Economia

No setor de seguros, tecnologia mostra que é possível reduzir a burocracia

‘Insurtechs’ lançam mão de plataformas digitais para criar pacotes de seguros customizados e de fácil adesão

Raphael Swierczynski, dirige a Ciclic, o braço digital para o setor criado pela BB Seguros em 2018
Foto:
Divulgação
Raphael Swierczynski, dirige a Ciclic, o braço digital para o setor criado pela BB Seguros em 2018 Foto: Divulgação

RIO - A tecnologia tem alterado o setor de seguros da contratação à customização de produtos com base no perfil e nas preferências dos clientes. Boa parte das inovações vêm das insurtechs, como são chamadas as start-ups do mercado de seguros, que começaram a chacoalhar as bases de um dos segmentos financeiros mais conservadores. Quando se ouve a palavra “apólice”, é difícil não associá-la a burocracia, mas essas novas empresas prometem algo bem diferente.

A digitalização do setor de seguros, a exemplo do bancário, também tem sido incentivada pelo avanço da regulação. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) tem estimulado a atuação de insurtechs por meio de sandboxes, ambientes regulatórios experimentais com menor custo e mais flexibilidade para inovar. A segunda edição do sandbox da Susep lançada neste ano vai selecionar 15 projetos. A primeira edição, em 2020, teve 11 start-ups, das quais quatro já estão em operação.

ENTENDA COMO SERÁ: Depois da revolução do Pix, ‘open banking’ entra em contagem regressiva

Uma delas é a Iza, que começou a operar em março deste ano. A insurtech tem uma espécie de combo, com quatro coberturas em uma só apólice: seguro de vida acidental, auxílio-acidente, assistência funeral e cobertura de até R$ 30 mil em despesas hospitalares e odontológicas. Tudo contratado 100% on-line e com mensalidades baixas. O alvo é o profissional autônomo de baixa renda, que não tem vínculo de trabalho formal com direito a plano de saúde e na maioria das vezes não paga INSS.

— Analisamos o mercado brasileiro e entendemos que seria interessante ampliar a proteção financeira para esse público não assistido — diz Gabriel de Ségur, fundador da Iza, que teve a ideia da start-up durante a pandemia.

A tecnologia também influencia a operação da empresa. O cliente não precisa pagar o serviço médico do próprio bolso para receber o reembolso depois, por exemplo.

— Utilizamos georreferenciamento e fazemos um acompanhamento on-line, através de vídeos enviados pelos clientes para mostrar que estão em uma consulta, por exemplo. Fazemos pagamento diretamente via Pix para o estabelecimento médico — diz Ségur.

A redução da burocracia é uma das principais vantagens da digitalização do mercado de seguros, avalia Raphael Swierczynski, CEO da Ciclic, a insurtech da BB Seguros. Segundo ele, muitos clientes acabavam desistindo de contratar quando se deparavam com os processos do modelo analógico: receber proposta do corretor, imprimir, assinar, enviar, esperar retorno da apólice.

— Todo esse processo podia levar, dependendo do produto, dois ou três dias. Agora, a plataforma parametriza as variáveis e consegue precificar na hora. Dar essa agilidade para o cliente fez muita diferença — diz Swierczynski.

FUTURO: As previsões para o setor bancário  na visão de três executivos do mercado financeiro

A Ciclic nasceu em 2018 ao lançar uma previdência privada digital. Hoje, tem também seguros para viagens, celulares, residências, entre outros. Swierczynski explica que a tecnologia tem possibilitado que as seguradoras ofereçam produtos mais alinhados às necessidades dos clientes e com preços mais adequados a cada perfil. Isso porque, em vez de criarem faixas para categorias gerais, como por idade, a tecnologia permite uma análise mais individualizada, que considera também hábitos dos segurados, como a forma de dirigir no caso de um seguro de carro ou a prática de atividades físicas no de vida.

— Tem uma diretriz chegando que é o Open Insurance, que vai trazer benefícios para os consumidores. Quando autorizarem, as pessoas terão suas informações compartilhadas entre as seguradoras. Entendendo melhor o cliente, elas poderão sair com soluções melhores, jornadas e experiência. O cliente tende a receber propostas mais assertivas e com melhor custo benefício.


A Icatu, liderada por Luciano Snel (à direita), é parceira da Betterfly, de Eduardo della Maggiora
Foto: Felipe Panfili/Divulgação
A Icatu, liderada por Luciano Snel (à direita), é parceira da Betterfly, de Eduardo della Maggiora Foto: Felipe Panfili/Divulgação

O seguro de vida, que até pouco tempo tinha pouca demanda, também tem atraído mais atenção com as inovações. Em setembro, por exemplo, a Icatu Seguros firmou uma parceria com a insurtech chilena Betterfly para oferecer aos brasileiros um seguro de vida que “paga” aos clientes que tenham uma vida saudável.

A plataforma integra outros aplicativos, como Apple Health, Samsung Health e Android Fit, que têm dados sobre os usuários. Por meio desses sistemas é possível checar, por exemplo, quantos quilômetros o cliente correu em determinado dia. A cada exercício físico ou meditação, os usuários recebem moedas digitais, que poderão ser trocadas por benefícios ou doações para instituições parceiras.

A Icatu, uma das empresas mais tradicionais do ramo, vem apostando em estratégias como esta, de se unir a start-ups, para rejuvenescer. Neste ano, já se uniu a Creditas, Flash e Guiabolso para o desenvolvimento de produtos.