O Conselho de Administração da Petrobras, que se reuniu nesta quinta-feira, não chegou a um acordo sobre a Sete Brasil, empresa criada pela própria estatal há dez anos para investir em sondas na exploração de petróleo e gás no pré-sal e que naufragou após o escândalo de corrupção detonado pela Operação Lava-Jato.
De acordo com fontes, os conselheiros iriam deliberar se a estatal aceitaria pagar US$ 185 milhões (cerca de R$ 900 milhões com a cotação atual) para encerrar as discussões em torno do imbróglio da Sete Brasil.
Mas o juiz Luiz Alberto Carvalho Alves, da 3ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), onde corre o processo de recuperação judicial da companhia, intimou a Petrobras para que, após a reunião de seu conselho, fosse enviada a “ata contendo a decisão, de aprovação ou rejeição do acordo, com o nome dos conselheiros, os respectivos votos e fundamentações com o objetivo de total transparência e apuração de eventuais responsabilidades na hipótese da decretação da falência da recuperanda (Sete Brasil)”.
Com isso, os conselheiros pediram ao departamento jurídico da estatal que seja feito um pedido de esclarecimentos ao juiz responsável pelo processo de recuperação judicial da Sete Brasil. O tema deve voltar a pauta do colegiado na próxima reunião ou assim que a Justiça esclarecer. "O que ocorrer antes. A decisão ia sair hoje se não fosse a notificação", disse uma fonte.
Solução só sai com consenso
O acordo com a Sete Brasil já havia sido discutido em outras ocasiões pelo conselho, mas sem sucesso. Isso porque um acordo envolvendo o tema relativo às sondas precisa, obrigatoriamente, de aprovação de três quartos dos 11 conselheiros presentes na reunião.
No projeto original, a Sete Brasil previa a construção de 28 sondas. Mas, com a Operação Lava-Jato, diretores da companhia fizeram delações premiadas revelando um esquema de pagamento de propina nos contratos.
Com isso, o BNDES suspendeu as linhas de financiamento, e a Sete entrou em crise financeira e pediu recuperação judicial em 2016 com dívidas superiores a R$ 20 bilhões, processo que ainda não foi encerrado.
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Assim, das 28 unidades previstas originalmente, o projeto foi reduzido a quatro sondas que estão quase prontas, com percentuais que variam de 70% a 95% das obras completadas. Dessas duas estão no estaleiro BrasFels Keppel Fels, em Angra dos Reis, no Rio, e as outras duas no Jurong Aracruz, no Espírito Santo.
O pagamento de quase R$ 1 bilhão, que já foi aprovado pela diretoria executiva da estatal, vai permitir ainda que a Petrobras não precise mais afretar essas sondas por um período de dez anos, como previa o contrato original, e anula ainda todas as multas contratuais.
Intimação judicial
Segundo um dos trechos da decisão, o magistrado diz que “a recuperação judicial deveria ser encerrada em 22 de novembro de 2020, sendo baixa a probabilidade de as recuperandas (as empresas que formam a Sete Brasil) conseguirem outra solução exitosa do processo recuperacional, com exceção de um desfecho bem-sucedido do plano alternativo entre elas e a Petrobras. E, caso não ocorra, requererá a convolação (mudança) do processo de recuperação judicial em falimentar”.
Dessa forma, para se precaver de um possível processo de falência, o juiz determinou que sejam preservados diversos documentos envolvendo ex-diretores da Sete Brasil, os contratos de financiamento da Sete Brasil e as trocas de correspondências com o banco e a empresa para a não formalização dos empréstimos. Em janeiro de 2014, a expectativa era que o BNDES concedesse R$ 8,8 bilhões apenas para financiar as primeiras nove sondas.
Perdas podem superar R$ 20 bi
Para uma fonte, o colapso da Sete Brasil pode trazer para Petrobras passivo maior que os R$ 20 bilhões.
O Conselho da Petrobras é formado por onze membros - dos quais seis indicados pela União; quatro nomeados pelos minoritários; e um dos funcionários. Segundo fontes, parte dos representantes dos minoritários seria contra o acordo com a Sete Brasil.
“E como é preciso que seja aprovado por três quartos dos conselheiros, o tema virou um impasse”, disse essa fonte, lembrando que a estatal já aprovou acordos semelhantes com Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e bancos.
Embora a Sete Brasil tenha dívidas de R$ 20 bilhões, o acordo prevê o pagamento de R$ 1 bilhão por parte da Petrobras, pois esse é o valor referente as quatro sondas arrematadas pela Magni durante o processo de leilão judicial, que ocorreu durante a pandemia.
Na ocasião, o valor foi criticado por ser considerado abaixo do valor de mercado, mas foi a única proposta recebida para as sondas. Porém, a Magni desistiu do projeto, pois teve problemas na conclusão do funding do projeto, mas as negociações com a Petrobras continuaram com a Sete Brasil, que hoje conta com menos de dez funcionários.
Governo é maior credor
Uma outra fonte lembra que o negócio é bom para a Petrobras, uma vez que a companhia estará livre de discussões judiciais caso a Sete Brasil entre em processo de falência. Por outro lado, há quem defenda internamente que a estatal não deva gastar mais “um real” com o projeto fracassado. Entre os credores, há uma sensação de que o pagamento de quase R$ 1 bilhão foi o “que deu”.
Entre os maiores credores da Sete Brasil, está o próprio governo. Do total, o Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN) soma 28,4% das dívidas, seguido do Banco do Brasil ( 20% ), FI-FGTS (13,8%) e Caixa Econômica Federal (9,4%).
Uma outra fonte lembra ainda que, somente após um acordo com a Petrobras, a Sete Brasil e os estaleiros, que são sócios das quatro sondas, poderão buscar um novo comprador para as unidades. “Há interesse nas sondas pelo mercado, mas as conversas estão todas travadas”.