Economia
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Em artigo publicado no jornal argentino Perfil no fim de semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández escreveram que vão avançar nas discussões sobre a criação de uma moeda sul-americana comum, que poderá ser usada em trocas financeiras e comerciais entre os países.

A possível criação da nova moeda, que o governo brasileiro sugere chamar de sur, será debatida em encontro bilateral na Casa Rosada, sede do governo argentino, em Buenos Aires, nesta segunda-feira. Apesar de embrionário, o projeto já levanta várias dúvidas sobre sua viabilidade e como a moeda comum funcionaria.

A nova moeda vai substituir o real ou o peso, como o euro substituiu as moedas nacionais? Poderá ser usada por turistas? O GLOBO preparou um perguntas e respostas com o que se sabe até agora. Veja abaixo.

A nova moeda sur vai substituir o real ou o peso?

Não. Se criada, a sur será uma moeda paralela às moedas nacionais. A ideia é usá-la apenas em fluxos financeiros e comerciais, reduzindo os custos das operações e a vulnerabilidade externa, explicaram Lula e Fernández no artigo publicado no Perfil. Não será, portanto, como o euro, que substituiu o marco alemão e o escudo português, por exemplo.

O governo brasileiro pedirá, inclusive, que isso fique claro no acordo a ser firmado entre os dois países para avanços nos estudos.

A sur poderá ser usada por turistas que visitam Argentina e Brasil?

A princípio não. A ideia é que a sur não seja usada em operações do dia a dia, como compras de mercado e pagamento de ingressos. Assim, não será usada nem pelos cidadãos locais nem por turistas estrangeiros.

Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é cumprimentado pelo seu par argentino, Alberto Fernández, durante visita a Buenos Aires — Foto: Reprodução
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é cumprimentado pelo seu par argentino, Alberto Fernández, durante visita a Buenos Aires — Foto: Reprodução

Qual o objetivo da criação da moeda comum?

O objetivo inicial é fomentar o comércio regional e reduzir a dependência em relação ao dólar, de acordo com o jornal britânico Financial Times, que publicou reportagem sobre o assunto no domingo. Autoridades brasileiras também dizem, reservadamente, que o projeto visa a barrar a influência da China, que tem tomado espaço do Brasil na economia argentina.

O país vizinho é o terceiro principal destino das exportações brasileiras (4,6% de participação) e a terceira principal origem das nossas importações. Mas a capacidade de a Argentina comprar produtos brasileiros vem caindo devido, entre outros fatores, às restrições ao uso do dólar.

As reservas internacionais do país hoje são de apenas US$ 7 bilhões, o que representa 50% do que os argentinos importam do Brasil por ano, em torno de US$ 14 bilhões. O Brasil, por exemplo, tem US$ 324 bilhões em reservas.

Como a moeda funcionaria na prática?

A ideia do governo brasileiro é que a sur seja semelhante a uma URV (Unidade Real de Valor), ou seja, um parâmetro econômico para transações financeiras e comerciais entre os dois países. Assim, Brasil e Argentina não precisariam recorrer ao dólar ou moedas de terceiros para as transações bilaterais.

Hoje, quando é feita uma importação de produto brasileiro pela Argentina, ela precisa recorrer a suas reservas em dólar para efetuar a transação. Com o sur, um caminhão brasileiro comprado pela Argentina, por exemplo, teria seu valor em pesos convertido em sur, que depois seria convertido em reais.

O fabricante brasileiro, portanto, receberia o valor em reais e o comprador argentino faria o desembolso em peso, sem intermediação do dólar.

Por que evitar o uso do dólar seria importante para a Argentina?

O país enfrenta grave escassez de dólar. Há mais de uma dezena de cotações diferentes da moeda americana, com objetivo de reter a saída da divisa. Também já foram adotadas medidas restritivas ao uso do dólar, como encarecimento de taxas de cartão de crédito para compras no exterior.

Mesmo com todas essas medidas, a economia argentina passa por dificuldades. No ano passado, a inflação do país foi de 94,8%, a maior em 32 anos.

Lula é recebido por grupo de apoiadores em Buenos Aires — Foto: Jeniffer Gularte
Lula é recebido por grupo de apoiadores em Buenos Aires — Foto: Jeniffer Gularte

Por que a Argentina está em crise?

A Argentina já passou por várias crises. A mais recente envolve uma crise cambial, que levou o peso a perder metade do seu valor em relação ao dólar em 2018. O Fundo Monetário Internacional (FMI) respondeu emprestando um recorde de US$ 57 bilhões para o governo liderado pelo então presidente Mauricio Macri (de centro-direita), mas o socorro financeiro não conseguiu estabilizar a economia argentina. E ainda aumentou seu endividamento externo.

A eleição de Fernández em 2019 provocou uma venda massiva de títulos do governo, que seu governo mais tarde deixou de pagar. Sem acesso ao crédito após a inadimplência, Fernández imprimiu dinheiro como nunca durante a pandemia para financiar benefícios e programas salariais, que prepararam o terreno para que a inflação disparasse.

A nova moeda poderá ser usada por outros países da América do Sul?

Segundo o ministro da Economia argentino Sergio Massa, que falou com o FT, outros países da região poderão ser convidados a fazer uso da moeda, caso o projeto vingue. O jornal britânico estima que uma união monetária que cubra toda a América Latina represente cerca de 5% do PIB global. A zona do euro abrange 14% da economia mundial.

Quanto tempo a criação de uma moeda comum pode levar?

Não se sabe. Para efeito de comparação, o projeto de criação do euro levou cerca de 35 anos para ser implementado, lembrou Massa em entrevista ao FT. Ele disse que o acordo a ser firmado entre Brasil e Argentina será o primeiro passo nessa direção.

Que tipo de estudos serão feitos?

De acordo com Massa, serão estudados todos os parâmetros necessários para a criação de uma moeda comum, como questões fiscais, o tamanho das economias, o papel dos bancos centrais, entre outros.

Já houve outros projetos de criação de uma moeda comum na América do Sul?

Sim. O assunto chegou a ser discutido entre os governos de Brasil e Argentina na época dos governos de Jair Bolsonaro e Mauricio Macri. A moeda comum se chamaria peso real. Mas houve oposição do Banco Central do Brasil à ideia. Agora, os dois países estariam dispostos a avançar no projeto.

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