Economia
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Por Vitor da Costa — Rio

Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) eleva juros na tentativa de desaquecer a maior economia do mundo e combater a inflação, o mercado de trabalho americano dá sinais contraditórios e aumenta as dúvidas entre economistas sobre a resiliência do emprego no país.

Nos últimos meses, chamou a atenção a onda de demissões em grandes empresas de tecnologia como Twitter, Meta, Google e Microsoft, mas a taxa de desemprego nos EUA ficou em 3,4% em janeiro, patamar mais baixo desde 1969, segundo dados do Departamento do Trabalho.

Nos últimos meses, a criação de vagas tem mostrado resiliência e o número de novos pedidos de seguro-desemprego segue em patamares baixos. Enquanto isso, a inflação dá sinais de que ainda não foi domada.

A passos lentos, as demissões começam a chegar a setores mais tradicionais da economia, com as empresas apertando os cintos para o que pode ser um endurecimento ainda maior do Fed — que desde março elevou taxas oito vezes consecutivas — para frear a economia e até provocar uma recessão para interromper o ciclo inflacionário. A dúvida é até quando o mercado de trabalho americano vai resistir.

De acordo com dados compilados pela Challenger, Gray & Christmas, janeiro reuniu o maior número de cortes de vagas desde 2020. As empresas relataram 102.943 demissões no mês passado, mais que o dobro dos anunciados em dezembro e um aumento de 440% em relação a janeiro de 2022.

O setor de tecnologia ainda lidera, com 41% do total, mas o comércio e o setor financeiro vêm em seguida, com 13 mil e 10,6 mil dispensas, respectivamente.

As demissões nas big techs, que haviam contratado muito na pandemia, chamam a atenção por envolver profissionais muito qualificados, mas o impacto é pequeno na estatística geral. O início de cortes em serviços, manufatura, varejo e assistência médica, setores que empregam mais mão de obra, são termômetros melhores sobre o estado da economia americana, apontam os economistas.

Recentemente, houve demissões em grandes indústrias americanas, como Dow, 3M e Boeing, e também no setor de serviços, como a gigante de logística e entregas FedEx.

No setor financeiro, grifes como Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of New York Mellon também reduziram o contingente nos escritórios. Para Susan Schurman, professora da Escola de Administração e Relações Trabalhistas da Rutgers Univerity, o movimento de uma grande empresa geralmente é seguido por outras:

— Até agora, as demissões em tecnologia não parecem ter tido impacto na economia em geral. No entanto, podem se espalhar, pois parece haver um certo fenômeno “imitador” nas decisões.

O que ameaça empregos nos EUA é a alta de juros, que encarece o crédito e dificulta o consumo e investimentos das empresas, para combater uma inflação que ainda roda em torno de 6,4% na base anual — após pico de 9,1% em junho —, ainda muito distante da meta de 2%.

O que explica a resiliência?

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central do Brasil, avalia que a alta dos juros nos EUA já promoveram um aperto significativo nas condições financeiras dos americanos, impactando segmentos como o mercado imobiliário e o setor de manufaturados. A questão, agora, é saber se e quando esse aperto vai atingir os serviços, de restaurantes a salões de beleza, do turismo ao entretenimento.

— A economia americana está muito desbalanceada nesse momento. Há setores já em recessão e outros sobreaquecidos, como o de serviços, onde ainda há um efeito de reabertura (após as restrições da pandemia). A pergunta que fica é se esses setores vão desaquecer, porque eles empregam muitas pessoas.

Setores como os de restaurantes têm um nível elevado de vagas ociosas e alta rotatividade. Embora o mercado de trabalho não tenha sido o principal impulsionador da inflação no país — impactado principalmente pela alta dos custos de energia e falhas em cadeias produtivas provocadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia —, ele dificulta sua redução.

Se há menos trabalhadores disputando vagas, as empresas pagam salários mais altos e repassa esse custo ao preço final para os consumidores. Na outra ponta, quando o trabalhador está ganhando mais a tendência é de maior consumo, o que mantém a demanda necessária para que as empresas aumentem seus produtos e serviços.

O economista-chefe do Deutsche Bank para os EUA, Matthew Luzzetti, e a analista de pesquisa do banco, Amy Yang, destacam que o fato da demanda de o contingente de mão de obra permanecer elevado em um contexto de oferta restrita explica a resiliência do mercado de trabalho.

— As duas principais restrições que destacamos são o aumento da aposentadoria nos EUA, que pode estar subtraindo cerca de dois milhões de trabalhadores da força de trabalho, e menor imigração, que gera a escassez de trabalhadoras nascidos fora do país — destacaram.

A recessão virá?

Na coletiva após a última elevação das taxas, o presidente do Fed, Jerome Powell, refirmou que acredita na possibilidade de trazer a inflação para a meta sem causar grandes impactos negativos para a economia do país.

Após a divulgação de dados de inflação acima do esperado na sexta-feira, parte do mercado já prevê que o Fed terá que entregar uma taxa terminal de juros mais alta, além de mantê-la em patamar elevado por mais tempo. Bancos como o Goldman Sachs, Bank of America (BofA) e Barclays elevaram recentemente sua estimativas de taxa terminal para 5,5%.

Volpon não avalia o cenário projetado por Powell como possível. Segundo ele, a força do consumo no país, ainda estimulada pelos incentivos fiscais dados durante a pandemia, começa a desaparecer. Com o passar do tempo, a demanda por serviços vai cair, o que levará a mais demissões e a uma recessão, ainda que branda.

— Apesar do otimismo do Powell, acho bastante improvável a ideia de que se consegue entregar uma inflação mais perto da meta sem ter uma recessão e sem o setor de serviços demitindo.

Para os especialistas do Deutsche Bank, o Fed vai precisar apertar a política o suficiente para reduzir a demanda por mão de obra e as vagas de emprego, o que pode começar em meados de maio.

— Um pouso suave ainda é possível, mas não é o resultado mais provável. A chave será como as empresas ajustarão suas decisões de contratação e demissão à medida que a demanda diminuir ainda mais nos próximos meses. Dito isto, com as carências estruturais no mercado de trabalho, as empresas poderão estar menos propensas a despedir trabalhadores

Rio Ortiz, 42 anos. — Foto: Arquivo pessoal
Rio Ortiz, 42 anos. — Foto: Arquivo pessoal

Rio Ortiz, de 42 anos, trabalhava como gerente de operações em uma varejista de comércio eletrônico há seis anos e meio em Salt Lake City, em Utah, mas surpreendeu-se com a demissão em janeiro, a primeira de sua carreira. Mas acredita na possibilidade de encontrar uma nova posição logo:

— Não reduzi consumo, mas passei a comprar itens semelhantes que custam menos. Já trabalhei em várias empresas e, na transição de uma para outra, não tive nenhuma dificuldade (em se recolocar).

E o Brasil?

Segundo Volpon, a combinação de uma leve recessão nos EUA com a reabertura da economia chinesa com uma nova política de contenção da Covid pode beneficiar o Brasil:

— O dólar cai quando a economia americana começa a patinar ou está pior do que a global, porque o dinheiro sai dos EUA e busca outras localizações geográficas, incluindo emergentes, o que favorece os ativos nesses países. A economia americana não passará por uma crise como em 2008, o comparativo é com o início dos anos 2000.

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