Puxado pela alta dos combustíveis por conta da reoneração parcial dos impostos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), considerado prévia da inflação, subiu 0,69% em março. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE. O resultado aponta para uma ligeira desaceleração, uma vez que o indicador ficou em 0,76% em fevereiro.
- Analistas projetavam alta do indicador em torno de 0,65% no mês.
- Com o resultado, o índice de prévia da inflação acumula alta de 5,36% em 12 meses, abaixo dos 5,63% dos 12 meses imediatamente anteriores.
A preocupação com a condução da política monetária para combater a inflação criou um embate público entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. O presidente já vinha fazendo críticas à atuação do BC e ontem afirmou que Campos Neto não cumpre a lei de autonomia do BC.
O que dizem os analistas?
Economistas avaliam que há alguma melhora na inflação corrente e a atividade econômica já mostra sinais de desaceleração. Mas destacam pelo menos dois aspectos que dificultam a redução dos juros.
Um deles é o patamar dos núcleos de inflação, que excluem itens voláteis e servem de termômetro para o Banco Central calibrar o juros. têm desacelerado, ainda que em patamar elevado. Outro ponto de atenção se refere às expectativas sobre inflação futura, que continuam sendo elevadas por conta da indefinição sobre o arcabouço fiscal e o debate sobre revisão das metas de inflação.
O comunicado do Copom, cujo tom adotado foi mais duro do que o esperado pelo mercado, destacou a importância do controle sobre as expectativas de inflação. Para este ano, as expectativas estão em 5,95%, acima do teto da meta (4,75%). Para 2024, estão em 4,11%, ainda dentro da margem de tolerância, mas acima do centro da meta.
— A gente segue otimista com a inflação . A gente não acha que as surpresas nas últimas leituras (com educação e perfumes vindo acima do esperado) são suficientes para interromper a tendência de queda dos núcleos de inflação. Outra coisa que a gente fica de olho é nas expectativas, que permanecem desancoradas na meta e isso pode ser um risco para inflação mais à frente — explica Felipe Kotinda, economista do Santander. O banco estima início de corte na Selic, para 13%, somente em meados do quarto trimestre.
Para Rodolfo Margato, economista da XP, os resultados da prévia de março trouxeram sinais mais animadores, em que pese o cenário de elevação das expectativas inflacionárias, desvalorização cambial e alguns estímulos de curto prazo à atividade econômica.
"Parece cedo para afirmar que o processo de desinflação retomará tração daqui para frente. No entanto, a perspectiva de não haver reaceleração dos preços ao consumidor é bem-vinda", sinalizou, em comentário.
Gasolina puxa alta
Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em março, com exceção de artigos de residência, cujos preços recuaram 0,18%.
A alta do indicador foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis. Os aumentos refletem a volta do PIS/Cofins sobre a gasolina, além de uma elevação das tarifas elétricas com a volta da cobrança do ICMS sobre as tarifas de uso do sistema de transmissão e distribuição, conforme decisão do STF.
Não por acaso o grupo Transportes registrou a maior variação (alta de 1,5%) e maior contribuição, com impacto de 0,30 ponto percentual sobre o índice.
A gasolina ficou 5,76% mais cara, seguida do etanol, cujos preços subiram 1,96% após queda de 1,65% em fevereiro. O óleo diesel e o gás veicular, contudo, recuaram 4,86% 2,62%, respectivamente. Os transportes por aplicativo, por sua vez, tiveram alta de 9,02% em março após recuo de 6,05% em fevereiro.
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No grupo Saúde e cuidados pessoais, os destaques foram os perfumes, cujos preços subiram 5,88%, e demais itens de higiene pessoal, como artigos de maquiagem (3,81%), sabonetes (1,85%) e produtos para cabelo (1,34%). O plano de saúde também continua pesando mensalmente diante dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023.
Já no grupo Habitação, a alta de 0,81% foi puxada pelo aumento da energia elétrica. No Rio, duas concessionárias realizaram reajustes entre 6% e 7%, embora tenha ocorrido redução de PIS/Cofins na região. Em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, foram reincluídas tarifas de uso do sistema de transmissão e distribuição na base de cálculo do ICMS.
Preços dos alimentos desaceleram
Já os preços do Alimentação e bebidas, vêm mostrando desaceleração. Ficou em 0,20% após altas de 0,76% em fevereiro e 0,55% em janeiro. Ass quedas mais expressivas em março foram observadas nos custos da batata-inglesa, tomate, cebola, óleo de soja, contrafilé e frango. foram outros subitens que também mostraram recuo nos preços. No sentido oposto, os preços do ovo de galinha subiram 8,00% neste mês.
A alimentação fora do domicílio, por sua vez, passou de 0,40% em fevereiro para 0,68% em março, influenciado por um ligeiro aumento no custo do lanche e da refeição.
Veja abaixo a variação dos grupos em março:
- Alimentação e bebidas: 0,20%
- Habitação: 0,81%
- Artigos de residência: -0,18%
- Vestuário: 0,11%
- Transportes: 1,50%
- Saúde e cuidados pessoais: 1,18%
- Despesas pessoais: 0,28%
- Educação: 0,08%
- Comunicação: 0,75%