Economia
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Por Janiffer Gularte

Buenos Aires - Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Argentina, Alberto Fernandéz, anunciaram que estão empenhados em avançar nas "discussões sobre uma moeda comum sul-americana". O plano foi mencionado em um artigo, assinado pelos dois chefes de Estado, publicado neste domingo pela revista argentina Perfil.

O petista chegou a Buenos Aires nesta noite, em sua primeira viagem internacional desde que voltou ao Palácio do Planalto. A prioridade de Lula é retomar a relação bilateral entre os dois países, abalada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana que possa ser utilizada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos de operação e diminuindo a nossa vulnerabilidade externa", diz o texto veiculado na periódica.

Acompanhando Lula na viagem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que já tratou sobre o assunto com a sua contraparte, o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa. Ele afirmou que ambos estão buscando alternativas para incentivar o comércio naquele país.

— A gente está quebrando a cabeça pra encontrar uma solução, algo em comum que permita incrementar o comércio. A Argentina é um dos países que compram manufaturados do Brasil, e a nossa exportação pra cá está caindo — explicou Haddad, pouco depois de desembarcar em Buenos Aires.

Integrantes do governo brasileiro ouvidos pelo O GLOBO ponderam, no entanto, que se trata de algo embrionário. Afirmam que a discussão sobre a uma possível moeda comum vai se iniciar durante o encontro bilateral entre Lula e Fernandez, marcado para segunda-feira, na Casa Rosada, sede do governo daquele país.

Auxiliares de Lula explicam, na condição de anonimato, que o debate gira em torno da criação de mecanismos facilitadores para a troca comercial entre os países. Na avaliação dos integrantes do governo brasileiro, a Argentina tem maior interesse na criação de uma moeda em comum para fortalecer a própria economia.

Os argentinos convivem com um cenário de instabilidade política e econômica. No ano passado, o país registrou uma inflação anual de 94,8%, a maior em 32 anos.

'História reescrita'

O texto publicado por Lula e Fernández diz que "dois povos irmãos voltam a se encontrar" e reforça que a "nunca deveria ter sido interrompida", numa clara crítica velada à gestão e Bolsonaro, que se distanciou do país vizinho por falta de afinidade ideológica com o mandatário argentino.

O artigo também cita a visita de Lula como um ponto de partida para a repavimentação de espaços de diálogo em áreas como a de "combate à fome e à pobreza, saúde, educação, desenvolvimento sustentável, mudança climática e redução de todas as formas de desigualdade".

Em outro trecho, os presidentes concluem: "De uma vez por todas, a história será escrita pelos nossos povos", diz o texto.

Leia a íntegra do artigo:

Relançando a aliança estratégica entre a Argentina e o Brasil

Alberto Fernández

Luiz Inácio Lula da Silva

Dois povos irmãos voltam a se encontrar. Amanhã nos reuniremos em Buenos Aires para o primeiro encontro presidencial entre o Brasil e a Argentina em mais de três anos. Logo depois será realizada a VII Cúpula da CELAC, foro que reúne os 33 países da América-Latina e do Caribe e que, desde o ano passado, está sob a presidência da Argentina. O evento representará a volta do Brasil a esse mecanismo de diálogo e concertação regional. Essa relação nunca deveria ter sido interrompida e a história de irmandade latino-americana faz com que seja retomada. Ambos os encontros marcam um momento de recomeço, justamente no ano em que celebraremos o bicentenário das nossas relações diplomáticas.

Em Buenos Aires, vamos relançar a aliança estratégica bilateral, com a reativação de diversos espaços de cooperação e diálogo. São múltiplas as áreas em que voltaremos a atuar juntos em temas importantes para a qualidade de vida das nossas populações, como o combate à fome e à pobreza, saúde, educação, desenvolvimento sustentável, mudança climática e redução de todas as formas de desigualdade. De uma vez por todas, a história será escrita pelos nossos povos. Vamos fortalecer o papel da sociedade civil, dos governos estaduais e municipais e dos Parlamentos como atores dessa reaproximação. Sabemos que o sonho de estarmos unidos agora é uma realidade possível.

Os laços entre a Argentina e o Brasil têm como fundamento a consolidação da paz e da democracia. Queremos democracia para sempre. Ditadura nunca mais. Condenamos todas as formas de extremismo antidemocrático e de violência política.

A reindustrialização das nossas economias, com geração de emprego de qualidade e investimentos em inovação, merecerá atenção especial. O comércio entre a Argentina e o Brasil já tem alta participação de produtos industrializados em setores estratégicos. A integração entre as nossas cadeias produtivas contribui para mitigar choques externos, como os que ocorreram durante a pandemia. Não podemos depender de fornecedores externos para termos acesso a insumos e bens essenciais para o bemestar das nossas populações.

Contamos com um setor privado dinâmico e empreendedor, cuja contribuição ao processo de integração bilateral é cada vez mais necessária. Compartilhamos o firme propósito de fortalecer os já sólidos laços de comércio e investimentos entre os nossos países e promoveremos um seminário empresarial no contexto da visita presidencial.

Os nossos países continuarão desempenhando um papel fundamental para a segurança alimentar em um mundo afetado por riscos geopolíticos e graves interrupções nas cadeias de abastecimento. Estamos comprometidos em dotar a nossa agropecuária de elevados padrões de sustentabilidade e a manter seus altos níveis de produtividade.

Desejamos impulsionar projetos no campo da infraestrutura. Um tema central deste novo momento é a integração energética. A interconexão elétrica entre os nossos países já é uma realidade e a integração gasífera tem potencial para se tornar um dos projetos estratégicos da relação bilateral, com ganhos duradouros em atração de investimentos, geração de empregos e para a nossa segurança energética.

Consolidaremos a nossa posição de detentores de tecnologia nuclear para fins pacíficos, fortalecendo a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares e dando continuidade a projetos ambiciosos como o do reator multipropósito. Com a reativação do Grupo de Trabalho Conjunto sobre Cooperação Espacial, vamos colocar em órbita satélites para a realização de estudos costeiros e oceanográficos.

A relação fluente e dinâmica entre o Brasil e a Argentina é fundamental para o avanço da integração regional. Juntamente com os nossos sócios, queremos que o Mercosul constitua uma plataforma para a nossa efetiva integração ao mundo, por meio da negociação conjunta de acordos comerciais equilibrados e que atendam aos nossos objetivos estratégicos de desenvolvimento.

Pretendemos superar barreiras às nossas trocas, simplificar e modernizar regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana que possa ser utilizada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos de operação e diminuindo a nossa vulnerabilidade externa. Trabalharemos juntos pelo resgate e pela atualização da Unasul, com base no seu inegável patrimônio de realizações. A Argentina e o Brasil estão decididamente engajados na construção de uma América do Sul forte, democrática, estável e pacífica.

Precisamos lidar com um mundo cada vez mais complexo e desafiador, e temos ampla convergência sobre a agenda multilateral. Falta vontade política efetiva para enfrentar os dilemas atuais e as grandes crises: mudança climática, pandemias, guerras, fome e imigração. A ONU e o G20 devem contribuir para preencher essa lacuna de liderança em prol da mudança. Ambos podem impulsionar pautas inclusivas, emitindo sinais claros para a atuação de organizações como a OMC, o FMI e o Banco Mundial. Vamos atuar de forma colaborativa em benefício da paz e do desenvolvimento.

O mundo mais justo e mais solidário que almejamos somente será viável se tivermos a coragem de ousar moldar o nosso futuro em comum. Esse é o sentido estratégico da integração bilateral.

Não existe nada mais emancipador do que a irmandade dos povos que vêm dos primórdios da nossa história para tomar posse do seu futuro.

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