Economia
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Por Vitor da Costa — Rio

A nomeação de Fernando Haddad como ministro da Fazenda, anunciada nesta sexta-feira pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), retira a primeira das incertezas que estavam na mesa do mercado.

Agora, a atenção dos investidores deve se voltar para a indicação dos outros nomes da equipe e as primeiras falas de Haddad sobre o que de fato pensa a respeito da condução da política econômica. Essa é a avaliação do ex-diretor do Banco Central (BC), Tony Volpon.

Para Volpon, as sinalizações de Haddad podem preencher o vazio entre a tramitação da "PEC de Transição" no Congresso, que é mal avaliada pelo mercado, e a apresentação das primeiras bases da nova âncora fiscal.

Não vemos uma reação tão negativa dos mercados após o anúncio. Podemos dizer que a indicação já estava precificada?

Depois de várias sinalizações feitas pelo presidente eleito, estava precificado, assim como no anúncio dos outros nomes. Haddad deve dar entrevistas nos próximos dias e ele vai ter que começar a se colocar e falar o que pensa. Há muitas dúvidas sobre como será a gestão não só na questão fiscal, como no BNDES, sobre qual será a política microeconômica do governo como um todo e em relação às reformas que foram feitas no último governo, como a questão do saneamento.

O mercado vai começar a precificar como ele vai responder a essas perguntas e como ele vai se colocar.

Agora que já temos um nome, para onde irá se voltar a atenção do mercado?

Espero que ele (Haddad) entenda que brigar como o mercado não ajuda. Em um país superendividado como o Brasil, você não pode ver o mercado como inimigo.

Isso que vai estruturar as expectativas do mercado para o próximo ano, incluindo qual será a nova âncora fiscal. Ele (Haddad) tem que ter na cabeça algumas diretrizes e princípios sobre o que será essa âncora. Não precisa entrar nos detalhes, mas se espera que ele defina alguns princípios básicos como instrumentos, metas, se haverá algum componente cíclico.

Ele não precisa botar uma proposta linha por linha na mesa, mas tem que dar alguns princípios do que ele pensa sobre essa âncora fiscal. Qual serão os instrumentos, as metas, a sua estrutura. Essas coisas podem ser definidas desde já, até porque eles precisam colocar alguma coisa na mesa desde já.

Se ele jogar isso para frente, acho que o mercado vai ficar corretamente desapontado. O ministro da Fazenda não pode deixar isso no vazio. Ele tem que ter opinião própria.

Como a nomeação do restante da equipe pode interferir nesse processo?

Esses cargos, que são importantíssimos, vão sinalizar que tipo de ministro que ele vai querer ser. Eu espero que ele tenha uma equipe diversificada e que represente várias correntes do pensamento econômico.

Vai ter gente de esquerda na equipe, mas vamos ver se ele traz pessoas com pensamentos diferentes para tentar sintetizar isso, sempre lembrando que é um governo de esquerda. O mercado tem que tomar um calmante e aceitar que é um governo de esquerda e vai ter mais gasto e investimento público.

O anúncio pode ajudar a reduzir o mau humor do mercado com a “PEC de Transição”?

Se o dólar vai subir ou cair, vai ser em função disso: capacidade de comunicação e de estruturar expectativas. Essa ideia de aprovar uma PEC de Transição que vai aumentar o gasto e deixar a definição da âncora fiscal para o futuro cria um vazio. Parte da reação negativa do mercado foi esse vazio.

Eles pediram um prazo muito longo que o mercado não gostou e eu também não gostei. Acho que dois anos é um prazo razoável. Espero que no Congresso, eles deem uma limpada na PEC e a deixem um pouco mais enxuta.

Você tem essa questão da âncora fiscal para amanhã e gasto para hoje, em um governo de esquerda, o que deixa o mercado com um pouco de pé atrás.

A nomeação da equipe e as primeiras falas dele vão ser importantes para ele tentar preencher esse vazio e tentar criar uma expectativa positiva no mercado, para que a gente possa ter uma queda da taxa de juros e uma apreciação do real. Ele tem essa tarefa de estruturar essas expectativas

Quando surgiram as primeiras sinalizações do nome de Haddad, o mercado reagiu de forma negativa. A que você credita esse movimento?

A bifurcação entre governo Lula e Dilma não ajuda a esclarecer. Todo mundo tem grande orgulho dos dois primeiros mandatos do Lula, mas tem gente dentro do PT que reconhece que parte disso foi em função de uma conjuntura internacional muito favorável. Não é que nada foi feito, mas teve uma conjuntura favorável. É um pouco dos dois.

O governo Dilma não soube responder de uma maneira adequada à mudança de conjunta internacional.

Tem de tudo dentro do PT. O Haddad é uma pessoa que não vem de uma ala puramente acadêmica. Ele teve interlocução com o mercado, com uma parte acadêmica que não vem dessa tradição heterodoxa, teve uma movimentação de carreira e intelectual mais ampla e diversificada. É uma pessoa inteligente, que tem ambição política e sabe que o futuro político dele está relacionado com a condução no Ministério da Fazenda.

Ele tem a capacidade de fazer um bom trabalho, mas ele tem que começar a se posicionar nessas questões. Temos que saber quem vai ser o secretário de política econômica, quem vai para os outros ministérios.

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