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aAs ações da Americanas fecharam em alta nesta terça-feira, após a empresa divulgar resultados preliminares da investigação independente que vem sendo feita sobre a fraude que abriu um rombo bilionário nas finanças da companhia.

O relatório, apresentando ontem ao Conselho de Administração da companhia, mostra um esquema de contratos sem a efetiva contratação de fornecedores e com participação dos diretores, incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez, como antecipou o colunista Lauro Jardim.

No fim do pregão, os papéis ordinários (AMER3, com direito a voto) subiram 6,03%, negociados a R$ 1,23. No pico da alta na Bolsa, os papéis alcançaram a máxima de R$ 1,38, valorização de 18,97%.

Os documentos analisados indicam que "as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior" e revelam "os esforços da diretoria anterior para ocultar do Conselho de Administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia".

Gutierrez comandou a Americanas por cerca de duas décadas e deixou a companhia no fim do ano passado, antes de o escândalo vir à tona. Além dele, a investigação indicou a participação de outros diretores, já afastados, na fraude. São eles:

  • Miguel Gutierrez, que deixou a companhia em 31 de dezembro de 2022.
  • José Timótheo de Barros, afastado de suas funções executivas em 3 de fevereiro de 2023 e que comunicou sua renúncia em 1º de maio de 2023.
  • Anna Christina Ramos Saicali, Márcio Cruz Meirelles, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes, também afastados em 3 de fevereiro de 2023.

Para o analista da Empiricus Research, Fernando Ferrer, o movimento das ações no pregão decorre do reconhecimento das fraudes pela companhia, além de ainda refletir as notícias de que os acionistas de referências da Americanas estariam dispostos a injetar até R$ 12 bilhões na companhia, conforme revelado pela Bloomberg.

Na véspera, as ações já tinham fechado em alta, a R$ 1,16.

Além disso, segundo a Bloomberg, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, concordaram provisoriamente em não vender ações da empresa por três anos.

Nesta terça-feira, a Americanas confirmou, em resposta a questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que, nas negociações que vem conduzindo com seus credores, um grupo solicitou a inclusão de um período de “lock-up” (cláusula contratual de bloqueio) para venda de ações da companhia pelos acionistas de referência.

“A abrangência desse lock-up ainda está em discussão no âmbito do acordo mais amplo”, destaca a empresa, no comunicado.

— Essa acusação formal da antiga diretoria pode ser vista positiva pelos investidores, pois poderia indicar que não é uma prática disseminada pela empresa, mas sim pontual de alguns diretores. E com essa diretoria toda afastada, isso poderia afastar esse problema e a empresa poderia colocar pessoas comprometidas a realizar o turnaround da companhia. O desempenho ainda tem relação com as notícias de que os três acionistas de referência estariam dispostos a injetar até R$ 12 bilhões na companhia — disse.

O analista da CM Capital, Pedro Canto, avalia que o movimento de alta forte no início do dia foi exagerado, dando espaço para o arrefecimento visto ao longo do pregão.

— São documentos preliminares ainda, mas o sentimento pode ser de página virada, de identificar quais foram os responsáveis e uma tentativa de tirar a responsabilidade dos acionistas de referência.

Canto destaca que o patamar atual do papel precifica o pior cenário para a empresa. Com isso, sinalizações sobre o andamento das negociações, como o aporte por parte dos acionistas de referência, podem gerar movimentos positivos para as ações. Desde janeiro, existia a cobrança por um maior aporte financeiro na companhia por parte dos acionistas de referência, o que não ocorreu na época.

— Qualquer notícia favorável nesse processo de negociação com os credores é boa. Mas não foi definido o acordo com os credores, a estrada ainda é longa, e há bastante coisa

Ferrer, pondera, no entanto, que nas condições atuais, o papel da Americanas tende a sofrer maiores oscilações pela pouca liquidez e baixa cotação. Desde o comunicado do rombo em janeiro, diversos investidores institucionais se desfizeram do ativo, que também deixou de fazer parte do principal índice da B3, o Ibovespa.

No ano, a Americanas acumula queda de 87,25%.

— Virou um call muito especulativo. A ação é cotada próximo a R$ 1 e tem pouca liquidez. Com isso, os investidores ficam à espera de novas informações e você tem uma variação muito grande do desempenho do papel.

Fraude por período 'significativo'

De acordo com o fato relevante, a fraude ocorreu por um período "significativo" e atingiu, em números preliminares e não auditados, o montante de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022.

Ainda segundo o comunicado, foram identificados diversos contratos de verba de "propaganda cooperada" e instrumentos similares (“VPC”), que teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da companhia.

Contratos fictícios

Esses contratos eram lançados em balanço como redutores de custo. Mas, segundo o relatório, não havia a efetiva contratação de fornecedores. Eles são incentivos comerciais comuns no setor de varejo.

O relatório explica a maneira como essas operações foram descriminadas nos balanços da companhia.

As contrapartidas contábeis para esses contratos "se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, R$ 17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022".

A diferença de R$ 4 bilhões teve como contrapartidas lançamentos contábeis em outras contas do ativo da companhia, diz o documento.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira são os fundadores da 3G Capital e acionistas da Americanas — Foto: Divulgação
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira são os fundadores da 3G Capital e acionistas da Americanas — Foto: Divulgação

Financiamentos de compras

A investigação apontou ainda que, como forma de gerar o caixa necessário para a continuidade das operações da Americanas, a diretoria anterior contratou uma série de financiamentos "sem as devidas aprovações societárias e todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial da companhia de 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores".

No relatório, a empresa detalha essas operações:

  • Operações de financiamento de compras (risco sacado, forfait ou confirming) de R$ 18,4 bilhões
  • Operações de financiamento de capital de giro de R$ 2,2 bilhões

De acordo com a Americanas, "a indevida contabilização dessas operações de financiamento nos demonstrativos financeiros não permitiu a correta determinação do grau de endividamento da companhia ao longo do tempo".

A Americanas vem adiando a divulgação dos resultados trimestrais desde que o escândalo se tornou público, em janeiro. A empresa não divulgou nem o balanço do quarto trimestre nem do primeiro trimestre deste ano.

Administradores da Loja Americanas são convocados por CPI na Câmara dos Deputados  — Foto: Foto de arquivo
Administradores da Loja Americanas são convocados por CPI na Câmara dos Deputados — Foto: Foto de arquivo

Rombo revelado

O rombo bilionário de cerca de R$ 20 bilhões foi revelado ao público por Sérgio Rial em 11 de janeiro, após nove dias no cargo de CEO. Ele havia assumido o posto após a saída de Gutierrez. Mas deixou o comando da empresa no mesmo dia em que trouxe à tona o que chamou de "inconsistências contábeis".

Com isso, a dívida da empresa dobrou e passou a mais de R$ 40 bilhões. A companhia entrou com pedido de recuperação judicial logo depois.

Dos executivos envolvidos na fraude, segundo a investigação preliminar, um já foi ouvido pela CVM. Gutierrez prestou depoimento na autarquia no fim de março em audiência fechada.

O trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, nega envolvimento na fraude. Pelo plano de recuperação judicial, eles farão uma injeção de R$ 10 bilhões na empresa.

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