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Por — São Paulo

Depois de apresentar ao país queijos sofisticados, Minas Gerais avança naquele que é seu par perfeito: o vinho. Em dezembro de 2020, o estado reunia 21 produtores de vinhos finos, instalados em 15 cidades. No mês passado, esse número já havia subido para 90, em 53 municípios.

No Rio Grande do Sul, onde essa indústria já é tradicional, o crescimento, no mesmo período, foi proporcionalmente bem menor: de 227 para 291 produtores, e de 67 para 76 cidades, segundo dados do pesquisador Rogerio Dardeau, que acompanha o setor há 50 anos.

Minas já produz vinhos de mesa desde o século passado, mas o desenvolvimento de uma nova técnica, a da dupla poda, há cerca de 20 anos, permitiu que o estado passasse a produzir também vinhos finos. A nova tecnologia possibilitou aos produtores mineiros colher as uvas no inverno em vez de no verão, como ocorre no Sul. Isso se traduz em uvas viníferas, que já têm alto teor de açúcar, ainda mais concentradas.

O engenheiro agrônomo Murilo de Albuquerque Regina, fundador de uma vinícola em Caldas (MG), foi quem levou a técnica para Minas.

— Depois que ele começou a produzir, outros tiveram interesse em cultivar com o mesmo processo, sabendo que teriam bons vinhos. E houve uma explosão. Minas é o estado onde a dispersão geográfica de produtores mais aumenta — conta Dardeau.

Aposta em enoturismo

Um desses produtores é José Procópio Stella, que começou a fabricar vinhos de mesa em 2002, quando fundou a vinícola Stella Valentino, em Andradas (MG), seguindo os passos do avô italiano. Em 2015, o fazendeiro passou a plantar uvas para vinhos finos — Syrah, Sauvignon Blanc, Cabernet Franc e Tempranillo.

A Casa Geraldo, vinícola de Minas Gerais, já tem 60% de seu faturamento vindos do enoturismo: 3 mil visitantes por fim de semana — Foto: Divulgação
A Casa Geraldo, vinícola de Minas Gerais, já tem 60% de seu faturamento vindos do enoturismo: 3 mil visitantes por fim de semana — Foto: Divulgação

Dois anos depois, vieram as primeiras cinco mil garrafas. Atualmente, a Stella Valentino fabrica de 15 mil a 18 mil garrafas ao ano, número que deve chegar a 25 mil nos próximos anos, quando todas as vinhas estiverem maturadas, estima.

— Faturamos entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões por ano. Temos nove hectares de área plantada em Andrada — conta Procópio.

Enquanto no passado grande parte dos produtores pensava apenas em fabricar e comercializar vinho, atualmente todo novo empreendedor mineiro já encaixa no seu orçamento o enoturismo. A ideia é receber pessoas, ter atendimento e até restaurante nas vinícolas, explica Dardeau, como existe em diversos lugares do mundo.

Foi o que aconteceu com Procópio. Assim que fundou a Stella Valentino, ele investiu em enoturismo, que representa 80% do negócio. Embora os vinhedos e as vinícolas sejam modernos, o fazendeiro preserva a casa do seu avô, onde recebe turistas para a degustação de vinhos harmonizados com queijos, frutas secas e embutidos.

Os visitantes conhecem o vinhedo e podem experimentar as uvas. Futuramente, o produtor pensa em construir chalés e um restaurante. São cerca de 200 pessoas por semana nos passeios.

— Quero agregar em outra atividade, com acomodações e wine bar. Em quantidade, deve demorar para Minas superar o Sul. Em qualidade, já estamos empatados — afirma Procópio.

Luiz Henrique Marcon, um dos donos da vinícola Casa Geraldo, diz que o enoturismo já representa cerca de 60% do seu faturamento:

— Conseguimos conquistar as pessoas com o enoturismo. É propaganda. Elas vêm e compram os vinhos logo depois. Recebemos 3 mil visitantes por fim de semana, que almoçam no nosso restaurante. As comidas são harmonizadas com vinhos e espumantes. Temos uma degustação guiada e outros passeios, com paradas nos vinhedos.

A empresa começou a plantar uvas para vinhos finos em 2013. Naquele ano, foram apenas dois ou três hectares, bem menos que os atuais 45 hectares. A pretensão é chegar a 60 hectares de terras plantadas até o fim de 2025. A empresa tem 60 rótulos, de 16 variedades de uvas plantadas. São produzidas 300 mil garrafas ao ano. A maior parte dos vinhedos está em Andradas (MG), mas há 12 hectares de uvas para espumantes em Divinolândia (SP).

Prêmio internacional

Um dos rótulos da linha Sabina, da Sacramentos Vinifer, desenvolvida com uvas Syrah na Serra da Canastra, em Minas Gerais — Foto: Divulgação
Um dos rótulos da linha Sabina, da Sacramentos Vinifer, desenvolvida com uvas Syrah na Serra da Canastra, em Minas Gerais — Foto: Divulgação

Jorgito Donadelli, cofundador da vinícola Sacramentos Vinifer, também quer ampliar seus negócios e desenvolver projetos de enoturismo. Como Procópio, ele também descende de italianos, seus bisavós.

— Minha avó contava que seus ancestrais bebiam o próprio vinho. Na cabeça do meu pai, o sonho da sua mãe era produzir vinho. Ela morreu quando ele tinha 9 anos. O vinho seria como um presente para ela — diz o empresário.

Ele conta que, em 2017, durante uma visita ao Uruguai, seu pai percebeu que a terra de uma vinícola local se parecia com a da família na Serra da Canastra, em Minas. Quando voltaram ao Brasil, descobriram a técnica da dupla poda e plantaram no ano seguinte os primeiros hectares de Syrah e Sauvignon Blanc.

Inicialmente, a ideia não era produção industrial, até que Donadelli conheceu o enólogo Alejandro Cardoso, que tem uma empresa que presta serviços a vinícolas. Ele o convenceu a levar as uvas para Caxias do Sul (RS):

— As uvas viajam em um caminhão refrigerado, com dois motoristas para não haver paradas e chegarem rápido — explica Donadelli.

Em 2021, o primeiro vinho produzido pela Sacramentos Vinifer, o Sabina Rosé Syrah, conseguiu a maior nota entre rótulos brasileiros no Decanter World Wine Awards, o mais importante concurso mundial do setor.

— Ainda nem tínhamos garrafa e rótulo, corremos para ajustar tudo a tempo. Em 2023, o vinho foi eleito novamente o melhor do Brasil, pelo Guia Descorchados.

O Antonella Brut e o Rosé têm uvas do Rio Grande do Sul. Já a linha Sabina é elaborada com Syrah de vinhedos mineiros. Atualmente, são 20 mil garrafas por ano. A empresa está desenvolvendo dois novos espumantes para a linha Sabina, a serem lançados em 2024. Até o fim do ano, serão nove rótulos.

— Queremos uma vinícola própria, provavelmente no Sudeste, com vinhedo de quatro a seis hectares. E teremos wine bar e restaurante. Devemos ter um complexo hoteleiro — diz Donadelli.

Usar vinícolas terceirizadas é comum, já que construir uma própria demanda investimento volumoso. Procópio estima que uma vinícola pequena, para produzir 40 mil garrafas de vinhos finos, custa pelo menos R$ 3 milhões. Uma unidade para fabricar vinho comum custa entre R$ 500 mil e R$ 700 mil.

Francisco Câmara, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), conta que a instituição tem um projeto acelerador de vinícolas no estado:

— Os produtores fazem seus vinhos mais baratos. A ideia é dar um pontapé inicial, porque Minas tem poucas vinícolas para a quantidade de vinhedos do estado. Para plantar um hectare, custa R$ 200 mil, enquanto uma vinícola custa milhões.

'Gigante adormecido'

A Epamig é focada no desenvolvimento de tecnologias para o agro. Em Caldas, o foco é vitivinicultura. De 2005 para cá, já foram investidos cerca de R$ 10 milhões na área.

Câmara elenca alguns entraves para que o mercado mineiro possa deslanchar. Primeiro, é um investimento de longo prazo. As videiras começam a ter vinhos de maior qualidade com o tempo. O pesquisador diz ainda que os impostos sobre o vinho são elevados em Minas, e que os vinhos brasileiros são caros, já que o país tem pouca tecnologia, e as vinícolas nacionais precisam importar máquinas de outros países.

— O brasileiro bebe pouca quantidade. Dificilmente um brasileiro vai investir R$ 100 reais numa garrafa de vinho. Ele vai comprar cerveja — pontua.

Maguil Marsilio, professor, consultor e coordenador da pós-graduação em Enoturismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS), avalia que todo o país tem potencial de crescimento na produção de vinhos, exceto o Sul, onde essa cultura já é mais consolidada.

— O Brasil é um gigante adormecido no mundo do vinho. O enoturismo ajuda a potencializar o consumo. Minas está investindo pesado nisso — conta Marsilio.

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