A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou de CCC- para CC as notas de crédito que atribui ao grupo francês Casino, controlador da rede de supermercados Pão de Açúcar. Segundo a agência, um calote do Casino é iminente.
Na semana passada, o grupo fechou acordo preliminar com os credores para reestruturar uma dívida de € 6 bilhões (R$ 31 bilhões) e passou a ser comandando pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky, que substituiu Jean-Charles Nouri no comando da varejista francesa.
Na avaliação da S&P, o acordo fechado não é suficiente para resolver os problemas financeiros do Casino. O acordo prevê uma injeção de € 1,2 bilhão, mas analistas estimam que a rede precisa de algo entre € 2,5 bilhões e € 3 bilhões em dinheiro novo. O acordo converterá € 4,9 bilhões de dívida em ações. A expectativa é que até setembro o acordo final com os credores seja definido.
![Jean-Charles Naouri foi substituído pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky no comando do Casino — Foto: Eric Piermont/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/aZg0FTutjCqbACvsIgNM0l-m-wc=/0x0:3675x2658/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/u/7/YkZV61Qt2aJNCiAtgqcg/103859601-files-french-supermarket-and-retail-group-casino-chairman-and-ceo-jean-charles-naouri-is-p.jpg)
A S&P avalia que uma inadimplência do grupo francês pode acontecer pela falta de pagamento de juros da dívida. A agência manteve a perspectiva negativa para os ratings do Casino.
De acordo com a instituição, um rebaixamento para o nível D (calote) vai acontecer se o Casino prosseguir com a reestruturação financeira da forma como foi anunciada, ou se o grupo não honrar os compromissos financeiros segundo o cronograma original.
No final de junho, o Casino anunciou que pretende vender suas filiais sul-americanas, incluindo a participação no Grupo Pão de Açúcar (GPA) e na rede colombiana Éxito. Trata-se de mais uma alternativa para reduzir suas dívidas e garantir sustentabilidade econômica do grupo.
Novo controlador é tcheco
As apostas para que o Casino continue operando estão agora nos ombros de Daniel Kretinsky. Advogado de 48 anos, ele fez uma fortuna de US$ 9 bilhões (R$ 42 bilhões) no ramo de combustíveis fósseis. Comprou esses ativos de empresas de serviços públicos na Europa que queriam descarbonizar suas operações.
Ele controla o grupo EPH, um dos maiores conglomerados de energia da Europa Central. O grupo é o segundo maior minerador de carvão da Alemanha. Kretinsky acredita que a transição para fontes de energia limpa na Europa vai demorar e que o uso de carvão e gás vai durar por mais tempo do que o projetado. Por isso, comprou esses ativos a preços baixos das estatais europeias.
![O bilionário tcheco Daniel Kretinsky, que assumiu a presidência do Casino neste ano — Foto: Joel Saget/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/pvHIxW0eMjYM-1B2HCmveX_5GPg=/0x0:5284x3522/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/r/ZeoQH8TxmpFcnz3VmNaw/103841217-files-czech-businessman-daniel-kretinsky-poses-during-a-photo-session-on-january-22-2020-i.jpg)
No varejo, o bilionário tcheco adquiriu participações importantes em cadeias de supermercados no Reino Unido, entre elas a Sainsbury, França, Alemanha e Holanda. Tentou, sem sucesso, obter o controle do jornal francês Le Monde. Kretinsky fala francês fluentemente.
Para assumir o controle do Casino, Kretinsky formou um consórcio de investidores, bancos credores, entre eles as empresas EP Global Commerce, a Fimalac e a Attestor, além do bilionário francês Marc Ladreit de Lacharriere.
Com disposição para assumir empresas com problemas financeiros, Kretinsky anunciou esta semana que obteve o controle da Atos, empresa de tecnologia, com dívidas de € 1,9 bilhão.
Preço mais baixo na venda
Denis Medina, economista e professor da Faculdade de Comércio de São Paulo (FAC-SP), que acompanha de perto o setor de varejo, lembra que a operação do Pão de Açucar é saudável no Brasil, bem gerida e o grupo vem gerando resultados. No ano passado, por exemplo, o grupo apresentou lucro de R$ 1,3 bilhão.
Para ele, a troca de comando no Casino não impacta diretamente a gestão no Brasil, onde marca é reconhecida positivamente. Mas como o controlador anunciou que pretende vender sua participação de 40,9% na varejista, o possível comprador poderia oferecer um valor mais baixo do de mercado, diante dos problemas de endividamento elevado do Casino e da pressa em recompor seu caixa.
— Na gestão do Pão de Açúcar, a troca de comando não deve impactar. Mas diante da situação financeira ruim do grupo francês, inclusive com rebaixamento do rating e necessidade de vender ativos para fazer caixa, vejo a possibilidade de um possível comprador oferecer um valor mais baixo do que o de mercado pelo ativo — avalia.
Um analista de mercado, que prefere não se identificar, afirma que o rebaixamento do rating do Casino não é novidade, já que a situação do grupo está complicada há tempos. O provável impacto disso, diz ele, é a venda de todos os ativos do grupo na América do Sul, (Éxito, na Colômbia, e Pão de Açúcar no Brasil) já que alguma oferta de compra cedo ou tarde será feita.
Em junho, o Casino anunciou a venda de sua participação de 11,7% na rede atacadista brasileira Assaí por 403 milhões de euros (R$ 2,11 bilhões)