Economia
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Por João Sorima Neto — São Paulo

Até o fim deste ano, estará funcionando no interior de São Paulo, a maior fábrica de bioinsumos da América Latina. A unidade pertence à Crop Care, uma empresa controlada pelo Grupo Pátria, que busca inovações para o agronegócio e se prepara para lançar ações na Nasdaq, a Bolsa americana voltada para empresas de tecnologia.

Os bioinsumos são considerados hoje a nova fronteira da agricultura sustentável. São produtos de origem biológica (bactérias e fungos, principalmente) que ajudam na fertilização do solo e no controle de pragas sem agredir o meio ambiente, reduzindo o uso de insumos químicos.

Em entrevista ao GLOBO, Marcelo Pessanha, CEO da Crop Care, diz que o segmento de bioinsumos vem crescendo cerca de 50% ao ano e, segundo estimativas da empresa, deve manter a expansão de dois dígitos nos próximos cinco anos.

Esse crescimento, de acordo com ele, tem por trás o forte impulso da agenda ESG (que resume práticas ambientais, sociais e de governança na sigla em inglês) no mundo dos negócios, o que envolve também a produção no campo.

Ele conta que a empresa está investindo R$ 100 milhões para quintuplicar sua produção de bioinsumos, além de ampliar a pesquisa desses produtos.

Os bioinsumos são mesmo a nova fronteira da agricultura sustentável?

Este é o segmento de insumos mais recente na agricultura brasileira. É um dos menores em termos de valor de mercado, movimentando pouco mais de R$ 2 bilhões ao ano. Mas, nos últimos dois, cresceu mais de 50% ao ano, e esse ritmo vai se manter nos próximos cinco anos.

Por que só agora agricultores vêm se interessando mais pelos insumos biológicos em detrimento dos químicos?

Esse interesse aumentou porque só agora as pesquisas públicas e privadas conseguiram comprovar, do ponto de vista técnico, que os produtos biológicos são tão eficientes ou até melhores que o insumo tradicional, o agroquímico. No cultivo da soja, por exemplo, há dois anos somente um em cada dez agricultores usava algum tipo de biológico. Hoje já são cinco em cada dez.

Como a Crop Care atua no campo dos bioinsumos?

Nós compramos uma empresa, a Agrobiológica, que tem três fábricas no estado de São Paulo. Produzimos os mais diversos bioinsumos, que são os produtos que se utilizam na agricultura com o mesmo propósito dos agroquímicos, porém com o benefício de não causarem danos ao meio ambiente, às pessoas.

A agricultura que se utiliza desse tipo de insumo tem um produto melhor em termos de qualidade, de resíduos. Essa é uma tendência que tem uma agenda de ESG.

Qual foi o investimento?

Estamos investindo R$ 100 milhões. Uma das fábricas, na cidade de Itápolis (SP), vai ser a maior da América Latina. Vamos ter um centro de pesquisa e desenvolvimento lá. Compramos uma área de 500 mil metros quadrados para expandir a capacidade fabril em cinco vezes.

Essa unidade se torna operacional este ano. Vamos conseguir acelerar muito nosso plano de expansão no Brasil e na América Latina.

O que esperar do agronegócio em 2023? Temos um novo governo e o setor estava mais alinhado com o anterior. Isso pode gerar algum ruído?

O agro está num caminho de produtividade crescente que não tem volta. O governo anterior vinha com uma agenda positiva de investimento em infraestrutura para escoamento de grãos. O agro só não é mais produtivo pelos problemas de infraestrutura de portos, rodovias.

Então, o governo anterior tinha a simpatia do setor. Mas, se o novo governo continuar priorizando essa agenda, investindo em projetos que já estavam em andamento, a tendência é que as coisas fluam normalmente.

Os governos e as empresas internacionais garantem que não vão comprar produtos oriundos de novas áreas de desmatamento. Como o senhor vê essa decisão?

A preocupação é mais com o desmatamento ilegal do que com o grande produtor, que já está numa cadeia de fornecimento internacional. Do ponto de vista ambiental, o país está muito mais profissional. Temos uma política hoje ambiental no Brasil que é modelo em todo o mundo.

O que é feito de forma ilegal ainda existe, mas é muito menor do que há dez anos. Há iniciativas do governo, e da própria iniciativa privada, com regras, fiscalização. E a agenda ESG torna esse quadro ainda melhor. Obviamente, fiscalizar um país do tamanho do Brasil não é algo simples.

Em que outros segmentos a Crop Care atua?

Além dos bioinsumos, atuamos com agroquímicos, através de outra empresa, a Perterra. Esse setor é muito mais estratégico para a mitigação de riscos da alta dependência de fornecedores chineses, indianos. Foge do conceito da Crop Care que é ser uma indústria voltada para a inovação.

Buscamos uma compra mais barata e ao mesmo tempo ter nossos próprios rótulos de itens que são básicos na cesta do agricultor. E temos o pilar dos fertilizantes especiais, um mercado que gira cerca de R$ 14 bilhões por ano.

Como funcionam os esses fertilizantes? Ajudam a tornar a cadeia de produção mais sustentável?

Oito em cada dez agricultores já utilizam algum tipo de fertilizantes especiais. Com o passar dos anos, na agricultura intensiva que existe no Brasil, o solo vai se empobrecendo. Com eles você devolve uma parte da vida originária do solo através de um produto com microorganismos. E nutrientes colocados no solo, como fósforo, são melhor absorvidos pelas plantas.

Utiliza-se menos adubo químico, o custo de produção fica menor, e a produtividade aumenta. E aí você consegue criar uma dinâmica de sustentabilidade de ponta a ponta. Produzir mais com insumos sustentáveis, reduzindo o químico e o custo. A médio prazo, isso se refletirá para o consumidor com produtos mais baratos.

A Crop Care produz esses fertilizantes?

Sim. Compramos uma fábrica, que se chama Union Agro, há pouco mais de um ano, em São Paulo. Está entre as dez maiores desse segmento do Brasil. Tem mais de sessenta produtos em seu portfólio.

Com a guerra entre Rússia e Ucrânia faltaram fertilizantes no Brasil?

Faltaram, mas porque houve atrasos na logística. O que aconteceu é que os preços dispararam, em média, até 50%. Mas já recuaram. E a inflação de alimentos que vimos nos últimos 12 meses tem a ver com isso porque aumentou o custo de produção.

Mas o cenário de guerra também impactou positivamente a agricultura brasileira porque os preços das commodities estão muito bons. O agricultor ganhou mais dinheiro e contrabalanceou com o aumento do fertilizante.

Essa nova geração de agricultores, na faixa de 40, 50 anos, filhos dos fundadores, está buscando uma produção mais sustentável?

Sem dúvida. Mas eu não excluiria os agricultores veteranos. Há uma transformação muito grande na linha de pensamento deles também. Eles são influenciados exatamente pela nova geração, mas o consumidor final está mais exigente, tem mais acesso à informação. Isso está fazendo com que toda a agenda de sustentabilidade ESG ganhe prioridade e velocidade na agricultura.

A Crop Care também busca inovação nas startups que atuam no campo?

Sim, mas a prioridade do fundo Pátria, que investe na empresa, é olhar empresas de pequeno e médio porte que já estão atuantes no mercado, que já têm um portfólio. A Crop Care é uma holding que tem uma agenda de inovação e busca comprar empresas disruptivas.

Estamos olhando outras empresas no segmento de biológicos para comprar e acelerar o nosso plano de expansão. Com as startups, que têm capacidade muito grande de desenvolver ideias e inovações, a ideia é fazer parcerias e não necessariamente comprá-las.

A Crop Care pretende abrir seu capital na Bolsa?

Sim. Estamos na transição entre a abertura e as últimas auditorias. Por isso, estamos num período de restrição na divulgação de números. O IPO na Nasdaq está previsto para os próximos três meses.

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