Qual será o sabor de um melão de US$ 120 (R$ 601)? Para descobrir, antes era preciso voar para o Japão. Agora, os americanos podem ficar em casa e experimentar o que muitos acreditam ser um dos melhores pedaços de fruta do mundo.
Pela primeira vez, produtos cultivados no Japão, como morangos e melões, estão sendo enviados diretamente aos consumidores americanos por meio da Ikigai Fruits, um novo varejista on-line de um grupo de pequenos agricultores do Japão.
O esforço ressalta a tentativa do país de expandir a base de consumidores fora do Japão e, por fim, atrair mais pessoas no país a cultivar produtos. Seu setor agrícola está em declínio, à medida que as gerações mais jovens se afastam da agricultura e empresas fecham.
Em 2020, o setor foi avaliado em 8,9 trilhões de ienes (US$ 60 bilhões). Em 2050, espera-se que seja menos da metade desse valor, de acordo com um relatório do Mitsubishi Research Institute.
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A Ikigai está exportando três tipos de frutas: morangos, melões e, quando estão na estação, tangerinas satsuma. A empresa planeja acrescentar outras frutas às opções disponíveis na estação.
Os preços variam de US$ 89 (R$ 446) por cerca de um quilo de morangos Kotoka, de cor vermeha vibrante, a até US$ 780 (R$ 3.900) por três minicaixas (ou seja, R$ 1.300 por cada embalagem) com aproximadamente nove Kotokas, Awayukis (rosa claro) e Pearl Whites ("branco pérola" com pintinhas vermelhas) cada.
O preço elevado reflete a maneira obsessiva com que a fruta é cultivada e colhida. É uma extensão da cultura shokunin do Japão, na qual os artesãos passam a vida dominando um ofício, como fabricar móveis ou cozinhar ramen, o arroz japonês. (No documentário 'Jiro Dreams of Sushi', que acompanha o mestre Jiro Ono, os aspirantes a chefs passam os três primeiros anos de um aprendizado de uma década apenas aprendendo a fazer ramen).
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Agricultores japoneses dedicados ao cultivo de melões coroa normalmente treinam por cerca de dois anos antes de se tornarem independentes e são conhecidos por massagear suas frutas. A fruta de polpa verde vibrante que muitas vezes é o final de uma refeição omakase (modelo no qual o cliente come o que o cozinheiro sugere) alto nível.
Eles também podam suas plantas para que cada uma produza um único melão, em vez dos habituais oito ou até mais.
A técnica é conhecida como ichiboku ikka, que significa “uma árvore, uma fruta”. A escassa produção concentra os nutrientes em um fruto explosivamente doce e de sabor intenso que pode ficar muito caro: em 2019, um par de melões Yubari King foi leiloado pelo equivalente a US$ 45 mil (R$ 225,5 mil).
O país ainda possui um sistema nacional de classificação de frutas, baseado no tamanho, formato, teor de açúcar e critérios relacionados. E as prefeituras têm suas próprias estruturas de pontuação exclusivas.
Em Shizuoka, na costa sul do Japão, a pontuação mais alta que um melão almiscarado – a espécie abrangente de melões de polpa tipicamente doce, como cantaloupe e honeydew – pode receber é designada como Fuji: pense nisso como uma classificação de três estrelas Michelin para frutas.
Apenas cerca de um em cada 1.000 melões recebe essa designação, o que geralmente leva a um preço superior a 30.000 ienes (US$ 197 ou R$ 991).
Morangos podem ser ainda mais complicados. São notoriamente sensíveis à luz solar, ao calor, ao ar seco e às pragas, razão pela qual os agricultores estão constantemente ajustando seu ambiente de cultivo em estufas controladas. O momento da colheita é a chave para a doçura: quanto mais tempo os morangos permanecem nos caules, mais doces se tornam, pois a fotossíntese produz mais glicose.
No entanto, colher um morango totalmente maduro torna-o mais vulnerável a danos durante o transporte. Cada peça é minuciosamente inspecionada, pesada e cuidadosamente embalada em embalagens personalizadas. Mesmo a menor batida pode resultar em mofo.
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Asayama Haruyuki, diretor da Ikigai, diz que tem sido um “grande desafio” logisticamente enviar frutas delicadas e valiosas para os Estados Unidos, mantendo o frescor.
Os produtos são acondicionados em caixas individuais com bolsas de gelo em aviões refrigerados destinados especificamente ao transporte de frutas. Normalmente, leva de uma a duas semanas para sair da fazenda e chegar às mãos dos consumidores americanos.
Frutas japonesas de alta qualidade e preços elevados não são totalmente estranhas aos nova-iorquinos. Inspirado pelos morangos premium que experimentou enquanto crescia no Japão, Hiroki Kogaco foi cofundador da fazenda vertical de morangos Oishii em Kearny, Nova Jersey, em 2017.
Ele adota as práticas dos produtores de frutas japoneses para replicar um “dia perfeito” para um morango, usando luzes LED para a quantidade exata de luz, ar condicionado para a temperatura e umidade corretas e uma combinação de agricultores, abelhas e robôs para monitorá-los. A empresa vende um pacote de 4,2 onças de morangos Omakase rosa, doces e com baixo teor de acidez, por US$ 10 a US$ 15 – cerca de US$ 1 cada.
Coreia do Sul também aposta em frutas de luxo
O Japão não é o único país que vê crescimento no mercado de frutas de luxo da América. O On Berries, cultivado em estufa na Coreia do Sul, chegou à costa leste dos EUA em janeiro com uma variedade rechonchuda e crocante de morango chamada Gold Berry.
O chef confeiteiro Eunji Lee, da loja de sobremesas franco-coreana Lysée, de Nova York, que foi o primeiro a colocá-lo no cardápio, descreve-o como tendo uma “doçura bem doce", além de sua acidez equilibrada. No bōm, restaurante coreano de Manhattan, a chef confeiteira Celia Lee está usando On Berries de três maneiras em uma sobremesa: fresco, misturado com creme e congelado em sorvete.
O cofundador da On Berries, Richard Kang, vende embalagens com capacidade de 8 a 15 morangos por US$ 25 na área de Washington, DC. Para expandir a distribuição no varejo, ele está aumentando o reconhecimento da marca colaborando com outros chefs.
Esses custos podem parecer altos quando os supermercados locais vendem caixas de morangos Driscoll por US$ 6. Mas não se você realmente valoriza a alegria de comer frutas extremamente saborosas e requintadamente lindas - mesmo quando está fora da estação.
Onde mais conseguir uma dose de frutas raras Oishii?
O fruticultor de Nova Jersey introduziu morangos premium de estilo japonês na Big Apple em 2017. Seu Omakase Berry é cultivado na maior fazenda vertical interna de morangos do mundo e se tornou um ingrediente adorado entre os chefs com estrelas Michelin.
A marca também vende frutas Koyo de textura crocante e tomate cereja Rubī, apreciados por sua doçura. Os cozinheiros domésticos (e os entusiastas do morango) podem comprar bandejas de frutas vermelhas nos principais varejistas de alimentos, como o FreshDirect.
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O Mogmog, de dois anos de idade - um mercado de comida japonesa artesanal do tamanho de um selo postal em Long Island City, Nova York - é a única loja desse tipo na área e um dos poucos vendedores em todo o país que vende frutasa japonesas premium no varejo. Não oferece pedidos por correspondência ou delivery, mas aqueles que visitam pessoalmente podem garantir morangos Pearl White com sabor de ponche de frutas, bem como frutas japonesas importadas menos comuns, incluindo kiwis arco-íris e peras quando estão na estação.
A mercearia On Berries Digital dá aos residentes da área de Washington DC prioridade ao encomendar os primeiros morangos coreanos de luxo da América. Cultivadas de forma sustentável em estufas sul-coreanas, as frutas são importadas pelo cofundador Richard Kang em quantidades limitadas, duas vezes por semana, e chegam cuidadosamente embaladas com acolchoamento que protege confortavelmente cada fruto individual. Ao contrário dos produtos Ikigai, que devem ser consumidos dentro de dois a três dias, estes permanecem frescos por até uma semana se armazenados na geladeira.