Economia
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Por Janaína Figueiredo — Rio

Em sua primeira viagem internacional a Buenos Aires, no final de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar "de volta para fazer bons acordos com a Argentina”. A promessa foi levada ao pé da letra pelo governo do presidente Alberto Fernández que, através de missão enviada a Brasília na semana passada, cobrou ajuda do Brasil para financiar as exportações argentinas para o mercado brasileiro.

Diante da dramática escassez de dólares no país e, em ano de eleição presidencial, prevista para outubro, a Casa Rosada espera obter um socorro brasileiro para, em palavras de uma fonte argentina, garantir que o país terá, em 2023 uma variação positiva de seu PIB pelo terceiro ano consecutivo.

Nos primeiros dois meses do ano, as exportações brasileiras para a Argentina subiram quase 20% frente ao mesmo período do ano passado. A tendência preocupa os argentinos, que chegaram a Brasília para dizer que o país não tem dólares suficientes para manter esse ritmo. Já o Brasil está preocupado pelo aumento das queixas de seus exportadores para entrar no mercado vizinho.

E como poderia ser o socorro do Brasil aos argentinos? Essa é a grande questão. O plano A do governo Fernández é um esquema de swap (troca de moedas) entre bancos centrais, similar ao que a Argentina tem com a China — país que, dadas às facilidades de financiamento que oferece para suas exportações, enfrenta menos restrições para enviar seus produtos para a Argentina.

Com a China, US$ 20 bi em 2020

O swap com a China foi fechado em 2020, por um total de US$ 20 bilhões. O mecanismo prevê, em grandes termos, o envolvimento dos bancos centrais: ambos os países fazem um depósito em sua moeda local, que financia as exportações de cada lado. Assim, o exportador recebe o pagamento em sua própria divisa, sem atrasos.

Desde o ano passado, a demora da Argentina em liberar divisas para pagar exportações brasileiras — e de muitos outros países — causa mal estar entre empresários brasileiros. A missão enviada pela Casa Rosada, integrada por funcionários de vários ministérios, se reuniu com representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que entregou uma lista de 120 empresas brasileiras que sofrem dificuldades — basicamente demoras de até 180 dias, ou até mais — para receber o pagamento por suas exportações para a Argentina.

A escassez de dólares levou à Argentina, há vários anos, a implementar um esquema de comércio administrado, que o Brasil aceita porque sua participação no mercado vizinho continua sendo importante. No entanto, o que o governo Lula pede é previsibilidade, algo essencial para qualquer empresa que opera em mercados externos.

As dificuldades que o Brasil enfrenta na Argentina não atingem as empresas chinesas, porque o swap garante que, no caso da China — hoje principal parceiro comercial da Argentina —, o BC argentino não tenha de liberar as poucas divisas de que dispõe para pagar os exportadores chineses.

O governo brasileiro ouviu a proposta e se dispôs a estudar o esquema chinês. Mas, segundo fontes do governo Lula, não é algo simples de realizar, e, seja qual for a solução encontrada, o Brasil exigirá que suas exportações não enfrentem mais limitações.

Nas palavras de uma fonte brasileira, “qualquer mecanismo de financiamento deve estar atrelado a um canal verde para as exportações brasileiras”. O governo brasileiro quer “entender em que condições o exportador chinês consegue mais acesso ao mercado argentino”.

Plano B: pagamento em moeda local

Outra opção é o chamado Sistema de Pagamento em Moeda Local, que, segundo informaram os funcionários argentinos, não está atendendo a dimensão do comércio bilateral. “O Brasil não aceitou uma proposta de ampliação do esquema”, disse uma fonte argentina.

Assim como a Argentina, nas reuniões da semana passada, reclamou do aumento do superávit do Brasil na balança bilateral, o governo brasileiro colocou suas queixas pelos entraves que afetam as exportações brasileiras.

Foi a primeira vez, desde 2019, que se reuniu a Comissão Bilateral de Comércio, integrada pelos ministérios da áreas econômicas dos dois países. O diálogo, dizem fontes de ambos os lados, é fluido e positivo, existe vontade política para resolver os problemas, mas o cenário é complexos dada à delicada situação financeira da Argentina.

As restrições cambiais são enormes, e o governo Fernández deixou claro que não pode liberar em torno de US$ 5 bilhões por ano para o pagamento de importações do Brasil. Alguns produtos comprados do Brasil preocupam especialmente, entre eles automóveis, cujas importações aumentaram 41% no primeiro bimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado. No caso das autopeças, o crescimento foi de 42%; as importações de soja subiram 127%; energia elétrica 6.900%; calçados 89% e todos de aço e ferro 1.500%.

Recado claro: não temos dólares

Os dados foram apresentados pela missão argentina, integrada, entre outros, pelo secretário de Comércio, Matias Tombolini. Do outro lado da mesa esteve a secretária de Comércio Exterior brasileira, Tatiana Prazeres. Alguns produtos comprados do Brasil preocupam especialmente, entre eles automóveis, cujas importações aumentaram 41% no primeiro bimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado.

No caso das autopeças, o crescimento foi de 42%; as importações de soja subiram 127%; energia elétrica 6.900%; calçados 89% e produtos de aço e ferro 1.500%. Os dados foram apresentados pela missão argentina, integrada, entre outros, pelo secretário de Comércio, Matias Tombolini. Do outro lado da mesa esteve a secret

Fontes argentinas admitem que a vantagem cambial para o exportador brasileiro explica a disparada das vendas para o mercado argentino. O recado do governo argentino foi claro: não temos dólares para autorizar tudo o que entra do Brasil, sem um mecanismo de financiamento negociado teremos de limitar e substituir com produtos de outros países, como a China.

Gasoduto de Vaca Muerta

O governo Fernández insistiu, ainda, na importância de que o BNDES autorize o financiamento de empresas que operam no Brasil e que trabalhariam na ampliação do Gasoduto Néstor Kirchner, que permitiria ao Brasil importar gás mais barato da Argentina, mais especificamente da jazida de Vaca Muerta. Os enviados de Fernández reclamaram por demoras no BNDES para aprovar o financiamento das empresas envolvidas.

- Existe potencial para melhorar a relação, e existe vontade política. Hoje nossos técnicos se falam e isso faz uma grande diferença. O relacionamento melhorou muito, e a sintonia política ajuda. O diálogo está aberto - concluiu uma fonte brasileira.

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