Economia
PUBLICIDADE

Depois de sentir o impacto da pandemia e da crise, a cidade que completa hoje 458 anos começa a ampliar as bases para uma retomada econômica. O Rio, conhecido por antecipar tendências, está de olho nos negócios do futuro. E o roteiro inclui desde um “Vale do Silício” na região do Porto, com foco em educação e startups, até a atração de grandes eventos de tecnologia e indústria criativa.

Outro carro-chefe desse movimento é o setor energético. A cidade se consolida como sede de novas petroleiras, que ganharam espaço a partir do plano de venda de ativos da Petrobras. Com barril de petróleo acima de US$ 80, há projetos em curso para óleo e gás, mas também para energia renovável, como hidrogênio verde e a Bolsa Verde do Rio.

Em outra frente, a cidade investe na revitalização do Centro, com projetos residenciais que devem ganhar fôlego este ano. É uma forma de dar novo uso a espaços tradicionais.

Junto com os novos negócios, o Rio começa a conquistar visitantes disputados por cidades como Dubai e Lisboa: os nômades digitais. São profissionais qualificados, que não precisam mais de escritório, mas apenas de um laptop para trabalhar e que se encantam com a combinação de natureza e estilo de vida da cidade. Com permanência prolongada, são cartão de visita para os turistas. No setor hoteleiro, a percepção é que os estrangeiros estão de volta.

Não é à toa. Somente neste ano, o Rio deve receber o equivalente a mais de um evento por dia e superar a marca de 2019. O calendário vai do samba ao rock, passando por competições esportivas e congressos.

Um 'Vale do Silício' em pleno Porto

Porto Maravalleu terá primeiro campus de graduação do Impa. Metade do espaço será ocupado por startups e empresas — Foto: Brenno Carvalho
Porto Maravalleu terá primeiro campus de graduação do Impa. Metade do espaço será ocupado por startups e empresas — Foto: Brenno Carvalho

Num galpão do Santo Cristo rodeado por símbolos do passado, o Rio está em busca de futuro. É ali que está sendo erguido o Porto Maravalley, cuja missão é transformar a região em hub de educação e negócios de tecnologia — daí o nome, que ecoa o Vale do Silício.

A ambição será posta à prova — mais de uma metrópole mundo afora tentou repetir o feito—, mas já revela a bem-vinda carta de intenções para uma cidade que busca a retomada: colocar o Rio no mapa da indústria que molda a economia do século XXI.

O desafio vai além do Maravalley, mas o projeto vem sendo descrito pelo prefeito Eduardo Paes como uma espécie de pedra angular do seu plano de recuperação da região do Porto e do Centro.

A exemplo de experiências como o Porto Digital do Recife e o Brooklyn Navy Yard nova-iorquino, a meta é ajudar a resolver problemas como a baixa conversão da produção acadêmica em negócios, a escassez de mão de obra tecnológica qualificada e a rarefeita concentração de startups na cidade.

— O Porto Maravalley vai transformar a região portuária no mais novo polo tecnológico da cidade. É um passo fundamental no desenvolvimento da vocação econômica do Rio. Daqui a cinco, dez anos, vamos passar e observar que ali surgiu um dos maiores centros de conhecimento do país — prevê.

Ao custo de R$ 30 milhões para os cofres da cidade, as obras já começaram e devem ser entregues este ano. O hub deve começar a funcionar de fato no início de 2024. O Porto Maravalley está apostando no primeiro campus de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), instituição brasileira que integra a elite global da ciência.

Ali serão formados cem jovens por ano em matemática da tecnologia e inovação, com foco em áreas como ciência da computação e de dados. Os alunos serão selecionados a partir da Olimpíada Brasileira de Matemática, que já são organizadas pelo Impa e atingem praticamente todas as escolas públicas do país.

Teste para inovações

A iniciativa dialoga com o projeto municipal Programadores Cariocas, que quer capacitar cinco mil jovens do Rio em tecnologia da informação até o ano que vem.

Coube à Invest.Rio atrair empresas para o projeto. Segundo Alexandre Vermeulen, que comanda a agência municipal, a associação já foi constituída e contratou Pierre Lucena, presidente do Porto Digital do Recife, para dirigir o hub.

— As iniciativas de inovação no Rio ainda estão dispersas, a gente quer criar densidade. Mas as empresas não pegam a mochila e vão. Elas estão interessadas, mas esperam primeiro para ver o prédio pronto —observa Chicão Bulhões, secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade do Rio.

Levantamento da consultoria SiiLA mostra que a vacância nos escritórios de alto padrão do Porto ainda está acima de 30%. E a região é predominantemente ocupada pelos setores financeiro (38,2%) e de seguros (22,6%).

Residencial sai do papel

Mas há movimentação de empresas de tecnologia interessadas em se instalar na região. No fim de 2022, a firma de criptoativos Tezos anunciou que teria representação comercial no Porto. A Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, negocia a abertura de sede própria.

Vermeulen atribui parte do movimento a medidas como redução do Imposto Sobre Serviços (ISS), de 5% para 2%, a empresas inovadoras instaladas no Porto.

No AQWA Corporate, maior torre corporativa da área, onde estudam 160 alunos da primeira turma da 42, universidade que ensina engenharia de software “sem aula nem professor” em curso gratuito. (Icatu, Vale e Hurb são patrocinadoras). Fundada pelo bilionário francês Xavier Niel, que fez fortuna com provedor de internet e é acionista do jornal Le Monde, a 42 tem várias representações pelo mundo. A carioca foi trazida na pandemia pela Bolder (ex-Fábrica de Startups), que conecta corporações a empresas inovadoras e foi uma das pioneiras no Porto, onde está desde 2018.

— Vimos no Porto algo que a gente encontrava em outros ecossistemas inovadores, como os de Londres e Portugal: uma área repleta de infraestrutura, próxima a regiões centrais e grandes universidades—diz Hector Gusmão, fundador e presidente da Bolder.

Sinal alentador vem do mesmo AQWA onde Bolder e 42 estão. A ocupação já está em 80%, e a Tishman Speyer, dona do prédio, quer atingir lotação máxima este ano. A firma vai dobrar de tamanho o Studio, seu espaço de coworking que hoje tem como inquilinos companhias como a iFood.

A americana decidiu desengavetar o projeto do Lumina, de empreendimentos residenciais no Porto. O plano é lançá-lo entre o fim deste ano e o início de 2024. Ele será dividido em duas fases, e a primeira deve ter até 500 apartamentos.

Com o Lumina, a Tishman se junta a construtoras como Cury e Emccamp, que vêm explorando moradias na região. A prefeitura estima que, dentro de quatro anos, o Porto tenha mais de 13 mil moradores.

— O componente do movimento 24 horas por dia e sete dias por semana vai vir com a chegada do residencial— diz Leila Jacy, executiva da Tishman Speyer no Brasil.

A pioneira em residenciais no Porto foi a construtora paulistana Cury, que bateu R$ 2 bilhões em lançamentos com esse perfil na região em menos de dois anos. O primeiro veio em 2021, o Rio Wonder. No ano passado, vieram o Rio Energy e o Pateo Nazareth. Em janeiro, foi a vez do Epicentro. A entrega das obras deve começar em 2024.

A chegada de moradores deve se dar juntamente com um incremento de infraestrutura. Está sendo construída nas imediações da rodoviária o Terminal Gentileza, projeto de R$ 250 milhões que fará a conexão entre o futuro BRT Transbrasil, ônibus convencionais e as três linhas de VLT.

Segundo o novo diretor-executivo do VLT, André Costa, o terminal tem o potencial de aumentar em 50% o número atual de passageiros transportados, elevando em 40 mil pessoas a circulação diária de pessoas na região do Porto.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Ministério elaborou, por determinação de Dino, lista dos municípios proporcionalmente mais beneficiados por verbas parlamentares

Fogo no país vizinho ameaça o Pantanal brasileiro

Governo brasileiro envia militares para combater incêndios na Bolívia em área de fronteira

Infância pobre, visual criado em 'laboratório' e iate de Roberto Carlos: a trajetória do cantor cuja empresa é suspeita de envolvimento com esquema de lavagem de dinheiro de jogos ilegais

Qual é o nome verdadeiro de Gusttavo Lima, que foi de cortador de cana a embaixador do agronegócio?

O padrasto das crianças usava meios descritos como “cruéis” para praticar os abusos sexuais, chegando até mesmo a ameaçá-las com um alicate

Mulher morre após ter 40% do corpo queimado por companheiro, em GO;  homem estuprava enteados com a mãe deles na UTI

Unidade passa a fazer diagnóstico de diferentes transtornos intelectuais e motores, com encaminhamento para a rede pública se necessário

Policlínica na Barra aumenta oferta de atendimentos e serviços

Condomínio conta que os bichanos se apropriavam das áreas comuns e das demais residências, segundo o condomínio.

'Condomiau': mulher é processada pelos vizinhos por ter 10 gatos em seu apartamento

Site conta com a aba 'escolhidos da doutora', que seleciona os jogos que seriam recomendados pela influenciadora

Deolane: bet suspeita de lavagem de dinheiro tem cassino, tigrinho e capital de R$ 30 milhões