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Economia Negócios

Turismo fatura alto com viagens domésticas e mira exterior para retomar nível pré-pandemia

Foram 7,4 milhões de embarques totais de viajantes em 2021. Receita ainda está abaixo do nível alcançado antes da Covid
Turistas fotografam o Cristo Redentor: queda no número de casos de Covid-19 e reabertura de fronteiras globalmente contribuíram para a retomada do setor de turismo Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Turistas fotografam o Cristo Redentor: queda no número de casos de Covid-19 e reabertura de fronteiras globalmente contribuíram para a retomada do setor de turismo Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO E BRASÍLIA — O turismo entrou com força em sua viagem de retomada no Brasil. As operadoras fizeram 7,4 milhões de embarques totais de viajantes em 2021. Na ponta do lápis, isso significa 14,2% mais que em 2019, superando o patamar pré-pandemia, mostram dados da Braztoa, que reúne as empresas do setor no país.

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Em receita, porém, o setor ainda está atrás do desempenho verificado antes da Covid.O faturamento das empresas em 2021 alcançou R$ 7,1 bilhões. Isso equivale a uma alta de mais de 77% em relação o ano anterior, mas ainda está 44% abaixo de 2019.

Isso ocorre porque a retomada do turismo tem as viagens nacionais como carro-chefe. Do total de embarques contados pela Braztoa, quase 96% foram para destinos do Brasil. Parte deles veio de viagens adquiridas antes de 2021, mas só realizadas no ano passado em razão da pandemia.

Com a queda no número de casos de Covid-19 e a reabertura de fronteiras globalmente, o turismo se prepara agora para a reativação das viagens internacionais, que devem colaborar para a alta no faturamento.

A Braztoa estima que, no primeiro trimestre, os ganhos das operadoras subiram 25% sobre o período de janeiro a março de 2021. A previsão é bater 60% de crescimento em 2022, recuperando o patamar pré-Covid, de R$ 15,1 bilhões.

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“O embarque doméstico superou todos os valores já registrados pela Braztoa, demonstrando que o setor de viagens soube se reinventar e criar novos produtos, além da existência de uma demanda reprimida que já começou a ser sanada”, disse Roberto Haro Nedelciu, presidente da entidade.

Sete milhões de empregos

As agências de viagens registraram alta de quase 38% em faturamento no ano passado, para R$ 19,26 bilhões.

O Nordeste é a região mais buscada por turistas brasileiros, com destaque para Salvador e Praia do Forte, na Bahia. Gramado, na Serra Gaúcha, também está entre os destinos mais procurados.

O economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, destaca que, pela Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE, o setor de turismo começou a reverter as perdas.

— A gente está vendo uma recuperação, ela é um pouco mais lenta. Os setores que integram serviços, como turismo, são os últimos a saírem da crise — diz Imaizumi.

O mercado de turismo, segundo a Embratur, responde hoje por aproximadamente sete milhões de empregos no país e impacta 52 atividades.

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A recuperação dos postos de trabalho vem avançando. O setor foi duramente impactado pela Covid. Em 2020, foram perdidos mais de 301 mil postos formais no turismo, segundo o Caged, citados pelo Ministério do Turismo. Em março, o setor ainda estava no vermelho, mas a queda vem se reduzindo gradativamente.

Havia retração de 5% em relação a 2020, segundo dados compilados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Ainda assim, representantes do setor já identificam indicadores favoráveis.

À frente da Hotéis Rio, que representa a hotelaria carioca, Alfredo Lopes já aposta em um segundo semestre melhor em ocupação de estrangeiros:

— Do fim do ano para cá, temos tido uma ocupação excelente, acima de 70%, chegando a 80% ou 85% nos fins de semana. No carnaval, foi de 81%, mesmo tendo sido quase que exclusivamente de hóspedes nacionais — diz ele. — O calendário de eventos é muito importante. Com o Rock in Rio e outros eventos, esperamos que o internacional avance de forma gradual no segundo semestre.

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O Olinda Rio Hotel, em Copacabana, tem ocupação perto de 100% desde janeiro. Argentinos, chilenos e uruguaios são maioria entre os estrangeiros, que somam 40% do total.

A unidade não demitiu na pandemia, tendo recorrido à suspensão de contratos permitida pelo governo federal. Com a reabertura, já fez ao menos dez contratações.

Namorando à distância, o paulistano Tomaz Soares, de 32 anos, e a alemã Ana Reuter, de 28, que se conheceram em Portugal enquanto cursavam mestrado, escolheram passar nove dias de férias no Rio. No período, visitaram Arpoador, Pão de Açúcar, Floresta da Tijuca e pretendem ir ao Corcovado.

— O Rio se destaca pela beleza natural, apesar de ser uma cidade grande. É o melhor dos dois mundos — opina Soares.

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Já Jairzinho Guido — mexicano, mas que leva o nome do craque do futebol brasileiro — visitava ontem o Cristo Redentor, no Rio. O comerciante adiou de 2020 para agora a viagem dos sonhos:

— Eu me apaixonei pelo Rio.

Namoro à distância: A alemã Ana e o paulistano Tomaz ficam nove dias no Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O GLOBO
Namoro à distância: A alemã Ana e o paulistano Tomaz ficam nove dias no Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O GLOBO

O potencial do turismo receptivo, de estrangeiros visitando o país, é enorme. Antes da Covid, o Brasil recebia mais de 6 milhões de visitantes internacionais ao ano, gerando R$ 6 bilhões para a economia brasileira, segundo dados do Ministério do Turismo.

— O turismo tem uma enorme capacidade de geração de emprego e renda, sobretudo nas classes mais baixas, que é onde mais precisamos. Abre vagas no setor de serviços, em alimentos, no comércio — diz André Coelho, coordenador de Projetos da FGV.

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Um dos pilares para impulsionar a expansão do receptivo é crescer a malha de voos internacionais, diz. A melhora no cenário econômico, com redução da taxa de desemprego e do dólar, pode ajudar:

— O brasileiro precisa conseguir viajar para fora pois gera demanda para as companhias aéreas. Elas implementam voos para atender, sobretudo, brasileiros, abrindo espaço ao turismo internacional.

A consultora Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur, frisa que é preciso investir com estratégia em promoção:

— Nós já entramos na pandemia em desvantagem. Em 2019, o turismo internacional cresceu 3,6% mundialmente, enquanto no Brasil recuou 4,1%. Na pandemia, quando as viagens pararam, os países seguiram divulgando seus atrativos a seus mercados emissores para que voltassem assim que as viagens fossem reiniciadas — destaca ela. — Já o Brasil botou a Embratur para atuar na promoção doméstica.

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A agência de promoção turística só voltou a focar no exterior em julho de 2021. Silvio Nascimento, presidente da Embratur, reconhece que houve prejuízo em termos de competitividade, mas atua para recuperar o tempo perdido:

— Em 2022, temos mais de R$ 100 milhões para promoção no exterior. É bem mais que em 2019, quando eram pouco mais de R$ 30 milhões. O México tem US$ 500 milhões. Mas estamos atuando em mercados prioritários, como EUA, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. A oferta de voos internacionais avança: virão novos para Lisboa e Miami.

O Brasil recebeu 1,5 milhão de visitantes estrangeiros em 2020 e 3,3 milhões em 2021, conta Nascimento, estimando que até o fim do ano que vem seja possível voltar ao patamar de 2019, de 6,35 milhões de turistas internacionais.

Turismo em números

7,4 milhões

  • Foi o total de embarques de passageiros feitos pelas operadoras de turismo em 2021, 14,2% acima de 2019, incluindo ainda viagens adiadas na pandemia.

R$ 15,1 bilhões

  • É a previsão de faturamento das operadoras em 2022, segundo a Braztoa, avançando 60% sobre o ano passado e voltando ao patamar de 2019.

R$ 100 milhões

  • É o orçamento da Embratur para promoção turística do Brasil no exterior em 2022, com campanhas publicitárias, participação em feiras e outras ações.

2023

  • É a previsão do presidente da Embratur de quando o Brasil voltará a receber 6,35 milhões de visitantes estrangeiros, como ocorreu em 2019.