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Por , Em The New York Times — Riad

A duas horas de carro de Riad, a capital da Arábia Saudita, fileiras de painéis solares se estendem até o horizonte. Apesar de possuir reservas de petróleo quase ilimitadas, o reino está investindo pesado na energia solar e eólica, em parte para manter uma posição de liderança na indústria energética — que é vital para o país, mas está mudando rapidamente com a necessidade global de reduzir emissões de carbono no combate às mudanças climáticas.

Olhando para os 3,3 milhões de painéis fotovoltaicos que cobrem 36 quilômetros quadrados de deserto, Faisal Al Omari, CEO de um projeto solar recém-concluído chamado Sudair, diz estar orgulhoso de contribuir para a transição energética da Arábia Saudita.

Embora a produção de petróleo ainda mantenha um papel crucial na economia saudita, o reino está apostando em outras formas de energia. Sudair, que pode iluminar 185.000 casas, é o primeiro de muitos projetos gigantescos planejados para aumentar a produção de fontes renováveis, incluindo solar e eólica, para cerca de 50% até 2030 no país.

Atualmente, a energia renovável representa uma quantidade insignificante da geração de eletricidade na Arábia Saudita. Analistas dizem que atingir essa meta extremamente ambiciosa é improvável, no entanto.

— Se eles conseguirem 30%, eu ficaria feliz porque isso seria um bom sinal — disse Karim Elgendy, analista climático do Middle East Institute, uma organização de pesquisa em Washington.

Mesmo assim, o reino está planejando construir fazendas solares rapidamente.

— Os volumes que você vê aqui não se vê em nenhum outro lugar, apenas na China — disse Marco Arcelli, CEO da Acwa Power, desenvolvedora saudita da Sudair e uma força crescente nas indústrias internacionais de eletricidade e água.

Os sauditas não apenas têm o dinheiro para expandir rapidamente, mas também estão livres dos longos processos de licenciamento que inibem esses projetos no Ocidente.

— Eles têm muito capital de investimento e podem agir rapidamente e iniciar o desenvolvimento de projetos — disse Ben Cahill, pesquisador sênior do Center for Strategic and International Studies, uma instituição de pesquisa em Washington.

Até a Saudi Aramco, a joia da coroa da economia saudita e produtora de quase todo o seu petróleo, vê um panorama energético em mudança.

Para ganhar uma posição na energia solar, a petroleira saudita adquiriu uma participação de 30% na Sudair, que custou US$ 920 milhões (R$ 4,7 bilhões), o primeiro passo em um portfólio solar planejado de 40 gigawatts — mais que a demanda média de energia do Reino Unido — destinado a atender a maior parte das ambições do governo nessa área.

A empresa planeja ainda estabelecer um grande negócio de armazenamento de gases de efeito estufa no subsolo. Também está financiando esforços para fabricar os chamados e-combustíveis para automóveis a partir de dióxido de carbono e hidrogênio.

Os cientistas da computação da Aramco também estão treinando modelos de inteligência artificial (IA), usando quase 90 anos de dados de campos petrolíferos, para aumentar a eficiência da perfuração e extração, reduzindo assim emissões de dióxido de carbono.

— A gestão ambiental sempre fez parte do nosso modus operandi — declarou Ashraf Al Ghazzawi, vice-presidente executivo de Estratégia e Desenvolvimento Corporativo da Aramco.

Embora insista que o petróleo tem um longo futuro, a Saudi Aramco, atualmente a maior empresa petrolífera do mundo, parece também estar tentando sinalizar que não está presa a um passado poluente, a exemplo de outras empresas do setor pelo mundo, incluindo a Petrobras. Mas a saudita quer se mostrar mais como empresa de inovação e com preocupação ambiental.

Recentemente, a empresa convidou um grupo de jornalistas para uma apresentação de práticas verdes, como o uso de drones em vez de frotas de caminhões pesados para prospectar petróleo ou restaurar manguezais ao longo de costas tropicais para absorver dióxido de carbono. A Aramco diz que investirá cerca de 10% de seus investimentos em iniciativas de baixo carbono.

Nos últimos dois anos, a Arábia Saudita instruiu a Aramco a reduzir drasticamente a produção de petróleo para 9 milhões de barris por dia, em linha com os acordos do grupo conhecido como Opep+. Na visão da Aramco, essas decisões — que têm componentes geopolíticos mais fortes — não são sinais de um consumo decrescente de combustíveis fósseis. Seus executivos insistem que a empresa continuará a investir em petróleo e gás natural. Esses combustíveis continuarão a “desempenhar um papel muito importante” até 2050 e além, disse Al Ghazzawi.

Parceria com a China

Algumas das iniciativas da Aramco provavelmente levarão anos para dar frutos, mas as condições já parecem maduras para a energia solar. A Arábia Saudita tem um sol intenso e vastas extensões de terra que podem ser povoadas com painéis solares.

Adicione-se a isso a relação estreita com a China, que está fornecendo grande parte do equipamento renovável, incluindo os painéis de Sudair, e “estão construindo a um preço muito baixo”, ressalta Nishant Kumar, analista de energia renovável e elétrica da consultoria Rystad Energy.

A Sudair, por exemplo, venderá sua energia a cerca de 1,2 centavo por quilowatt-hora, um recorde quase histórico na época em que foi acordado.

— Eles sabem muito bem que a economia só pode ser eficiente se puderem continuar a aproveitar o custo cada vez menor da energia solar — disse Paddy Padmanathan, ex-CEO da Acwa Power, que agora é um empreendedor em energias renováveis.

O reino está apostando que a energia elétrica abundante e de baixo custo poderia atrair indústrias intensivas em energia, como o aço. A Acwa está ajudando a construir o que provavelmente será a maior usina do mundo para a produção de hidrogênio verde, com o objetivo de exportar para a Europa e outros lugares com custos mais altos.

O único problema, dizem analistas, é que a Arábia Saudita não está avançando tão rapidamente quanto poderia. Kumar calcula que pode alcançar apenas cerca de metade da ambiciosa meta de 2030 para instalações solares. A energia eólica está ainda mais atrasada. Um dos motivos: o governo não criou as condições que poderiam atrair empresas concorrentes que poderiam aumentar a produção, dizem analistas.

A Acwa, por exemplo, será fortemente confiável para atingir as metas ambiciosas de renováveis. "Achamos difícil ignorar os riscos operacionais e financeiros", escreveram recentemente analistas do Citigroup. A empresa está listada na bolsa de valores, mas 44% é de propriedade do Fundo de Investimento Público, o principal veículo de financiamento para as iniciativas do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

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