A Uber fará uma parceria com a BYD para colocar 100 mil veículos elétricos na plataforma da empresa de transporte por aplicativo, em um grande acordo entre empresas americanas e chinesas que, notavelmente, exclui os Estados Unidos.
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De acordo com os termos da parceria de vários anos, as duas empresas oferecerão aos motoristas preços de veículos mais baixos e financiamento. A parceria começará na Europa e na América Latina, depois se expandirá para o Oriente Médio, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, disseram Uber e BYD na quarta-feira em um comunicado conjunto.
A aliança fortalece os esforços da Uber para transformar sua frota de veículos em elétricos — uma iniciativa que o CEO Dara Khosrowshahi alertou no início deste ano que estava fora de curso.
Também é um benefício para a BYD, que tem sido uma das montadoras de mais rápido crescimento no mundo nos últimos anos. Essa expansão tem sido amplamente impulsionada pelo aumento das vendas no enorme mercado automotivo da China, e a empresa agora está embarcando em uma expansão para países onde sua marca é menos estabelecida.
Stella Li, vice-presidente executiva da BYD e CEO da BYD Américas, disse que o Brasil será um dos países da região incluídos na parceria, junto com México, Chile, Costa Rica, Colômbia e Panamá.
— No Brasil, a 99 (que faz parte do grupo chinês Didi) já tem vários carros elétricos da nossa marca. E essa parceria pode impulsionar a eletrificação da frota no país — declarou a executiva a um grupo de jornalistas brasileiros.
Ela afirmou que os modelos que podem ser usados no Brasil pela Uber são o Dolphin, Song, King. A 99 e a BYD já têm uma parceria no Brasil em que são usados modelos do BYD D1, o primeiro veículo elétrico feito sob medida para atender apps de transporte.
Com o anúncio da parceria, as ações da Uber subiram mais de 2% logo após o início do pregão regular desta quarta-feira em Nova York. Já os papéis da BYD subiram mais de 6% este ano em Hong Kong, elevando a capitalização de mercado da empresa para US$ 94 bilhões.
A parceria vai na contramão das crescentes tensões entre Washington e Pequim. A China construiu uma liderança em baterias e na cadeia de suprimentos de veículos elétricos, enquanto os EUA têm tentado combater esse domínio com uma combinação de tarifas punitivas e dezenas de bilhões de dólares em créditos fiscais para empresas e consumidores.
Estados Unidos ficam de fora
Uber e BYD não mencionam os EUA em seu comunicado, provavelmente porque o mercado está praticamente fechado para a montadora. O presidente Joe Biden prometeu aumentar as tarifas sobre os veículos elétricos chineses para 102,5% este ano, elevando uma taxa que o ex-presidente Donald Trump havia aumentado para 27,5% durante seus quatro anos na Casa Branca.
A União Europeia e países como o Canadá seguiram o exemplo, adotando ou considerando tarifas mais altas sobre as importações de veículos elétricos chineses, o que pode complicar ainda mais o objetivo da Uber de ter 100% de suas viagens em cidades dos EUA, Canadá e Europa realizadas com veículos elétricos até 2030.
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Um dos desafios da empresa tem sido a escassez de veículos elétricos acessíveis, de longo alcance e relativamente espaçosos para competir com carros de baixo custo movidos por motores de combustão, que são populares entre os motoristas de aplicativos, como o Toyota Prius.
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A BYD tem feito um esforço concentrado para fabricar veículos fora de seu mercado doméstico, com uma nova fábrica na Tailândia já em operação e planos para fábricas no Brasil, Hungria e Turquia.
Em fevereiro, a empresa concordou em fornecer carros para a Vemo, uma startup com sede na Cidade do México que oferece táxis elétricos através do aplicativo da Uber. Ela também foi um dos principais patrocinadores dos torneios de futebol Euro 2024 e Copa América, aumentando o reconhecimento da marca na Europa e nas Américas.
Barreiras para veículos elétricos
Pesquisas mostraram que o preço dos veículos elétricos e a disponibilidade de financiamento continuam sendo as principais barreiras para que os motoristas façam a transição dos carros movidos a gasolina, disseram as empresas.
A executiva da BYD disse que a meta de atingir 100 mil veículos elétricos em uso com a Uber deve ser atingida em cinco anos. Ela afirmou que os descontos oferecidos aos motoristas que desejarem comprar carros da BYD e se tornarem parceiros da Uber serão diferentes em cada país, mas não precisou o percentual:
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— No Brasil, já temos muitos clientes da BYD, que poderão operar. Estamos construindo a parceria e não tenho ideia de qual percentual dos 100 mil carros estará no Brasil.
Os veículos da BYD têm custos menores de manutenção e reparo e são bem adequados para o compartilhamento de viagens devido à ampla gama de modelos, disseram.
O acordo também pode incluir descontos em impostos, manutenção de veículos, seguro e ofertas de leasing e financiamento.
A Uber se uniu há anos com a empresa americana de aluguel de carros Hertz para oferecer vantagens aos motoristas que alugam Teslas, embora a Hertz recentemente tenha vendido grande parte de sua frota de veículos elétricos.
A empresa de transporte por aplicativo também fez parceria com provedores de redes de carregamento, como EVgo e Revel Transit, para oferecer descontos aos seus motoristas. Em Londres, a Uber se comprometeu a investir £5 milhões (US$ 6,4 milhões) em carregadores públicos para veículos elétricos.
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A Uber ainda tem um longo caminho a percorrer para fazer a transição completa de seus milhões de motoristas para veículos elétricos. No fim do primeiro trimestre, a empresa informou que 8,2% das milhas de viagens de carona nos EUA e Canadá e 9% das milhas na Europa foram completadas em veículos de emissão zero.
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Em seu comunicado conjunto, a Uber também destacou as capacidades de direção automatizada dos veículos da BYD, e as duas empresas disseram estar bem posicionadas para escalar a capacidade de veículos autônomos no futuro.
O governo chinês já autorizou o uso de sistemas de condução autônoma de nível 3, patamar no qual o carro consegue fazer detecção por sensores e tomar decisões automaticamente. Mas o condutor deve estar pronto para intervir no caso de o veículo não conseguir executar certos comandos. A BYD está entre as montadoras autorizadas a testar a tecnologia em vias públicas.