A startup Kavak, especializada na compra e venda de carros usados e seminovos, está anunciando sua chegada ao Oriente Médio, através da fusão com uma empresa local, a Carzaty, do mesmo segmento. A Kavak passa a operar em Omã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, totalizando dez países emergentes, considerados mercados com potencial de grande crescimento para o mercado de veículos usados.
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O investimento no Oriente Médio será de US$ 130 milhões, captados com investidores em rodadas anteriores feitas pela empresa.
-É mais um passo da nossa expansão geográfica com ambição de nos tornarmos uma empresa global. A ideia é promover nesses países do Oriente Médio a mesma transformação que fizemos no México, Brasil e Argentina com nossa proposta diferenciada de venda e compra de veículos usados - contou ao GLOBO o presidente da start-up no Brasil, Roger Laughlin.
Ele lembra que a Kavak anunciou em julho passado sua chegada à Turquia, primeiro país a atuar fora da América Latina. Recentemente, também foram iniciadas as operações no Chile, Peru e Colômbia
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A fusão com a Carzaty, segundo Laughlin, uma empresa fundada em Omã ajuda na operação, já que ela conhece as particularidades da região e seus consumidores. A Kavak utilizará a infraestrutura da companhia para estabelecer o seu modelo de negócios no país e nos Emirados Árabes Unidos, com 120 funcionários e inventário de 500 veículos, em três centros logísticos, nas cidades de Dubai e Mascate.
A empresa está construindo em Omã um centro de recondicionamento de automóveis com capacidade para processar 1.500 carros por mês.
Na Arábia Saudita, a Kavak irá desembarcar com uma operação orgânica (criando sua própria estrutura). Vai contratar 500 funcionários e estabelecer duas operações em Riad, capital da Arábia Saudita e um centro de recondicionamento de veículos do país. Marwan Chaar e Hassan Jaffar, cofundadores da Carzaty, assume os postos de copresidentes da operação da Kavak na região.
Laughlin diz que a escolha do Oriente Médio para expansão é plenamente justificável já que o mercado de usados no Oriente Médio está entre os dez maisores do mundo, com vendas que chegam a 2 milhões de unidades/ano.
- A diferença é que o preço dos veículos é de duas a três vezes mais alto do que na América Latina, e o total movimentado pode chegar a US$ 30 bilhões anuais, considerando toda a região - disse o presidente da Kavak. Ele observa que a Arábia Saudita deverá representar 70% da operação.
Os US$ 130 milhões serão investidos em tecnologia, na compra do acervo de usados - cerca de 500 neste primeiro momento - além da contratação de 500 funcionários, lojas e centros de recondicionamento.
A ideia é chegar a ter um acervo de 1,5 mil veículos nesses países. Segundo Laughlin, o modelo de compra e vendas de usados nesses países é feito através de classificados, de pessoa física para pessoa física ou através de lojistas.
O modelo de negócios da Kavak se propõe a reduzir falta de confiança e transparência em relação à procedência e o histórico de veículos usados. A start-up aposta em um modelo integrado entre aplicativo e lojas físicas, em uma tendência conhecida no varejo como “figital”.
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Durante o processo de compra, o usuário pode procurar modelos sem sair de casa, com a orientação de um atendente da empresa, e agendar a visita para ver de perto o carro escolhido. No Brasil, a Kavak oferece diferenciais como garantia de até dois anos
Recentemente a Kavak, de origem mexicana, assim como outros 'unicónios' (start-ups avaliadas em US$ 1 bilhão) reduziu seu quadro de funcionários nas operações de São Paulo e Rio, em cerca de 150 pessoas.
Hoje, são cerca de dois mil colaboradores no Brasil, incluindo a operação em Belo Horizonte, e segundo o presidente da empresa, os ajustes que tinham que ser feitos já aconteceram. O foco agora é consolidar a operação brasileira e dos demais paíes da América Latina.
Guilherme Bertoni , professor na área de tecnologia e coordenador da Start incubadora de negócios da ESPM Porto Alegre, lembra que vários "unicórnios", como a Kavak, enxugaram recentemente seus quadros de funcionários para ficar com os melhores profissionais, gerando indicadores financeiros mais robustos, depois de um crescimento acelerado. Para buscar novas rodadas de investimento, precisam indicar a expansão da operação.
- Se essa expansão da Kavak para o exterior já estava prevista, há indicação de que a operação nos países em que ela opera o modelo de negócios já está sendo validado, os resultados começam a aparecer e vale a pena expandir - diz Bertoni.
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Com a escassez de semicondutores e a quebra das cadeias de produção da indústria automobilística, durante a pandemia, o valor dos carros usados subiu muito no Brasil e no mundo. Alguns modelos usados chegaram a valer mais do que os zero quilômetros, que tinham tempo de espera de seis a oito meses no Brasil.
Esse quadro, segundo Laughlin, já começa a ser revertido com os preços recuando com a normalização da produção de veículos zero quilômetro.
Avaliada em US$ 8,7 bilhões, em setembro do ano passado, a Kavak tornou-se o maior unicórnio da América Latina. Já foram cinco rodadas de financiamento, com investidores como Softbank, Greenoaks, Founders Fund e DST Global, que colocaram mais de US$1.6 bilhão.
Atualmente mantém operações em 27 cidades, considerando os dez países, e inventário de mais de 30.000 carros distribuídos em 80 centros logísticos. A empresa iniciou a operação no Brasil em julho de 2021 anunciando um investimento de R$ 2,5 bilhões.
Thomaz Martins, coordenador do centro de empreendedorismo do Insper, que embora o investimento dos fundos de venture capital ainda esteja abaixo do finalo do ano passado, há recursos e as start-ups que conseguiram equilibrar gastos e mostraram que seu modelo de negócio é financeiramente viável devem voltar a ficar atrativas.
- Os fundos tendem a investir em start-ups que provaram que seu modelo de negócios é eficiente, dão resultados financeiros e vão usar esses recursos para crescer. Essas vão começar a se destacar e devem voltar a apresentar novas rodadas e crescimento no curto e médio prazo - diz Martins.