Economia Negócios

Por que Elon Musk desistiu de integrar o Conselho de Administração do Twitter?

Documento na SEC indica intenção de comprar mais ações no futuro. Para analista, será uma batalha épica a la ‘Game of Thrones’
O Twitter está na mira de Musk, que pode aumentar sua participação na empresa Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / AFP
O Twitter está na mira de Musk, que pode aumentar sua participação na empresa Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / AFP

NOVA YORK — Após revelar que tinha aumentado sua participação acionária no Twitter para 9% – o que fez dele o maior acionista da empresa – e ser indicado ao Conselho de Administração da empresa na semana passada, o bilionário Elon Musk surpreendeu os mercados com o anúncio de que não iria aceitar o convite para o ‘board’ da plataforma.

Mas, afinal de contas, o que fez o dono da Tesla e da SpaceX desistir de integrar o comitê que define o futuro da empresa da qual ele é o maior acionista?

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Analistas especulam que a decisão foi um recuo estratégico para permitir que Musk avance ainda mais sobre o Twitter. As regras da empresa impedem que um conselheiro detenha mais de 14,9% de participação acionária na plataforma.

E, segundo registro apresentado por Musk na SEC (Securities Exchange Comission, órgão que regula o mercado de capitais nos EUA) nesta segunda-feira, o bilionário poderá no futuro fazer, sim, novas compras de ações do Twitter.

“Há grande probabilidade que Musk adote uma postura mais hostil e tente aumentar ainda mais sua participação ativa na companhia”, escreveu em relatório o analista Dan Ives, da Wedbush Securities, especializada em tecnologia. O bilionário teria assim, na visão de Ives, deixado de lado uma postura de “mover a plataforma para frente estrategicamente” para uma abordagem “estilo ‘Game of Thrones’ de batalha com o Twitter”.

De acordo com o registro apresentado na SEC, Musk não tem “no momento” a intenção de adquirir mais ações da empresa. Mas ele se “reserva o direito de mudar seus planos a qualquer momento”, após avaliar fatores diversos incluindo o preço das ações e “a atratividade relativa de negócios e oportunidades de investimento alternativos”.

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Qualquer mudança significativa de participação acionária de Musk — equivalente a 1% ou mais das ações —precisa ser informada ao órgão regulador. Caso queira fazer uma proposta de compra hostil (ou seja, sem negociação prévia) da empresa, ele poderá apresentar sua oferta diretamente aos acionistas do Twitter.

Disparada das ações

A disparada no valor das ações do Twitter nos últimos dias (em parte devido à chegada do bilionário como maior acionista da empresa) poderá tornar uma aquisição mais custosa. Mas ainda assim, para Musk, não será nada tão caro assim. Homem mais rico do mundo, ele tem uma fortuna de US$ 260 bilhões, segundo levantamento da Bloomberg. O valor de mercado do Twitter atualmente está em US$ 37 bilhões.

Em comunicado nesta segunda-feira, a SEC menciona que Musk poderá levar adiante discussões com o Conselho de Administração do Twitter sobre possíveis combinações de negócios e alternativas estratégicas. E, numa reviravolta que pode ser crucial para o bilionário, um dos usuários mais atuantes do Twitter, a SEC informou ainda que Musk poderá expressar suas visões ao Conselho “por meio público através de redes sociais ou outros canais”.

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Após a informação de que Musk se tornara o maior acionista do Twitter e que poderia entrar no Conselho da empresa, as ações da plataforma chegaram a subir quase 30% em dois dias. Mas não sem controvérsia. Reportagem do Washington Post mostrou que alguns funcionários da plataforma estavam preocupados com um possível dano à cultura da empresa da ingerência de Musk.

E houve farta especulação de que o bilionário poderia pressionar a plataforma a reabilitar o ex-presidente americano Donald Trump, que foi banido do Twitter por ter feito postagens incentivando a invasão do Capitólio em janeiro do ano passado.

Na mira da SEC

Musk pode entrar novamente na mira da SEC por ter revelado com alguns dias de atraso, em relação ao prazo legal exigido, o fato de ter alcançado 9% de participação no Twitter. Além disso, ele usou para isso um tipo de formulário da SEC normalmente dedicado a informes sobre participações acionárias passivas – no caso, a investida de Musk no Twitter foi considerada depois uma participação acionária ativa.

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Ser alçado ao Conselho de Administração da empresa logo após a apresentação deste informe confuso à SEC poderia complicar sua situação.

Não seria a primeira vez que o bilionário enfrentaria problemas na SEC. Musk tenta na Justiça se livrar de um acordo firmado com a SEC em 2018, no âmbito de uma investigação sobre fraude após ele ter tuitado que fecharia o capital da Tesla sem antes apresentar um documento público a respeito, como exige a legislação.

Como parte desse acordo, Musk aceitou deixar a presidência do Conselho da montadora de carros elétricos por três anos para encerrar o processo. Por conta do imbróglio, tanto o executivo como a Tesla foram obrigados a pagar, cada um, uma multa de US$ 20 milhões.