Economia
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Por Manoel Ventura — Brasília

Em carta dirigida ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a inflação do ano passado ficou acima da meta estabelecida pelo governo por conta de cinco fatores. São fenômenos globais, como alta do preço do petróleo e de outras commodities, e a retomada dos serviços e do emprego após o auge da Covid-19.

No documento, Campos Neto culpa a inércia da inflação do ano anterior; a elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo; o desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais; o choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; e a retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de Covid-19 e consequente aumento da mobilidade pelo estouro da meta.

O IPCA, índice da inflação, fechou o ano passado em 5,79%, segundo o IBGE. A meta para 2022, por sua vez, era de 3,5%, com intervalo de tolerância até 5%. Por regra, quando há um resultado fora do intervalo de meta da inflação, o Banco Central precisa justificar em carta pública os motivos de um nível fora do limite, além das providências e dos prazos para trazer a inflação para o teto estabelecido.

O presidente do BC também diz que outros fatores, como redução de impostos sobre combustíveis e energia elétrica, ajudaram a aliviar a alta de preços, por sua vez. Entre eles, a redução dos impostos federais sobre combustíveis e energia elétrica.

Ele cita ainda a alta de juros ocorrida ao longo do ano passado. No ano passado, os juros subiram de 9,25% em janeiro para 13,75%. A taxa Selic é o principal instrumento para o BC controlar a inflação. "Ressalta-se o papel do aperto da política monetária para a contenção da inflação”, disse Campos Neto.

“A política monetária, que, em 2021 já havia passado do estímulo extraordinariamente elevado para o território contracionista, avançou substancialmente no terreno contracionista em 2022”, informa.

Na carta, Campos Neto afirma que a inflação deve prosseguir a trajetória de queda ao longo de 2023, terminando o ano em patamar inferior ao de 2022. “Portanto, o cenário é de convergência da inflação para as suas metas”, afirma.

Ele afirma que, em 2023, a inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022. O teto da meta deste ano é de 4,75%.

“O BC tem tomado as devidas providências para que a inflação atinja as metas para a inflação estabelecidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 3,25% para 2023 e de 3,00% para 2024 e 2025”, diz o documento.

A carta cita ainda um comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que demonstra ainda uma preocupação com o cenário fiscal do país. O Ministério da Fazenda discute um novo arcabouço fiscal para substituir o teto de gastos, que trava as despesas federais e é hoje a principal regra sobre as contas públicas.

“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, afirma o texto.

Segunda carta seguida

O BC estima que a inflação deve continuar em trajetória de queda ao longo deste ano, terminando abaixo do resultado de 5,79% em 2022, que superou o teto da meta em 0,79 ponto porcentual. “A inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022”, explicou o BC. Por outro lado, Campos Neto afirmou que a expectativa é de que esses efeitos sejam contrabalanceados em parte pela política monetária contracionista.

“Embora não de forma integral, em virtude das diferenças temporais entre os impactos dos choques, de prazo mais curto, e os efeitos da política monetária, mais concentrados no médio prazo.” O presidente do BC ainda disse que o Copom tem dado ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que “suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários”.

Desde a adoção do regime de metas em 1999, sete anos ficaram com nível de preços não desejados: 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022.

O resultado acima do desejado ocorre no segundo ano consecutivo. É, portanto, a segunda vez que o Campos Neto precisa prestar esclarecimentos sobre o comportamento da inflação. Em 2021, o IPCA acumulou 10,06%, a maior elevação desde 2015. Assim, ficou acima do teto da meta de 5,25%.

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A crise na cadeia de oferta de alimentos e energia, impactada pela guerra na Ucrânia, e os resquícios da pandemia também impactando exportações, são alguns dos fatores esperados como centrais nas justificativas do Banco Central que serão apresentadas hoje.

— A gente já vinha de um 2021 de custos em geral prejudicados por conta dos entraves nas cadeias globais de produção, com dificuldades no acesso a matérias-primas (...) Há também fatores climáticos, prejudicando muitos setores da agricultura. Esse ano foi sobretudo nos hortifrutis e nos laticínios — avalia o economista Matheus Peçanha, da FGV/Ibre.

Peçanha vê, ao longo de 2023, pressão para baixar a taxa de juros, olhando para o nível de atividade econômica. A previsão do Focus, até o final desde ano, é de uma redução de um ponto percentual (1p.p) na Selic.

— A gente espera um ano bem difícil para o nível de atividade, vários mercados maduros ensejando recessão, como China, Europa e EUA. Com esse receio, pode vir alguma pressão para reduzir um pouco a taxa de juros, mas, nesse cabo de guerra, acredito que ela se mantém neste patamar pelo menos no primeiro semestre inteiro — diz.

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