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Por Kevin Roose, The New York Times

Ainda recordo da primeira vez que usei o Google. Eu era um nerd e estava entrando na adolescência. Por semanas, eu não conseguia parar de falar com os meus amigos e familiares sobre o novo mecanismo de busca de nome estranho: a rapidez com que retornava com os resultados, o quanto ele era mais inteligente e intuitivo do que os mecanismos de pesquisa existentes, e como foi mágico poder acessar o conhecimento das profundezas da internet.

Tive uma sensação de admiração parecida nesta semana quando comecei a usar uma nova inteligência artificial, o novo Bing com IA. Sim, o Bing, o mecanismo de pesquisa eternamente ridicularizado da Microsoft. (Ele está bom agora. Eu sei, ainda estou me ajustando também).

A Microsoft lançou o novo Bing, que é turbinado por um software de inteligência artificial da OpenAI, criadora do popular chatbot Chat GPT, com grande alarde em um evento na sede da empresa na última terça-feira.

'Momento iPhone' da Microsoft

Foi anunciado como um evento marcante — o "momento iPhone" da Microsoft — e muitos executivos da Microsoft, incluindo o chefe, Satya Nadella, circulavam orgulhosamente pelo centro de imprensa, conversando com repórteres e exibindo os novos produtos da empresa.

Mas a verdadeira estrela foi o próprio Bing ou, melhor, a tecnologia de inteligência artificial que foi instalada no Bing para ajudar nas respostas aos usuários e conversar com eles sobre qualquer tópico imaginável.

(A Microsoft não diz qual versão do software está rodando sob o capô do Bing, mas há rumores de que seja baseado no GPT-4, um modelo de linguagem ainda a ser lançado).

A Microsoft, que investiu na OpenAI pela primeira vez em 2019 e fez um novo aporte este ano, dessa vez de $10 bilhões está surfando numa onda de progresso recente em inteligência artificial, que agora é capaz de competir com o Google, que teve por muito tempo uma posição dominante no mercado de buscas (e que levou um susto com toda a comoção recente do ChatGPT e de novas ferramentas similares).

E não será só o Bing. A Microsoft planeja incorporar a tecnologia da OpenAi em vários produtos.

Mas o relançamento do Bing é especialmente importante para a Microsoft, que tem lutado para ganhar espaço no mercado de buscas há anos. Se funcionar, ele pode reduzir o domínio do Google em buscas e abocanhar ao menos parte dos mais de US$ 100 bilhões em receita anual de publicidade do buscador.

Satya Nadella, CEO da Microsoft, fala sobre as novas funcionalidades do Bing no campus da empresa em Redmond — Foto: Ruth Fremson/The New York Times
Satya Nadella, CEO da Microsoft, fala sobre as novas funcionalidades do Bing no campus da empresa em Redmond — Foto: Ruth Fremson/The New York Times

Respostas com contexto e links

O novo Bing, que está disponível para um pequeno grupo voltado a testes e terá acesso ampliado em breve, aparenta ser um híbrido de um mecanismo de busca padrão e um chatbot no estilo GPT.

Digite uma frase — diga, “me escreva um menu para um jantar vegetariano” — e o lado esquerdo da sua tela será preenchido com anúncios padrão e links para sites de receitas. No lado direito, o Bing começa a digitar uma resposta com sentenças completas, geralmente linkadas aos sites de onde as informações foram retiradas.

Para fazer uma pergunta relacionada ou solicitar informações mais detalhadas — por exemplo, “escreva uma lista de compras para o menu, dividida por corredores (do supermercado) e com quantidade suficiente para oito pessoas” — você pode abrir uma janela de chat e digitar. (Por enquanto, o novo Bing funciona apenas em computadores desktop usando o Edge, o navegador da Microsoft, mas a empresa disse que planeja expandir para outros navegadores e dispositivos).

Eu testei o novo Bing por algumas horas na tarde de terça e é uma melhora significativa sobre o Google. Também é uma melhora significativa em relação ao Chat GPT, que, apesar de suas capacidades, nunca foi desenvolvido para ser usado como um mecanismo de busca. Não cita suas fontes e tem problemas para incorporar informações ou eventos atualizados.

Informações atualizadas

Então, enquanto o ChatGPT pode escrever um lindo poema sobre beisebol ou redigir um e-mail irritado para o seu senhorio, é menos adequado para dizer o que aconteceu na Ucrânia na semana passada ou onde achar uma boa refeição em Albuquerque.

A Microsoft deu a volta por cima em algumas limitações do Chat GPT ao casar as capacidades de linguagem da OpenAI com as funcionalidades de busca do Bing, usando uma ferramenta proprietária chamada Prometheus. A tecnologia funciona, basicamente, extraindo termos de busca das solicitações dos usuários, executando essas consultas por meio do índice de pesquisa do Bing e, depois, usando os resultados em combinações com seu próprio modelo de linguagem para formular uma resposta.

Tanto nos testes da Microsoft quanto nos meus próprios testes, o Bing se saiu bem em uma boa variedade de tarefas, incluindo criar itinerários de viagem, brainstorming de ideias para presentes e resumo de livros e enredos de filmes.

Jornalistas fazem 'test-drive' do Bing turbinado com inteligência artificial na sede da Microsoft, em Redmond — Foto: Ruth Fremson/The New York Times
Jornalistas fazem 'test-drive' do Bing turbinado com inteligência artificial na sede da Microsoft, em Redmond — Foto: Ruth Fremson/The New York Times

No navegador, textos automáticos

A Microsoft também incorporou a tecnologia da OpenAI no navegador Edge, como uma espécie de assistente de texto superpoderoso. Os usuários agora podem abrir um painel no Edge, digitar um tópico geral e ter um parágrafo gerado por inteligência artificial, post para blog, e-mail ou lista de ideias em um ou cinco tons (profissional, casual, informativo, entusiasmado ou engraçado).

Eles podem colar esse texto diretamente em um navegador, um aplicativo de mídia social ou um cliente de e-mail.

Os usuários ainda podem conversar com a inteligência artificial do Edge sobre qualquer site que eles estiverem visualizando, solicitando resumos ou qualquer informação adicional.

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Em uma demonstração impressionante na terça, um executivo da Microsoft acessou o site da Gap, abriu um arquivo PDF com os resultados financeiros trimestrais mais recentes da empresa e pediu ao Edge para resumir as principais conclusões e criar uma tabela comparando os dados com os resultados de outra empresa de roupas, a Lululemon. Os comandos foram executados de forma quase imediata.

Ainda longe da perfeição

O novo Bing está longe de ser perfeito. Assim como o Chat GPT, pode dizer bobagens que soam como verdadeiras e as respostas podem ser erráticas. Quando o pedi para solucionar um problema de matemática básica — “se doze ovos custam 24 centavos, quantos ovos vocês podem comprar com um dólar?” — uma resposta errada foi gerada (ele respondeu 100, mas o certo seria 50).

O Bing também não se saiu bem quando pedi uma lista de atividades para crianças na minha cidade natal no próximo fim de semana. Entre as sugestões, estava um desfile do Ano Novo Lunar (que tinha acontecido na semana passada), um evento de arrecadação para uma escola local (que aconteceu há duas semanas) e uma “celebração de Hanukkah tie-dye” (que aconteceu no meio de dezembro).

Também há questões legítimas sobre quão rápida toda essa tecnologia de inteligência artificial está sendo desenvolvida e implementada.

Direitos autorais e viés

E, claro, usar modelos de linguagem por inteligência artificial para responder a consultas de pesquisa levanta uma série de questões espinhosas sobre direitos autorais, atribuição e viés (para nomear um exemplo óbvio: o que aconteceria com todos os editores que dependem do Google como fonte de tráfego se ninguém no Bing precisar clicar nos links para seus sites?).

Mas focar nas áreas onde essas ferramentas falham coloca em risco o que elas trouxeram de bom. Quando o novo Bing trabalha, não é apenas um mecanismo de pesquisa melhor. É uma nova forma de interagir com a informação na internet, cujas implicações completas ainda estou tentando entender.

Kevin Scott, o diretor de tecnologia da Microsoft, e Sam Altman, o diretor executivo da OpenAI, disseram em uma entrevista conjunta na terça-feira que esperavam que essas questões fossem resolvidas com o tempo. Ainda é cedo para esse tipo de IA, disseram eles, e é muito cedo para prever as consequências de colocar essa tecnologia nas mãos de bilhões de pessoas.

Sam Altman, à esquerda, presidente-executivo da OpenAI, e Kevin Scott, diretor de tecnologia da Microsoft, durante uma entrevista em um evento de mídia para o novo mecanismo de pesquisa Bing com inteligência artificial no campus da Microsoft em Redmond, Washington, 7 de fevereiro de 2023 — Foto: Ruth Fremson/The New York Times
Sam Altman, à esquerda, presidente-executivo da OpenAI, e Kevin Scott, diretor de tecnologia da Microsoft, durante uma entrevista em um evento de mídia para o novo mecanismo de pesquisa Bing com inteligência artificial no campus da Microsoft em Redmond, Washington, 7 de fevereiro de 2023 — Foto: Ruth Fremson/The New York Times

- Como em toda tecnologia nova, você não prevê perfeitamente todos os problemas e limitações - disse Altman. - Mas se você executar um ciclo de feedback muito rigoroso, no ritmo em que as coisas estão evoluindo, acho que podemos chegar a produtos sólidos muito rapidamente.

Por agora, apenas uma coisa está clara: depois de anos de estagnação, a Microsoft e a OpenAI tornaram as buscas interessantes de novo. Depois de publicar essa coluna, farei algo que nunca pensei que faria: estou mudando o mecanismo de pesquisa padrão do meu computador para o Bing. E o Google, que durante toda a minha vida adulta foi minha principal fonte de busca por informações, terá que me fisgar de volta.

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