Economia
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Por Vitor da Cosa e Letycia Cardoso — Rio

Depois de um começo de semana com investidores cautelosos após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), as atenções do mercado se voltaram para a crise do Credit Suisse.

Embora o caso do Credit Suisse não suscite preocupações com risco sistêmico, economistas avaliam que a quebra do SVB e a crise do banco podem mudar os rumos da política de juros nos Estados Unidos e no Brasil.

Lá fora, poderia servir para moderar o processo de alta das taxas que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tem conduzido. No Brasil, poderia antecipar a perspectiva de redução da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

O ex-diretor do Banco Central Tony Volpon pondera que o patamar elevado de juros em diversas economias pressiona a atuação das instituições financeiras:

— Passamos dez anos com juros muito baixos e tivemos aquela injeção enorme de liquidez durante a pandemia. Esses bancos tiveram que colocar essa injeção de liquidez em algum lugar. E muitos deles compraram títulos, que hoje estão operando em patamar bem mais baixo do que o valor que foram adquiridos, em razão do cenário de alta dos juros.

Um dos motivos que acalmaram os investidores foi o fato de o banco central da Suíça ter anunciado que garantiria recursos para a instituição. Segundo o Wall Street Journal, o Credit Suisse vai obter 50 bilhões de francos suíços (US$ 53,75 bilhões) com o banco central do país, o equivalente a US$ 53,7 bilhões, para fortalecer sua liquidez.

Para o ex-diretor do BC, a oscilação do mercado deve permanecer até que os investidores tenham mais clareza sobre o que os bancos centrais vão fazer em relação à política monetária:

— A grande questão é o que o Fed faz com isso. Porque os números de inflação ainda não estão bons. O Fed está causando um estresse no setor bancário e isso causa impacto na atividade econômica, mas, por outro lado, está com uma inflação muito alta.

No Brasil, Pedro Gonzaga, sócio da Mantaro Capital, pondera que os últimos eventos abrem espaço para um corte antecipado nas taxas.

— Temos choques brasileiros e globais que foram contracionistas para o mercado de crédito, como o caso da Americanas, dos bancos médios americanos e agora do Credit Suisse. Passa a fazer menos sentido ter taxas de juros elevadas por mais tempo.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, ressalta que os casos envolvendo as instituições americanas devem redobrar a atenção do mercado sobre os balanços dos bancos daqui para frente. Apesar de já enfrentar problemas há alguns tempos, o Credit tem um porte maior do que o SVB, por exemplo, o que também catalisa os receios do mercado.

— O Credit está entrando no coração do sistema americano e europeu. É diferente de um banco pequeno e médio que tem o balanço pouco conectado com outras instituições. Ainda não há um risco como em 2008, porque o sistema está bem menos alavancado, mas é preocupante.

Indagado sobre o tema, o Banco Central respondeu em nota que a decisão sobre juros também é reflexo das perspectivas sobre “as economias internacionais”, embora não faça qualquer menção à crise do Credit Suisse ou ao colapso do SVB.

“Os membros do Copom (antes de decidir sobre os juros) assistem a apresentações técnicas do corpo funcional do BC, que tratam da evolução e perspectivas das economias brasileira e mundial, das condições de liquidez e do comportamento dos mercados. A decisão é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados” diz o BC, em nota.

As reuniões do Fed e do Banco Central estão marcadas para a quarta-feira da próxima semana.

Os investidores avaliam que a crise do Credit Suisse não tem componentes sistêmicos. No ano passado, o banco anunciou um plano estratégico que previa a recuperação em três anos, exigia o corte de 9 mil vagas e também que ele deixasse algumas atividades.

A estratégia é resgatar suas origens. Fundado em 1856 para financiar a expansão de rodovias na Suíça, o Credit Suisse tem hoje duas principais unidades — um banco de investimentos e uma empresa de gestão de fortunas.

Os problemas do banco suíço ficaram em evidência quando, em 2021, o Credit Suisse relatou perda de US$ 10 bilhões em investimentos dos clientes com a financeira inglesa Greensill, que faliu.

Para especialistas, houve uma “confluência de crises”, com a quebra do SVB nos EUA na última sexta-feira e a turbulência no Credit Suisse nesta quarta-feira, mas não há nada no cenário que aponte para um problema sistêmico, como o da crise de 2008.

Segundo Gonzaga, o banco já vinha enfrentando problemas nos últimos trimestres. Mas a sinalização de apoio por parte das autoridades suíças ajuda a conter o pessimismo. Uma das alternativas seria levantar capital ao vender ativos que antes não cogitava.

— A estratégia deles como banco estava sendo reduzir a exposição em negócios de maior risco e crescer em negócios de receita mais estável, principalmente de gestão de patrimônio — afirmou.

O head de Renda Variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, avalia que a crise não traz preocupação para o Brasil, pois a ação dos governos até agora foi rápida.

O dólar também foi afetado ontem. A moeda americana encerrou o pregão em alta de 0,7%, a R$ 5,29, maior patamar desde janeiro. O petróleo também registrou quedas superiores a 5% diante do risco de desaceleração da economia global.

(Colaboraram Manoel Ventura, João Sorima Neto e Ivan Martínez-Vargas)

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