O Grupo Dia vendeu suas operações no Brasil após fechar um acordo com a MAM Asset Management, gestora de investimento do Banco Master, segundo comunicado divulgado pelo grupo varejista nesta sexta-feira. O negócio foi fechado pelo 'valor simbólico' de € 100. Com a transação, o grupo espanhol deixa por completo o país.
O nome do comprador não foi anunciado, com o acordo tendo sido fechado com a Lyra II Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia. O acordo, porém, inclui um aporte vindo do Grupo Dia no negócio no valor de € 39 milhões (perto de R$ 222 milhões).
- Maternidade sem apoio: Mais de 11 milhões de mulheres deixam o mercado de trabalho no Brasil
- Receita maior: Supermercados vendem espaço publicitário até nos corredores
Procurado, o Grupo Dia não forneceu maiores esclarecimentos sobre a transação nem sobre como o acordo se insere no processo da recuperação judicial. Já o Banco Master afirmou que não participa do investimento, explicando que a “MAM Asset, como gestora, viabilizou a criação de um fundo para um de seus clientes, para a realização do negócio”.
Com sucessivos resultados negativos no Brasil, a operação do Grupo Dia no país entrou em recuperação judicial em março, com uma dívida estimada em R$ 1 bilhão. Deste total, R$ 268 milhões eram devidos a bancos.
Recuperação judicial
O pedido de proteção à Justiça veio logo após ao grupo de supermercados de bairro ter anunciado o fechamento de 343 de suas lojas e três centros de distribuição no país, concentrando suas atividades no estado de São Paulo, onde mantém 244 unidades. O negócio já vinha encolhendo. No fim de 2020 eram 778 lojas.
Ao pedir recuperação, a companhia afirmou que manteria o foco em Espanha e Argentina, destacando que a operação no Brasil, onde estava desde 2001, não era rentável. Somente em 2023, o prejuízo alcançou R$ 830 milhões. Este ano, o quadro não apresentou melhora. Ao pedir recuperação, o grupo disse que enfrentava persistentes resultados negativos.
A efetivação do acordo depende de aprovação de entidades financeiras do sindicado de bancos, informou o Grupo Dia.
Competitividade no varejo
Eduardo Yamashita, diretor de Operações da Gouvêa Ecosystem, destaca que o varejo de alimentos é um dos mais competitivos não apenas no Brasil, mas globalmente. E que, nos últimos anos, uma profusão de novos players, formatos e canais de venda ampliaram ainda mais a concorrência num segmento que opera com margens muito apertadas.
- O Grupo Dia, de um lado, sofreu forte pressão vinda do crescimento do atacarejo, levando aquele consumidor que busca preço. De outro lado, da profusão de competidores de conveniência, atraindo consumidores que queriam sortimento mais diferenciado e oferta conveniente - explicou o especialista.
O atacarejo, em especial, avança em impacto no segmento supermercadista como um todo, segundo Yamashita, destacando que sete de cada dez famílias brasileiras compram por esse canal.
Ele lembrou ainda que o Grupo Dia é controlado pelo fundo russo LetterOne:
- Sob impacto das sanções econômicas vindas em razão do conflito com a Ucrânia, houve mais dificuldade de sustentar as operações no resto do mundo. Com dificuldades operacionais, passa a focar em mercados mais rentáveis e vende a operação aqui.