Um grupo de trabalho formado pelos bancos, Ministério da Fazenda, Banco Central e varejo está estudando alternativas para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito que, anualizados, passaram de 450% neste ano. De acordo com o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, o grupo deve propor alternativas de redução em 90 dias, e elas serão implementadas gradualmente a partir deste ano e do próximo.
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— É um assunto difícil e complexo (o juro do rotativo do cartão) e está em discussão. Não há uma solução simples. Por isso, um grupo de trabalho foi constituído para buscar boas alternativas. Não vai ser a alternativa ótima, mas será um processo gradual de redução dos juros do rotativo — afirmou Lazari durante teleconferência de apresentação dos resultados do Bradesco no segundo trimestre do ano.
Ele disse que o início do ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic) ajuda na baixa das taxas do cartão de crédito. Ele afirmou que o movimento de queda da Selic já "está contratado". O Banco Central reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano nesta semana.
Lazari afirmou que há muitos atores envolvidos na cadeia do cartão de crédito, por isso a complexidade do tema. Além dos bancos, há as bandeiras dos cartões, adquirentes, varejo e clientes.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se encontrou com banqueiros, na última segunda-feira, para tentar buscar alternativas para reduzir o juro do cartão de crédito, uma opção de crédito fácil muito usada pelos brasileiros.
A taxa do rotativo do cartão está em 437% ao ano, segundo dados de junho divulgados pelo Banco Central. No mês anterior, havia passado de 450%.
Média de 18 dias no rotativo
O presidente do Bradesco disse que essa taxa nunca é cobrada, já que após 30 dias no rotativo os bancos são obrigados a renegociar a dívida e oferecer outras modalidades de empréstimos, com juros menores. Ele disse que, em média, as pessoas ficam no rotativo do cartão por 18 dias.
Lazari afirmou que estabelecer um teto para o juro do rotativo não é a solução ideal, porque isso pode causar distorções no mercado.
O presidente do Bradesco afirmou que o ciclo contratado de queda de juros ajuda no movimento de baixar o juro do rotativo, além de melhorar as expectativas das empresas e das pessoas, que têm melhores condições de pagamento. Segundo ele, há mais disposição das companhias em tomar crédito, além de haver redução da inadimplência.
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Inadimplência no pico
Ele disse que o Bradesco está avaliando reduções em todas as linhas de crédito do banco após a decisão do BC de reduzir juros. Bancos públicos, como a Caixa e o Banco do Brasil, anunciaram redução de juros em seus linhas de crédito após a queda da Selic.
— A redução dos juros traz novo ânimo. E me parece que o ciclo de queda de juros está contratado em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, podendo até ser maior, segundo os economistas. O trabalho técnico do Banco Central para conter a inflação foi excelente — afirmou Lazari.
Mesmo com a perspectiva de redução da Selic, o Bradesco reduziu suas expectativas para o crescimento do crédito este ano. O banco previa alta entre 6,5% e 9,5%, mas agora estima que o crescimento ficará entre 1% e 5%. Lazari observa que a inadimplência pode ter chegado ao seu pico e tende a cair no segundo semestre.
Resultado caiu 35% na comparação anual
O Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 4,5 bilhões no segundo trimestre de 2023, uma alta de 5,6% em relação ao primeiro trimestre e queda de 35,8% em relação a igual período do ano passado. O resultado ficou dentro das estimativas do mercado, mas as ações do banco caem mais de 4%.
Os analistas do setor financeiro da XP, Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre avaliam que os resultados do banco devem apresentar uma curva de melhoria, mas o ponto de inflexão um pouco mais distante, dadas algumas incertezas, incluindo a elevada inadimplência e o baixo crescimento da carteira de crédito, que se traduzem em baixos níveis de rentabilidade.
Eles lembram que a carteira de crédito do Bradesco cresceu 1,6% no trimestre, na comparação anual, abaixo das estimativas divulgadas no início do ano. Por isso, o Bradesco revisou para baixo suas estimativas de crédito.
"Ainda assim, o ritmo atual está próximo ao limite inferior do novo guidance divulgado para o ano. Ainda não observamos um grande alívio na inadimplência, uma vez que o banco está consideravelmente exposto a linhas de crédito de baixa qualidade. Para o futuro, uma melhora gradual no ambiente macroeconômico no segundo semestre poderá ser útil", escreveram os analistas em nota ao mercado.