A Equatorial Energia foi a única empresa a oferecer proposta para ser acionista de referência da Sabesp, segundo uma fonte que acompanha o processo. A Aegea, maior empresa de saneamento do país, cotada para entrar na disputa, desistiu do processo, diz a mesma fonte.
Procuradas, Aegea e Equatorial não comentaram. O governo de São Paulo informou que "em linha com o que foi anunciado no prospecto da oferta pública, os finalistas para a oferta prioritária de ações e seus preços serão divulgados na próxima sexta-feira, dia 28".
Analistas apontavam que o edital da privatização, cheio de limitações ao acionista de referência, poderia afastar interessados, inclusive a Aegea. Entre elas, está uma cláusula que impede que o acionista de referência dispute outras concessões em São Paulo e impõe, na prática, limitações em outras disputas pelo país.
Outro ponto que teria afastado a Aegea, avalia um analista, é a proibição de que o acionista de referência (que terá 15% das ações) compre ações de outros sócios para se tornar majoritário. Isso, segundo um analista, estava incomodando muito a Aegea, que tinha reclamado desse item e tem entre seus acionistas outros investidores no setor.
O prospecto de venda já previa a possibilidade de apenas um interessado fazer oferta. O cronograma prevê que ele seja anunciado na próxima sexta-feira.
Nesse caso, ela já estaria classificada para a segunda fase, em que 17% das ações serão oferecidos a investidores pessoas físicas, fundos e empresas. O valor oferecido pela Equatorial pelas ações da Sabesp não foi divulgado.
Expectativa frustrada
Uma cláusula colocada na reta final do processo que poderia beneficiar a Equatorial, segundo analistas, pode ter sido a gota d'água para a desistência da Aegea.
Ela permite que um concorrente que tenha oferecido o menor preço pelas ações da Sabesp, mas tenha obtido o maior número de reservas dos mercado, possa cobrir a oferta.
- 'Chorei ao ver dia do vencimento se aproximar': Idoso com câncer vê plano de saúde saltar de R$ 2,7 mil para R$ 11 mil
A expectativa dos analistas era que a Aegea fizesse um proposta de preço mais ousada, mas a Equatorial teria o maior número de reservas, já que tem ações negociadas na B3 e, portanto, é mais conhecida pelos investidores. Assim, poderia cobrir a oferta da concorrente.
Em reserva, uma analista do mercado avalia que a saída da Aegea é um “sinal ruim”. Além dos termos da oferta, que podem ter afastado a companhia, ele cita riscos envolvidos na operação, como de judicialização.
- Nem Bolsonaro, nem Guedes: jantar de Tarcísio para Campos Neto teve como principais convidados Temer, Doria e banqueiros
No início da semana decisão liminar da Justiça de São Paulo suspendeu lei municipal que autorizava a privatização da Sabesp em Guarulhos.
Para Percy Soares Neto, consultor em saneamento e ex-diretor executivo da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon/Sindcon), o discurso político do governo de São Paulo de que a Sabesp atrairia concorrentes acaba sendo derrubado com apenas uma oferta.
Representantes do governo estão esta semana oferecendo as ações da Sabesp a investidores internacionais num road show pelos EUA e Europa.
— Nesse caso, o governo pode ter que vender as ações pelo preço mínimo — diz Soares, lembrando que a Corsan, no Rio Grande do Sul, também foi vendida pelo preço mínimo estabelecido no edital, para a Aegea.