Economia
PUBLICIDADE

Por Carolina Nalin e Camilla Alcântara — Rio

Influenciado pela queda nos preços de combustíveis e energia elétrica, o país teve deflação de 0,68% em julho. É a primeira queda no indicador desde maio de 2020, quando o país estava no auge das medidas restritivas em razão da Covid, e a menor taxa já registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980.

O alívio nos preços, porém, não afeta o orçamento das famílias da mesma forma. Enquanto a classe média percebe diretamente no bolso o impacto da queda de itens como gasolina e conta de luz, no orçamento dos mais pobres, a alimentação tem maior peso e segue em alta.

A aprovação do projeto que limita o ICMS, imposto estadual, sobre itens como combustível, energia e telecomunicações a 17% (ou 18%, dependendo do estado) teve papel crucial para que o IPCA registrasse deflação. Nos cálculos de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, sem essa ação, o IPCA de julho teria registrado alta de 0,7%.

Comportamento dos preços — Foto: Criação O Globo
Comportamento dos preços — Foto: Criação O Globo

Também contribuíram para o resultado a redução em R$ 0,20 do preço da gasolina cobrado na refinaria anunciado pela Petrobras dia 19 de julho. Na energia elétrica, descontos concedidos na conta de luz por dez distribuidoras, conforme determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), também influenciaram.

Com estes efeitos, o grupo Transportes caiu 4,51% em julho. Somente a gasolina registrou queda de 15,48%, e o etanol, de 11,38%. A conta de luz ficou 5,78% mais barata no mês passado. A queda abrupta no preço da gasolina, porém, não tem maior impacto para famílias de renda mais baixa.

— Quanto mais você desce na distribuição de renda, menor é o peso da gasolina na cesta. A queda na inflação foi mais forte para quem tem renda mais alta — avalia Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

De outro lado, o grupo Alimentos e bebidas não deu trégua e acelerou de 0,8% em junho para 1,3%, acumulando alta de 14,7% em 12 meses.

— A alimentação está acima da inflação média. Para cada compra que a família faz, ela leva cada vez menos itens para casa. Não podemos falar de redução da inflação quando ela não está acontecendo para as famílias de baixa renda. Os alimentos, que são o grande desafio, estão com inflação real — diz André Braz, economista e pesquisador do Ibre/FGV.

Somente o leite longa vida subiu 25,46% em julho, ao passo que os preços de derivados do leite como queijo e manteiga avançaram 5,28% e 5,75%, respectivamente. Segundo o IBGE, o aumento destes produtos se deve ao período de entressafra, que ocorre de março até outubro, e aos custos mais elevados do produtor com fertilizantes e outros insumos.

A alimentação em casa passou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. Outro destaque foram as frutas, com alta de 4,4% no mês.

Levantamento da Suno Research mostra que itens da cesta básica — como café, óleo de soja, açúcar, margarina, leite e pão — acumulam altas de 17% a 66% em 12 meses. O início do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, que começou na terça-feira, pode produzir alívio neste momento para quem enfrenta preços que não cabem no orçamento, mas economistas destacam que, adiante, deve estimular o consumo e pressionar os preços.

— O próprio Auxílio Brasil vem para suprir a perda de poder de compra diante da inflação, mas ainda vemos muitos itens de alimentos mais caros. Então, de um lado, tem alívio. De outro, tem muitas pressões que corroem o poder de compra e prejudicam o consumo dos mais pobres — resume Gustavo Sang, economista-chefe da Suno Research.

Em setembro, volta a subir

Mesmo com a deflação em julho, o IPCA acumula alta de 10,07% em 12 meses. Especialistas, porém, já preveem nova deflação em agosto, com o efeito residual da redução da gasolina anunciada dia 19 e com o novo corte de preço anunciado pela Petrobras no dia 29 de julho.

Isso levaria a taxa acumulada em um ano para um dígito. Mas, economistas esperam nova alta de preços em setembro.

— Passadas essas quedas nos combustíveis, voltamos ao padrão incômodo de inflação em torno de 0,5%, 0,6% por mês. Não é o que vimos no começo do ano, em que tudo subia, mas é uma inflação ainda bastante alta — destaca Sobral, da Neo Investimentos, que projeta IPCA de 7,4% em 2022.

De outro lado, economistas ponderam que o resultado de julho reforça a proximidade do fim do ciclo de aumento de juros básicos, atualmente em 13,75% ao ano. Ainda há dúvidas no mercado se seria necessário um aumento de 0,25 ponto percentual em em setembro ou se o Banco Central poderia encerrar agora a trajetória de alta.

Um dos fatores de preocupação é a inflação de serviços, que acumula alta de 8,87% em 12 meses, o maior patamar em oito anos.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Tyreek Hill foi algemado de bruços perto de estádio e liberado a tempo de partida do Miami Dolphins contra o Jacksonville Jaguars

Policial que deteve astro da NFL a caminho de jogo é afastado

Como acontece desde 1988, haverá uma demonstração aberta ao público no Centro de Instrução de Formosa, em Goiás

Tropas dos EUA e da China participam de treinamento simultaneamente dos Fuzileiros Navais no Brasil

Auxiliares do presidente veem influência excessiva de integrantes da legenda do deputado em eventos de campanha

Entorno de Lula vê campanha de Boulos muito 'PSOLista' e avalia necessidade de mudanças

Cantor criticou autoridades responsáveis pela Operação Integration; Fantástico, da TV Globo, revelou detalhes inéditos do caso que culminou na prisão da influenciadora Deolane Bezerra

Com R$ 20 milhões bloqueados, Gusttavo Lima diz que suspeita de elo com esquema de bets é 'loucura' e cita 'abuso de poder': 'Sou honesto'

Investigação começou após a encomenda com destino a Alemanha ser retida pelos Correio; ele criava aranhas em sua própria casa para venda

Homem que tentou enviar 73 aranhas para a Alemanha por correio é alvo da Polícia Federal em Campinas

Um dos envolvidos já havia sido preso e confessou ter entrado em uma briga com as vítimas

Chacina da sinuca: o que se sabe sobre briga após campeonato em Sergipe que terminou com seis mortos, um preso e dois foragidos

Num deles, Alexandre de Moraes é sugerido como sendo 'advogado do PCC'

Eleições SP: campanha digital de Nunes lança série de vídeos de ataques a Marçal