Economia
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Por João Sorima Neto — São Paulo

A Nortec, instalada no município de Duque de Caxias, no Estado do Rio, fatura R$ 230 milhões por ano produzindo insumos farmacêuticos para medicamentos como anestésicos locais e antirretrovirais. Exporta de 10% a 15% de sua produção de 300 toneladas para América Latina, Europa e EUA. Com a reabertura da economia da China, após três anos de isolamento do país por causa da Covid, abriu-se uma nova janela de exportação. A Nortec já começou negociações para vender seus insumos ao mercado chinês, que considera estratégico. Espera ter a aprovação da “Anvisa da China” este ano e já em 2024 iniciar as vendas, que devem ficar inicialmente entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, subindo para R$ 50 milhões nos anos seguintes.

Se a reabertura da segunda maior economia do mundo já traz novos negócios para a Nortec, também está sendo comemorada globalmente, por empresas e governos. Economistas avaliam que uma retomada consistente do crescimento chinês nos próximos anos terá impacto positivo no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E países emergentes como o Brasil, que têm na China seu principal parceiro comercial, devem se beneficiar.

— Este mês, vamos mandar nossa primeira missão para a China desde 2019. Era complicado negociar com o país fechado. Agora estamos bem otimistas — diz Marcelo Mansur, diretor-presidente da Nortec.

Mudança de modelo

O banco Goldman Sachs só esperava a reabertura chinesa no segundo trimestre. Com a antecipação, revisou sua projeção para o crescimento da China de 4,5% para 5,5%. O banco estima ainda um aumento de 10% no preço das commodities, especialmente minério de ferro e soja, pode acrescentar 0,5 ponto percentual no crescimento do PIB brasileiro. Já um aumento de 10% nas exportações (em volume) tem impacto de 0,3 ponto no PIB do país, segundo estudo feito por Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs.

O peso do país asiático na economia brasileira — Foto: Editoria de Arte
O peso do país asiático na economia brasileira — Foto: Editoria de Arte

Analistas de bancos estrangeiros já preveem alta de até 5% no preço do petróleo. Já a tonelada do minério de ferro pode atingir US$ 130 (em 2022, encerrou a US$ 111), com a demanda mais forte estimulada pela reabertura da China, estima o Citi.

Empresas que já fazem negócios com os chineses estão mais otimistas. Produtoras de frango e suínos, por exemplo, esperam crescimento global de 12% nas exportações de porcos e 3% a 4% nas de aves este ano, segundo estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Só no ano passado, foram quase US$ 2,5 bilhões.

— A China é nosso principal comprador. Adquiriu 43% da carne de porco exportada ano passado e 12% da de aves — diz Luís Rua, diretor de Mercados da ABPA, que desde o fim de 2022 tem uma gerente em Pequim.

Balança comercial entre Brasil e China em 2022 — Foto: Editoria de Arte
Balança comercial entre Brasil e China em 2022 — Foto: Editoria de Arte

O governo Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma visita à China para o fim de março, e a ABPA vai pedir a habilitação de novas fábricas para exportação e o reconhecimento de Paraná e Rio Grande do Sul como estados livres da febre aftosa sem vacinação.

A Petrobras também está animada. A reabertura e a recuperação econômica da China trazem impactos muito positivos para o mercado em geral e “também para a companhia, que tem no país asiático um importante mercado consumidor de petróleo”, diz a empresa em nota.

No ano passado, a China cresceu 3%, um número pífio se comparado à expansão de dois dígitos registrada no início dos anos 2000. Entre 1978 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês passou de US$ 150 bilhões para US$ 12,2 trilhões. Este ano, as estimativas indicam crescimento entre 5% e 5,5%. O governo chinês anunciou recentemente uma série de reformas no sentido de mudar a estratégia de crescimento, com uma substituição gradual do modelo de exportações pelo consumo interno, de olho em uma expansão sustentável a longo prazo.

Essa guinada traz desafios, como aumentar salários sem cutucar a inflação. E a crise de liquidez no setor imobiliário, com queda nas vendas e prédios inacabados, também preocupa. O governo barateou o financiamento a fim de estimular o setor, mas analistas lembram que, na pandemia, muitos empregadores de pequeno e médio porte faliram, e os padrões de consumo podem ter mudado bastante.

— A reabertura da China deverá reverberar no mundo todo. Mas será preciso observar se o efeito será mais interno ou externo, com essa mudança de modelo econômico. De qualquer forma, a força da economia chinesa, a segunda maior, é um amortecedor para o mundo e um vetor de crescimento para países emergentes — diz Matheus Spiess, analisa da Empiricus Research.

Spiess observa que os preços das commodities já estão elevados. Se isso se mantiver, puxado por um crescimento sustentável da China, há chance de um novo ciclo de commodities, e o governo Lula se beneficiaria desse movimento já a partir de 2024. Para este ano, Spiess projeta que a China cresça 5%.

O estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, concorda que a reabertura chinesa é uma notícia boa, mas lembra que outras grandes economias tiveram recuperação forte no pós-Covid para em seguida perder força. Por isso, diz, será preciso observar os fundamentos da economia chinesa e seus ganhos de produtividade.

De olho no baixo carbono

Segundo Rostagno, a reabertura chinesa abre o apetite de investidores estrangeiros por mercados emergentes, mas haverá mais seletividade, e países com a macroeconomia estável levam vantagens.

— O Brasil tem muitos desafios neste início de governo e, para se beneficiar, precisa fazer a lição de casa, apresentando seu novo arcabouço fiscal e medidas que melhorem o ambiente de negócios, como segurança jurídica, reforma tributária. É isso que vai definir o fluxo de investimentos para cá, e não apenas a recuperação da economia chinesa — diz Rostagno.

Ele lembra que tanto o ambiente interno como o externo eram diferentes no primeiro governo Lula. Hoje, a economia global está desacelerando, e o avanço da inflação é global. Os juros internacionais estão mais altos, e o risco de problemas com dívidas é maior.

— O ambiente econômico atual é muito mais desafiador do que naquela época — avalia Rostagno.

Larissa Wachholz, sócia da assessoria Vallya, pesquisadora do Cebri e especialista em China, observa que o país asiático está cada vez mais preocupado com questões ambientais, e o Brasil tem potencial em agricultura de baixo carbono, energia renovável e produtos estratégicos, como lítio e biofertilizantes.

— A reabertura da China é importante porque chinês gosta de negociar olho no olho. O governo brasileiro pode ajudar tirando barreiras, mas o setor produtivo precisa se movimentar para aproveitar as novas oportunidades — diz Larissa.

A Vale, que exporta minério de ferro para a China, já vê oportunidades também em produtos de baixo carbono. A companhia desenvolveu o briquete verde, espécie de combustível que pode ser usado na siderurgia, reduzindo emissões em mais de 10%.

“Como um dos maiores produtores mundiais de níquel, matéria-prima chave para baterias de veículos elétricos, também vemos oportunidades do rápido crescimento do setor de veículos de energia nova da China, que aumentou sua produção em 97% e suas vendas em 93% em 2022”, afirmou a Vale em nota.

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