A Hurb, agência de viagens digital nascida há 14 anos como Hotel Urbano, está no centro de uma crise que envolve calotes, ameaças e deboche. A empresa é alvo de milhares de queixas de clientes que compraram pacotes e não conseguem viajar. No entanto, João Ricardo Mendes, CEO da Hurb, tem reagido às reivindicações dos consumidores com ameaças e deboche.
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A crise na Hurb teve início durante a pandemia de Covid-19. No auge da propagação do coronavírus, a empresa vendeu pacotes turísticos com preços abaixo do valor de mercado. Mas agora a agência tem dificuldade para cumprir os contratos firmados.
A conta de pacotes por entregar e diárias de hotéis atrasados somando R$ 140 milhões, segundo dados fornecidos pela própria empresa.
Desde o começo do mês clientes relatam atrasos no pagamento a hotéis e pousadas pelo Brasil. Esses estabelecimentos então passaram a parar de receber novos hóspedes da startup carioca.
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CEO da Hurb grava vídeo enigmático aos clientes
Mais de uma dezena de hotéis independentes publicaram nas redes sociais comunicados informando aos clientes que não vão mais aceitar check-ins de reservas feitas pela Hurb. O problema afeta de pousadas a grandes redes hoteleiras de todo o país.
As reclamações foram tratadas com deboche pelo CEO da Hurb. João Ricardo Mendes publicou um vídeo em 13 de abril no qual aparece descalço e caminhando sobre faixa de protesto de clientes lesados, transformando-a em capacho do seu escritório. A postagem traz ainda uma série de referências desconexas ao filme Matrix e ao universo geek.
Após o deboche, João Ricardo Mendes xingou, fez ameaças e expôs dados de um cliente em um grupo de WhatsApp criado para discutir problemas relacionados aos calotes em pacotes de viagens.
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Na última quinta-feira, o CEO da Hurb ligou para um cliente do Mato Grosso do Sul, que estava no grupo de WhatsApp #HurbKdMeuvôo, com mais de 1000 pessoas, para reclamar de um comentário.
— Puxei sua capivara toda, não sabe nem falar seu retardado, bundão. (...) Fica satisfeito de não viajar. Tá arriscado alguém bater nessa mxxda da sua casa hoje seu otário — diz João Ricardo em vídeo que aparece segurando o celular no viva voz, gravando a conversa com o cliente. Ele próprio postou o vídeo da conversa no grupo de WhatsApp.
Depois das ameaças, ele diz que vai cancelar a viagem do cliente e conta com a ajuda de funcionário da empresa para fazer uma 'piadinha sexual'.
— José, José, José. O que que ele ganhou, seu José? — ao que o funcionário responde: — Uma coisa mole que se ele botar a mão fica dura.
João Ricardo também expôs esse mesmo cliente divulgando CPF, email, número do cartão, data de nascimento e número de celular no grupo. A exposição de dados de clientes é crime e, pela Lei Geral de Proteção de Dados, pode gerar multa de até 2% do faturamento da empresa.
Quando uma pessoa do grupo pede para João Ricardo apagar os dados, ele responde, à 1h36 da madrugada, que é “para quem quiser passar trote”. E emenda em inglês: “That’s who I am” (É assim que eu sou). Os dados foram posteriormente apagados por um moderador e o grupo foi fechado para comentários de não administradores.
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Em conversa com a coluna Capital, João Ricardo afirmou que os problemas fluxo de caixa da Hurb foram provocados por um "bloqueio indevido" de recebíveis pelos bancos onde tem conta. De acordo com o CEO, a empresa tem R$ 140 milhões de pagamentos vencidos nos últimos 45 dias e a vencer pelos próximos 15 dias, mas teria ficado sem conseguir pagar por conta do bloqueio.
João Ricardo afirmou que está em negociação com os bancos para liberar os recursos e que a empresa tem R$ 860 milhões de contas a receber pela venda de pacotes a prazo.