O Brasil ficou empacado ao longo da última década, com um crescimento irrisório, e precisa ampliar as taxas de investimento público em capital humano e infraestrutura para alavancar o crescimento. Essa é a avaliação de Jeffrey Sachs. Segundo o professor da universidade de Columbia, não é momento para austeridade fiscal.
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O economista defende que o crescimento deve ser financiado não só por políticas públicas locais, como também por empréstimos de longo prazo via recursos internacionais, como do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Segundo Sachs, os investimentos em infraestrutura, saúde e educação beiram a zero no Brasil, em comparação com países do G7.
— O Brasil precisa de um aumento das taxas de investimento, que vão vir junto com o aumento do investimento privado. Não é momento para austeridade fiscal. É um momento de aumento dos investimentos públicos — disse o economista, que participa na manhã desta terça-feira do seminário 'Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI', na sede do BNDES, no Centro do Rio.
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Críticas às taxas de juros
Ecoando o tom dos debates da véspera, quando foi realizado o primeiro dia do seminário no BNDES, Sachs também afirmou que o Brasil é punido com "taxas de juros altíssimas", que não encontram respaldo na situação fiscal do país, bem como num possível discurso de gasto excessivo ou mesmo de gestão pública ruim.
— É um quebra-cabeça do por que as taxas são tão altas, seja devido à política, que parece ser o caso, ou pelo medo generalizado por causa da crise macroeconômica passada no Brasil. Mas uma coisa eu diria: não têm como base os fundamentos fiscais — argumentou.
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Ele estima que as taxas de juros deveriam ser reduzidas no país para algo em torno de 8%, podendo chegar a até 6%. Hoje, a taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75% ao ano. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide a nova taxa básica de juros e a expectativa dos analistas é que o atual patamar seja mantido.
— As taxas do Brasil poderiam descer. Cada redução de 1% na taxa de juros representa 1,6% do PIB na redução do déficit do Orçamento. Se a taxa fosse 5% mais baixa hoje, o déficit seria cortado em 3%.
O patamar de juros elevado também afeta a credibilidade no país e, consequentemente, o nível de rating para o Brasil, destacou Sachs. Segundo ele, o nível moderado de dívida não é justificativa para o país ter uma classificação tão baixa em relação a outros mercados emergentes, que têm rating melhor e situação de dívida externa pior.
O economista argumenta que o país tem espaço para ampliar investimentos porque tem uma dívida pública moderada, se comparado com as economias ricas do G7.
— O déficit (fiscal) primário é bastante pequeno, muito menor do que os déficits do que os países do G7 e quase todos os países do mundo — afirma.
Diante disso, Sachs defende que o Brasil deve buscar empréstimos internacionais de longo prazo, com taxas de juros mais baixas, para financiar o crescimento.
— Não me preocupa tanto com o risco do âmbito externo porque se forem empréstimos de longa maturação, o risco é menor. O Brasil deve ir (dialogar com) o BID, o banco dos Brics (grupo que reúne Índia, China e África do Sul) e outras fontes de capital de longo prazo para que elas possam ser utilizadas em uma escala muito maior e assim financiar infraestrutura inicial, e aumentar o investimento em capital humano.
Mais crédito para produção sustentável
No mesmo evento, a diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Tereza Campello, defendeu que o modelo atual de agricultura predominante, que leva ao desmatamento de grandes áreas para plantação de monoculturas, foi construído e financiado pelo governo brasileiro. Para ela, é papel do estado promover a mudança para sistemas mais sustentáveis, ofertando mais crédito para a agenda ambiental e para o desenvolvimento social, por exemplo ao ampliar linhas de financiamento destinadas à agricultura familiar como instrumento de transformação.
— Em cada grão de soja está embarcada alta tecnologia da Embrapa. O modelo que nós temos foi forjado por decisão do país. Cabe ao estado brasileiro discutir como transitar para o crédito sustentável. Discutir bioinsumos, fertilizantes, empregos verdes é uma excelente oportunidade para o Brasil — acredita.
Tereza ainda disse que o Brasil é "colonial e atrasado" e precisa superar problemas que já deveriam ter sido solucionados, como desigualdades sociais, trabalho escravo e racismo.
— Quando vemos a estatística (de trabalhadores encontrados em situações análogas à escravidão) aumentando, não significa que elas estejam aumentando. Elas não estavam sendo discutidas antes — opina a diretora. — Mineração em terra indígena, desmatamento, trabalho infantil... Isso é agenda do passado, mas precisamos discutir. Se não, não avançamos.
Por meio de videoconferência, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse acreditar que a agenda social é tão importante quanto a ambiental no Brasil:
— Pior coisa que poderíamos fazer é dissociar. Trata-se de uma agenda socioambiental, que tem que lidar com clamores da baixa renda. Na Amazônia, não é só o desmatamento que precisa ser enfrentado, mas a disponibilização de oportunidades para os povos originários