Amazon desiste de acordo de US$ 1,4 bi para comprar a iRobot

• Leia também: França multa a Amazon em € 32 milhões por monitoramento 'excessivo' e ilegal de funcionários
• Veja fotos: Casa nos EUA onde nasceu a Amazon está à venda por R$ 11 milhões

A iRobot, que enfrenta dificuldades, anunciou que o CEO Colin Angle deixou o cargo. A saída acontece em um momento em que a empresa passa por um plano de reestruturação que resultará em cerca de 350 cortes — o correspondente a 31% da força de trabalho.

As ações da fabricante de aspiradores caíram 19% em Nova York, para US$ 13,80, seu nível mais baixo desde 2009. As ações da Amazon tiveram pouca alteração, em US$ 159,40.

A decisão é um sinal da intensa pressão que a Amazon enfrenta para provar que as suas ações não prejudicam a concorrência à medida que a sua influência cresce no varejo, na computação em nuvem e no entretenimento.

Os reguladores antitruste dos dois lados do Atlântico estão empenhados em garantir que as maiores empresas de tecnologia dos EUA não adquiram startups inovadoras antes de terem a oportunidade de se tornarem concorrentes a altura.

A Amazon se reuniu com a equipe antitruste sênior da FTC na semana passada, que informou à empresa que estava recomendando uma ação judicial sobre o acordo, segundo uma fonte próxima. Executivos e advogados da gigante da tecnologia estavam programados para se reunirem com os três comissários da FTC esta semana para dar o impulso final para a aquisição, informou a fonte com condição de anonimato.

• Google, Amazon, Duolingo.... 2024 começa com rodada de demissões em empresas de tecnologia

A Comissão Europeia, braço executivo da UE que supervisiona o antitruste, é conhecida por optar por soluções que corrigem quaisquer riscos para a concorrência leal, em vez de proibir completamente as fusões. Mas as empresas muitas vezes optam por abandonar acordos que parecem estar a caminho do veto.

A decisão da Amazon, que implica uma taxa de rescisão de US$ 94 milhões a ser paga à iRobot, segue uma decisão semelhante da Adobe de abandonar uma aquisição planejada de US$ 20 bilhões da startup Figma.

A Amazon decidiu não oferecer soluções às preocupações sinalizadas pelos reguladores. A comissão já havia alertado que a empresa poderia ficar tentada a rebaixar outros robôs aspiradores em sua plataforma e promover seus próprios produtos com rótulos como “escolha da Amazon” ou “Funciona com Alexa”.

O regulador também disse que a Amazon pode achar “economicamente lucrativo” excluir rivais e tentou pressionar a gigante da tecnologia a oferecer concessões a fim de obter luz verde em Bruxelas, sem sucesso.

“Este resultado negará aos consumidores uma inovação mais rápida e preços mais competitivos, o que estamos confiantes que teria tornado as suas vidas mais fáceis e agradáveis”, disse David Zapolsky, vice-presidente sénior e conselheiro geral da Amazon, num comunicado.

Ele acrescentou:

“Obstáculos regulatórios indevidos e desproporcionais desencorajam os empreendedores, que deveriam ser capazes de ver a aquisição como um caminho para o sucesso, e isso prejudica tanto os consumidores quanto a concorrência – exatamente as coisas que os reguladores dizem que estão tentando proteger.”

• Qualidade de vida: Apple retorna à lista de melhores lugares para trabalhar, mas Meta continua de fora

Embora a empresa tenha considerado um recurso, esse processo provavelmente levaria anos, disseram pessoas próximas. O acordo de fusão expira neste verão e as empresas já renegociaram os termos uma vez.

“Financeiramente, este acordo é irrelevante para as vendas ou para o lucro da Amazon”, disse Poonam Goyal, analista sênior da Bloomberg Intelligence , em nota na segunda-feira. Mas, de um modo geral, disse ela, a rescisão “apoia a nossa visão de que as grandes empresas tecnológicas terão dificuldades em fechar qualquer aquisição, dados os atuais climas regulatórios nos EUA e na Europa”.

A desistência da aquisição poupa a Amazon da tarefa de conter as perdas sofridas pela iRobot. No ano passado, a iRobot foi forçada a garantir um financiamento de US$ 200 milhões e a Amazon reduziu sua oferta por ação em cerca de 15%.

As vendas da IRobot caíram à medida que os gastos com melhorias residenciais durante a pandemia diminuíram. A empresa, que tem sido consistentemente lucrativa desde sua oferta pública inicial em 2005, acumulou cerca de US$ 500 milhões em perdas líquidas desde o segundo trimestre de 2021.

Em uma atualização financeira nesta segunda-feira, a a IRobot disse que teve um prejuízo operacional ajustado de cerca de US$ 200 milhões em 2023.

A Amazon anunciou intenção de adquirir a iRobot em agosto de 2022, um movimento que teria expandido sua posição no crescente mercado de ferramentas para casa inteligente. A empresa também desenvolveu sua própria franquia de robês domésticos com o Astro, um bot de segurança residencial de US$ 1.600 que começou a comercializar como segurança empresarial.

Amazon e iRobot são parceiros há anos. A varejista é há muito tempo o maior cliente da iRobot, por vezes responsável por mais de um quarto das vendas. O fabricante de aspiradores, por sua vez, é cliente do grupo de computação em nuvem Amazon Web Services e enviou executivos para falar em eventos da Amazon.

A oposição à aquisição da iRobot pela Amazon destaca a tensão entre as operações de varejo da Amazon e as suas ambições para o ecossistema de casa inteligente. A FTC também expressou preocupação de que o acordo daria à Amazon controle sobre o mercado de dispositivos domésticos inteligentes e potencialmente violaria a privacidade dos utilizadores, dando à empresa acesso aos dados das suas casas.

• MacBook da Apple: dez novidades do novo sistema operacional Sonoma

Embora pequena para uma empresa do tamanho da Amazon, a aquisição da iRobot teria sido a quarta maior de sua história, atrás apenas das compras da Whole Foods Market, do estúdio de cinema MGM e do serviço de concierge de saúde One Medical.

Os reguladores na Europa e nos EUA estão cada vez mais céticos em relação aos acordos das Big Tech. Em setembro, o regulador da UE rejeitou a oferta de US$ 1,7 bilhões da Booking pelo grupo sueco Etraveli e o bloco está nas fases iniciais de análise da parceria da Microsoft. Nos EUA, a administração Biden estabeleceu um recorde em desafios de fusões.