Economia
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Por Carolina Nalin — Rio

O Brasil registrou nova deflação no mês de setembro, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. Puxado pela queda na gasolina e nos alimentos, o índice de preços recuou 0,29% no mês. Com o resultado, o indicador ficou em 7,17% no acumulado em 12 meses.

Esta é a terceira queda consecutiva no índice de preços ao consumidor, embora menos intensa do que as registradas em julho (-0,68%) e agosto (-0,36%). Ainda assim, o recuo nos preços é um movimento considerado atípico no país.

E os economistas não esperam novas quedas no índice de preços daqui até o fim do ano. Isso porque o recuo nos últimos meses foi influenciado principalmente pela redução do preço da gasolina, e não são esperados reajustes negativos por parte da Petrobras.

Há ainda uma pressão altista sobre os preços dos combustíveis dada a diminuição da oferta de petróleo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que fez o preço do barril subir no mercado internacional recentemente. Mas economistas não colocam uma alta no radar até o momento:

— Não esperamos que a Petrobras reajuste preços para cima nos próximos meses, a menos até as eleições — pondera Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, concorda:

— Já teria espaço até para [a Petrobras] reajustar pelo menos uns 5% de gasolina e uns 10% de diesel, mas isso é muito improvável que ocorra durante as eleições. Depois tem essa possibilidade.

Há ainda expectativa de aumento nos preços dos alimentos já neste mês de outubro por conta do efeito sazonal. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, sinaliza que já começou a observar altas em produtos alimentícios em algumas coletas de preços, e explica que o forte recuo na alimentação no domicílio observado em setembro não deverá se repetir.

— O final do ano é, de novo, com alimentação no domicílio no campo positivo. E a partir do IPCA-15 de outubro [coleta considerada prévia da inflação no mês] a alimentação no domicílio já deve ficar positiva. Sem dúvida, a alimentação continuará pesando no bolso das famílias.

Cenário eleitoral alimenta incertezas

Outro ponto de atenção que pode pressionar os preços dos produtos no país é o dólar. Paira sobre economistas e analistas do mercado financeiro uma preocupação com relação aos planos dos candidatos que disputam a presidência do país no segundo turno. E o conhecimento sobre o próximo governo, embora definido no próximo dia 30, deverá mexer com os mercados mesmo após o resultado das urnas.

Diante disso, uma forte alta da moeda norte-americana em relação ao real nos próximos meses pode encarecer os insumos importados e seu custo ser repassado ao consumidor final, impactando o IPCA.

— Nunca tivemos tantos fatores de incerteza externos e internos ao mesmo tempo sobre a economia — completa Cunha, da PUC-Rio, ao mencionar os efeitos da guerra na Ucrânia sobre a economia global, a possibilidade de recessão nos EUA e a acirrada disputa eleitoral no país.

Movimento atípico no índice de preços

Esta é a maior deflação trimestral da série histórica do IBGE, iniciada em janeiro de 1980. Do início do plano Real até agora, foram registradas 17 quedas na variação mensal do índice de preços ao consumidor brasileiro. O gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, lembra que já houve três meses seguidos de deflação no indicador nos meses de julho, agosto e setembro de 1998:

— Isso já aconteceu no passado, mas foi há 24 anos.

Neste ano, a deflação é fomentada pelas reduções de preços administrados, em meio ao segundo turno das eleições, em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca reeleição.

Queda na gasolina puxa indicador para baixo

O recuo nos preços este ano tem sido motivado, principalmente, pela queda no preço dos combustíveis. Um reflexo dos efeitos da redução de impostos como o ICMS sobre combustíveis e comunicação, além da queda da gasolina nas refinarias e repassada para as distribuidoras. Desde julho, a Petrobras já anunciou quatro reduções no preço do combustível.

Em setembro, o grupo Transportes caiu 1,98% puxado pelo preço da gasolina ao consumidor, que recuou 8,33%. Os outros três combustíveis pesquisados também tiveram queda nos preços: etanol (-12,43%), óleo diesel (-4,57%) e gás veicular (-0,23%).

Segundo o IBGE, não haveria deflação nos últimos três meses caso o preço da gasolina tivesse se mantido estável. De acordo com cálculos do instituto, excluindo a gasolina e redistribuindo seu peso entre os itens da pesquisa, o IPCA registraria alta de 0,15% no mês de setembro e não queda de 0,29%. No mês de julho, em vez de -0,68%, o índice ficaria em 0,39%. Em agosto, a queda de 0,36% passaria para alta de 0,32% em agosto.

Kislanov lembra que os combustíveis e, principalmente, a gasolina têm um peso muito grande dentro do índice geral:

— Em julho, o efeito foi maior por conta da fixação da alíquota máxima de ICMS, mas, além disso, temos observado reduções no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras, o que tem contribuído para a continuidade da queda dos preços.

Apesar de um recuo no grupo dos transportes, as passagens aéreas e os serviços de emplacamento e licença de veículo ficaram mais caros em setembro, exercendo pressão contrária à da gasolina para compor o grupo. Em 12 meses, as passagens de avião já ficaram quase 50% mais caras.

Preços dos alimentos recuam, mas seguem em patamar elevado

Pela primeira vez desde novembro de 2021, há quase um ano, os preços dos alimentos e bebidas recuaram no índice de preços. O grupo alimentação e bebidas passou de alta de 0,24% em agosto para queda de 0,51% em setembro, puxado pela alimentação no domicílio, cujos preços caíram 0,86%.

O leite longa vida foi o produto que mais impactou no resultado, ao registrar queda de 13,71%. Apesar da retração, o produto ainda tem alta de 36,93% no acumulado dos últimos 12 meses.

— O leite vinha subindo muito nos últimos 12 meses, especialmente em 2022, por conta do período de entressafra, a partir de março e abril, mas também por causa da guerra da Ucrânia, que aumentou muito o preço dos insumos agrícolas. Agora, com o final do período de entressafra e a volta das chuvas, aumentou a oferta do produto no mercado, o que gerou uma queda nos preços.

Pelos cálculos do economista André Braz, coordenador de preços ao consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não fosse a queda do leite longa vida em setembro, o grupo de alimentos e bebidas teria ligeira alta de 0,08%.

— Não foi só o leite que caiu em setembro, mas ele pesa mais do que outros produtos importantes como o pão francês, frango e ovo.

Braz pondera que a boa notícia é que os preços de algumas commodities como soja, milho e trigo estão caindo por conta da desaceleração da economia global, e isso já chegou em itens como o óleo de soja, que caiu 6,27% em setembro.

Apesar da queda na variação mensal, encher o carrinho no supermercado continua desafiador para as famílias, sobretudo as mais pobres. Os alimentos e bebidas acumulam alta de 9,54% no ano. Em 12 meses, chega a dois dígitos: alta de 11,71%.

— E os alimentos subiram quase o dobro da inflação que está em 7%. Ou seja, não é qualquer queda nos preços que vai fazer o consumidor comprar mais — conclui Braz.

E há itens alimentícios que subiram em setembro. É o caso da cebola, cujos preços subiram 11,22%.

— O que está causando essa alta é o fato de a produção do Nordeste estar aquém do esperado, aliada a uma redução da área de plantio. Nos últimos 12 meses, a cebola subiu mais de 120% — destaca o gerente da pesquisa.

Outros itens comuns na cesta de consumo também pesam mais no bolso do brasileiro. As frutas, por exemplo, subiram 3% no mês e ficaram quase 30% mais caras em 12 meses. Também tiveram altas a batata-inglesa e o biscoito, que já acumulam alta de cerca de 20% no mesmo período. O lanche fora de casa também ficou mais caro em setembro, totalizando alta de quase 9% no ano.

Outro grupo em alta foi o de vestuário, em que os itens subiram 1,77% em setembro. Todos os produtos tiveram alta em setembro, com destaque para as roupas femininas que subiram 2%.

Já o grupo 'Despesas pessoais' teve alta de 0,95%, puxada pelo aumento dos serviços bancários (1,56%). Além disso, serviços ligados ao turismo, como hospedagem e pacote turístico também subiram pouco mais de 2%. Segundo o IBGE, essas altas são explicadas pelo contexto de retomada dos serviços após a pandemia.

O grupo Habitação, que passou de 0,1% em agosto para 0,6% em setembro - fruto do aumento da conta de luz por conta dos reajustes tarifários observado em São Luís (MA), Vitória (ES) e Belém (PA). Já o grupo Saúde e cuidados pessoais subiu 0,57%, uma desaceleração em relação ao mês de agosto. Ainda assim, a alta de 1,13% dos planos de saúde em setembro pesaram sobre o índice geral.

O grupo Comunicação, por sua vez, registrou queda de 2% puxado pela redução nos preços dos combos de telefonia, internet e tv por assinatura, além dos planos de acesso à internet. A queda também possui relação com a redução da alíquota do ICMS.

O IBGE anunciou ainda que está realizando ajustes no cálculo do IPCA para adequar a cobrança do ICMS sobre os serviços de distribuição e transmissão de energia elétrica.

Kislanov explica que o instituto incorporou no índice a retirada da cobrança sobre esses serviços na medida em que os estados publicaram decretos em consonância com a lei sancionada em julho, que previa essa retirada do imposto sobre estes serviços além de fixar a alíquota máxima de ICMS para a energia elétrica, combustíveis e comunicações. Mas como algumas concessionárias não cumpriram os decretos estaduais, se tornou necessário um reajuste no cálculo da energia dentro do índice de preços:

— Como a gente viu que isso continuava a ser cobrado dos consumidores, fizemos um ajuste que já passa a valer no IPCA-15 de outubro para reincorporar o efeito da cobrança de ICMS sobre serviços de transmissão e distribuição.

Perspectivas

Com as sucessivas quedas no IPCA, o mercado financeiro vem reduzindo suas projeções para a inflação deste ano. Pela 15ª semana seguida, analistas reduziram as expectativas, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. Segundo mediana das projeções das instituições financeiras, o índice deve encerrar o ano perto de 5,71%.

Principal instrumento usado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação, a taxa Selic (taxa básica de juros) está atualmente em 13,75% ao ano. Quando os preços sobem acima do previsto pelo BC, a Selic é elevada para tentar frear a inflação.

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