Negócios
PUBLICIDADE

Por Manoel Ventura e João Sorima Neto — Brasília e São Paulo

O Ministério da Fazenda finaliza nesta semana medidas para fazer com que empresas de e-commerce, especialmente as estrangeiras, paguem os tributos devidos e respeitem a legislação brasileira. A lista de ações será encaminhada para as varejistas, que poderão fazer a adesão a uma espécie de plano de conformidade.

Entre as medidas está a determinação para que o site indique o valor total da compra, já com os tributos incluídos. A plataforma de vendas também deve se comprometer a respeitar as leis brasileiras de proteção ao consumidor.

A participação no plano de conformidade será voluntária, mas o governo está confiante de que irá conseguir colher assinaturas das principais empresas do ramo. A plataforma de e-commerce que aderir também terá que preencher antecipadamente a declaração de remessa de um produto de fora vendido no Brasil e recolher o tributo devido.

A intenção do governo é que as empresas paguem o imposto de importação por meio de uma ferramenta on-line. Isso seria feito ainda no território de origem do produto e pago diretamente pela empresa. Assim, a mercadoria chegaria no Brasil já com os tributos pagos, o que facilitaria o desembaraço aduaneiro.

Análise do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que representa grandes varejistas nacionais, mostra que, se as plataformas pagarem o imposto devido, o potencial de arrecadação é de R$ 30 bilhões ao ano e não R$ 8 bilhões como estima a Fazenda.

Gestão de risco

Com esse dado em mãos, a Receita fará a gestão de risco enquanto o avião com as encomendas estiver a caminho do país. A ideia é que, antes de a mercadoria chegar ao Brasil, seja informado se o produto vai para o canal verde (onde é liberado e vai direto para a casa do comprador) ou para o vermelho (onde é fiscalizado pela Receita).

Atualmente, todas as remessas vão para um local de triagem, a maior parte delas em Curitiba. Com a nova sistemática, boa parte dos pacotes poderá ir direto para a casa do consumidor, chegando em menos tempo.

A ideia do plano de conformidade surgiu depois da polêmica criada pela intenção do governo de acabar com a isenção de imposto nas remessas de importados até US$ 50 de pessoa física para pessoa física. O presidente Lula mandou suspender a ideia depois da repercussão ruim.

SHEIN  vai produzir no Brasil — Foto: Bloomberg
SHEIN vai produzir no Brasil — Foto: Bloomberg

Integrantes da Fazenda ressaltam que não haverá aumento nem criação de tributos, porque o imposto já existe. Trata-se de um esforço para que os tributos de importação devidos sejam efetivamente pagos. Hoje, as compras feitas em comércio eletrônico devem ser tributadas em 60% (imposto de importação), independentemente do valor.

Algumas empresas, contudo, vêm fugindo do pagamento dos impostos com medidas que simulam uma operação entre pessoas físicas. Um dos mecanismos é fragmentar a entrega em diferentes pacotes (para uma mesma pessoa) para ficar abaixo do teto de US$ 50.

Auditores da Receita Federal também suspeitam que alguns vendedores estariam fornecendo informações falsas para sonegar tributos, como declarar o bem por valor inferior.

A equipe do ministro Fernando Haddad e ele pessoalmente conversaram com representantes das empresas asiáticas Shein, AliExpress e Shopee nas últimas semanas para que elas façam a adesão ao plano de conformidade. Embora o governo tenha evitado citar o nome das empresas, são elas os principais alvos das medidas.

Mas a Fazenda também manteve conversas e vai enviar o plano para outras companhias do ramo, como Amazon e Mercado Livre.

Potencial de R$ 30 bi, diz IDV

O governo tem dito que as empresas se comprometeram a não repassar o pagamento dos impostos para os consumidores, o que elevaria o preços dos produtos.

O presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho, diz que as medidas mostram que a Fazenda vem fazendo esforços para que os impostos já existentes sejam recolhidos.

Uma análise do IDV apresentada ao governo mostra que o potencial de arrecadação, se as plataformas pagarem o imposto devido, é de R$ 30 bilhões ao ano e não de R$ 8 bilhões, como diz a Fazenda.

Funcionários trabalham no Centro de Distribuição da Amazon, no Rio de Janeiro — Foto: Rebecca Maria / Agência O Globo
Funcionários trabalham no Centro de Distribuição da Amazon, no Rio de Janeiro — Foto: Rebecca Maria / Agência O Globo

— É claro que as importações podem diminuir e haverá um tempo para que as plataformas se adequem e essa cifra seja atingida — afirma Gonçalves Filho. — A medida que prevê a colocação do imposto no valor total da compra deverá acontecer de forma rápida, talvez em um prazo de três semanas, como nos sinalizou o ministério.

Gonçalves Filho afirma que a adequação à legislação de proteção ao consumidor é essencial. Ele observa que produtos importados por empresas nacionais recebem selo do Inmetro, da Abrinq (de fabricantes de brinquedos) e até da Anvisa, o que não acontece nas importações feitas pelas plataformas:

— Não está sendo pedido nada além do que é exigido de empresas brasileiras, que, se não certificam seus produtos, são multadas ou até suspensas.

Para Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em varejo, a capacidade de fiscalizar de fato será determinante para o sucesso das medidas. Ele lembra que atualmente o que se consegue controlar é apenas 2% do que transita pelos Correios, e defende que melhor seria tributar a transação financeira de compra:

— Muito melhor seria tributar a transação financeira, pois dessa forma não existe burla possível, ou fica muito restrita, pois esse sistema apenas excluiria o que fosse pago em dinheiro, que é uma parcela cada vez menor.

Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, consultoria de comércio internacional, acredita que, com a adesão ao plano de conformidade, a gestão de risco deve ser aprimorada:

— Para que isso funcione adequadamente, é necessário que o acordo de conformidade preveja penalidades ao vendedor em caso de falsa declaração de conteúdo.

Pizzamiglio diz que as mudanças podem encarecer os produtos, mas reduzir o tempo de entrega:

— Com as novas medidas, o usuário pagará os impostos no ato da compra e não será surpreendido.

Procuradas, AliExpress, Shopee e Shein não se pronunciaram até a publicação desta reportagem. A Amazon informou, em nota, que respeita a legislação local em todos os países em que está presente e seguirá dessa forma no Brasil, “agindo junto às autoridades locais para garantir a conveniência e confiabilidade que nossos clientes demandam”.

Webstories
Mais recente Próxima Cerco do governo aos importados nos sites de e-commerce pode gerar até R$ 30 bi em impostos, calcula varejo nacional
Mais do Globo

Big Techs se inspiram em filmes para criar vozes de máquinas reais com base em fantasias cinematográficas ultrapassadas

Desenvolvedores de IA criam vozes sintéticas baseadas em ideias antigas apresentadas por Hollywood; entenda

Livros trazem amores proibidos com pano de fundo de fantasia e questões de vida e morte

O feitiço da ‘romantasia’: conheça o filão editorial do momento, que une sexo e criaturas fantásticas

Cantora e compositora paulistana fará o primeiro show de 'Novela' (eleito pela APCA o quinto melhor álbum brasileiro do ano) neste sábado (13), no Circo Voador, Rio de Janeiro. Em entrevista ao GLOBO, ela fala sobre como venceu a timidez, da relação com os fãs, o trabalho e o Brasil

Céu estreia turnê e reflete sobre a carreira: 'Não sou panfletária. Sempre fiz mais música do que falei'

Em último jogo sem quarteto de uruguaios convocados para a Copa América, rubro-negro é superado pelo Fortaleza em segundo tropeço seguido em casa e deixa liderança do Brasileiro

Flamengo x Fortaleza: Fragilidade nas pontas e espaçamento no meio-campo sintetizam derrota; leia análise

Agenda

Idosa vive uma disputa judicial entre o marido e a família, que o acusa de violência doméstica e patrimonial

Polícia Civil pede ao MP que Regina Gonçalves seja cuidada por parentes e solicita distanciamento entre socialite e motorista

Herança dos povos que habitavam a costa do Brasil na época do descobrimento, peça deve ser exposta ao público pelo Museu Nacional em agosto

Ancião sagrado: manto Tupinambá, que foi devolvido ao Brasil pela Dinamarca, 'pediu' para ser trazido de volta; entenda

Três dos 66 passageiros dos dois veículos conseguiram escapar antes que eles caíssem no rio Trishuli

Mais de 60 estão desaparecidos após deslizamento de terra arrastar ônibus no Nepal; vídeos

Armas são invisíveis e silenciosas; relação entre países está cada vez mais tensa

Coreia do Sul vai usar lasers 'Star Wars' contra drones norte-coreanos