Petrobras: as dificuldades que Magda Chambriard vai enfrentar para acelerar o ritmo das obras

• Sucessão: Magda não terá 'carta branca' para escolher diretoria
• Despedida: 'Deixamos a política de preços que Lula pediu', diz Prates ao sair da Petrobras

Lula demitiu nesta terça-feira o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e apontou Magda para substituí-lo. O pando de fundo para a decisão, segundo interlocutores próximos do Planalto, foi uma insatisfação com a demora na retomada das obras pela Petrobras, como na construção de navios ou em projetos de refinarias.

Na avaliação de Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, o CEO demitido já vinha colocando em prática as novas diretrizes que surgiram com a volta do PT ao governo federal. Ampliou os investimentos, deu foco a projetos de transição para uma economia de baixo carbono, mudou a política de preços de combustíveis e se preparou para dar um “cavalo-de-pau” no segmento de refino.

Por outro lado, a Petrobras é um “transatlântico” e, por isso, mudar de rota leva tempo, completou o professor. Nesse ponto, regras de governança criadas após os escândalos de corrupção que começaram a ser revelados com a eclosão da Operação Lava-Jato, de 2014 em diante, incluindo aí a Lei das Estatais, de 2016, tornaram os processos mais lentos na estatal.

– Há mais freios e contrapesos. Os funcionários estão mais cuidadosos, afinal, é o CPF deles que está em jogo. Eles testemunharam pessoas presas, a Polícia Federal visitando a empresa – afirmou Almeida, ponderando que petroleiras “são muito burocráticas mesmo”.

Além disso, fatores de mercado impedem mudanças mais rápidas. Diante da estratégia da Petrobras nos governos anteriores, de diminuir a participação no segmento de refino e combustíveis – a Petrobras vendeu a Refinaria de Mataripe, na Bahia –, mais agentes passaram a atuar na importação de combustíveis.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, e as sanções que se seguiram, aumentou a chegada de diesel russo no Brasil, diminuindo as margens de lucro no refino.

– A estratégia (no refino) é totalmente diferente, mas o Jean Paul já estava colocando em prática. Agora, tem que combinar com os russos. Nesse caso, literalmente – disse Almeida.

Para uma fonte que acompanha o setor de petróleo e gás no governo, o ex-CEO Jean Paul Prates gastou muito tempo em disputas políticas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e perdeu o foco no ritmo das mudanças que vinha fazendo desde o início do mandato.

Sem desviar a atenção com essas disputas, Magda Chambriard teria mais tempo, e talvez condições, para focar em temas considerados “fundamentais” pelo Palácio do Planalto, como uma solução para viabilizar a exploração da Margem Equatorial ou uma proposta para a política de refino de combustíveis.

Fontes que acompanham de perto o dia a dia da empresa relatam, porém, que as cobranças de Lula por agilidade nos projetos esbarram em entraves concretos. No setor naval, por exemplo, as empresas no Brasil estão com dificuldades financeiras para tocar obras e diversas licitações para a construção de navios não estão atraindo o interesse de estaleiros nacionais.