale a sete vezes o volume de automóveis novos no mesmo período, que ficou em 471 mil, de acordo com o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), sistema que cobre o emplacamento em todo o Brasil.

Historicamente, as vendas de carros usados são maiores do que a dos zero quilômetro, mas o cenário de aperto de crédito, juros altos, fim dos carros populares mais em conta e alta do preço dos novos ampliou a diferença nos últimos anos.

— No Brasil, para cada carro zero quilômetro eram vendidos três usados. Mas, na última década, essa diferença foi crescendo e hoje para cada carro novo são vendidos quase sete seminovos e usados. Em março, tivemos uma média diária de vendas de usados de 57 mil unidades por dia, frente a 52 mil em fevereiro. É um ritmo muito forte que deve totalizar 15 milhões de unidades este ano, mesmo patamar recorde de 2021 — conta Enilson Sales, presidente da Fenauto.

Só para comparação, em março, a média de vendas diárias de zero quilômetro foi de 8,6 mil. No mês passado, foram vendidos 1,3 milhão de veículos usados, incluindo carros de passeio, comerciais, ônibus e caminhões, crescimento de 32% em relação a fevereiro.

Entre os carros novos, as vendas chegaram a quase 199 mil unidades, puxadas pela chamada venda direta, quando frotistas e fabricantes negociam diretamente.

No ano passado, por exemplo, as locadoras foram responsáveis por 30,1% das vendas diretas de automóveis e comerciais leves, adquirindo 590 mil unidades. O país terminou 2022 com 1,9 milhão de automóveis e comerciais leves vendidos, uma queda de 0,8% em relação a 2021.

Sales observa que a partir de 2015, os veículos populares, chamados de entrada, começaram a ficar mais escassos no cardápio das montadoras, que começaram a priorizar veículos com maior tecnologia embarcada, e mais caros, o que garante melhores margens de lucro.

Esse cenário se agravou com a crise de componentes provocada pela pandemia, a partir de 2020, com a quebra da cadeia de fornecimento de componentes.

Havia filas de espera de até seis meses para carros novos e modelos usados chegaram a custar até mais caro que os zero quilômetros por causa da disponibilidade de compra. Hoje, essa inversão desapareceu. Um modelo Nivus Confortline 2023, zero quilômetro sai por R$ 127,3 mil no site da montadora Volkswagen, enquanto a versão 2021 é vendida por R$ 108,9 mil, no site do Mercado Livre.

O presidente da Fenauto lembra que o aumento do desemprego e a perda de renda, entre 2020 e 2022, por conta do fechamento da economia pela Covid-19, puseram ainda mais pressão de demanda nos usados.

Com juro alto e aperto de crédito, compra de veículo usado no 1º trimestre equivale a sete vezes o total de automóveis novos  — Foto: Marcia Foletto/Agência O Globo
Com juro alto e aperto de crédito, compra de veículo usado no 1º trimestre equivale a sete vezes o total de automóveis novos — Foto: Marcia Foletto/Agência O Globo

A busca pelos seminovos, nos últimos anos, acelerou o 'envelhecimento da frota' brasileira. O estudo mais recente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) mostra que em 2021, a idade média dos veículos em circulação no Brasil era de 10 anos e 3 meses, mesmo patamar de 1995.

Desde aquele ano, foram 18 anos de rejuvenescimento da frota, chegando a uma idade de 8,6 anos em 2013. Essa trajetória foi interrompida com o início da crise econômica de 2014 e se manteve até 2021.

Para o Sindipeças, a reversão do quadro de envelhecimento depende, entre outros, de políticas públicas para renovação de frota, incluindo a exigência da retirada de circulação de unidades mais antigas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta semana que o governo estuda um programa para renovar a frota de veículos, tirando de circulação os mais velhos e mais poluentes, numa ação a favor do meio ambiente.

O incentivo financeiro para a renovação da frota viria de um fundo alimentado por petroleiras, mas Haddad não deu detalhes. O governo já tem o Programa Renovar, que visa tirar de circulação os caminhões de mais de 30 anos de uso.

Ainda assim, o Brasil tem uma frota mais nova que a dos Estados Unidos, com média de 12 anos e 2 meses de idade, segundo o escritório de Estatísticas de Transporte dos EUA, mas perde para a frota chinesa, que tem 6 anos de idade na média, segundo a Ipsos consultoria, já que o país asiático tem um processo de industrialização automotiva mais recente.

A Anfavea vem apontando os juros altos e a falta de crédito como principais fatores de estagnação das vendas. Segundo o presidente da entidade, atualmente, apenas 30% das vendas são feitas no crédito, enquanto 70% são à vista, relação que normalmente é inversa.

— Há dois anos e meio, 70% das vendas do mercado eram a prazo. E 30% de suas vendas à vista. Agora, este mês, nós estamos vendendo 70% à vista e 30% a prazo. Isso significa que esse consumidor desapareceu e está indo para o mercado de (veículos) usados, e aqueles com mais de 10 anos de uso — disse Leite recentemente.

Antonio Jorge Martins, coordenador dos cursos da área automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV) lembra que as montadoras vêm priorizando a lucratividade, com a fabricação de modelos mais tecnológicos, e mais caros. Ou seja, produzem menos e ganham mais. E os preços subiram desde a pandemia e se mantiveram em patamar elevado.

— A estratégia é produzir menos e manter a lucratividade. Os preços dos zero quilômetros continuam elevados e as concessionárias estão melhorando as condições de pagamento, com prazos maiores de pagamento de até 36 meses - diz o especialista, lembrando que o atual cenário de juro elevados e crédito escasso prejudica tanto as vendas dos carros novos quanto dos usados.

Ele lembra que os efeitos colaterais de uma frota mais velha são mais acidentes e mais emissão de poluentes, especialmente de caminhões, num momento em que o mundo está em busca de alternativas de mobilidade menos agressivas ao meio ambiente.

Martins observa que o atual cenário mostra os desafios que a eletrificação da frota brasileira, com cerca de 60 milhões de veículos registrados, terá pela frente.

— Se o carro a combustão zero quilômetro já é caro atualmente, o preço do veículo elétrico fica mais distante do bolso do brasileiro — diz Martins, lembrando que um veículo de entrada elétrico não sai por menos de R$ 150 mil.

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