Economia
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Por Carolina Nalin — Rio

A inflação ficou em 0,71% em março, puxada pela volta de impostos sobre combustíveis. Apesar do avanço, o resultado aponta para uma desaceleração em relação ao mês de fevereiro, quando ficou em 0,84%. Os dados são do do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e foram divulgados pelo IBGE nesta terça-feira.

  • O número veio abaixo do esperado pelo mercado. As projeções dos economistas giravam em torno de 0,77% no mês
  • Com o resultado, a inflação acumula alta de 4,65% em 12 meses, abaixo dos 5,60% observados nos 12 meses imediatamente anteriores
  • Esta é a menor variação desde janeiro de 2021, quando o IPCA somava 4,56% em 12 meses

O que dizem os analistas?

O resultado abaixo do esperado para a inflação joga pressão sobre o Banco Central e pode ajudar a abrir uma discussão sobre afrouxamento da política monetária, mas não é o suficiente para antecipar as expectativas dos agentes econômicos com relação ao corte da Selic, a taxa básica de juros, hoje em 13,75% ao ano.

Na ponta mais otimista do mercado, Vitor Martello, da Parcitas Investimentos, projeta que o BC deve começar a reduzir a taxa de juros em agosto. Mas ressalta que, com os dados disponíveis até agora, seria imprudente o BC sinalizar qualquer mudança de direção já nas duas próximas reuniões.

Ele lembra que a volta de impostos sobre a gasolina e a energia elétrica em março não foi suficiente para pressionar os preços de itens da cesta de serviços (considerados mais inerciais), mas pondera que ainda está previsto o retorno de mais tributos como o ICMS único, nos próximos meses, e por isso será preciso acompanhar como se darão os efeitos indiretos sobre os preços diante da volta desses impostos. Além disso, Vitor chama atenção para o processo de desancoragem das expectativas de inflação que ocorre desde janeiro, em que pese a melhora da inflação de serviços:

— Como ainda estamos no olho do furacão e temos quase metade das reonerações para aparecer, e tivemos todo um processo de desancoragem das expectativas, seria prudente o BC ter cautela pelo menos em uma ou duas reuniões antes de sinalizar qualquer coisa. Na nossa visão ele pode mudar o discurso a partir de junho, mas antes disso parece prematuro. (...) A desancoragem das expectativas pode gerar uma pressão na inflação corrente, então o BC tem que ter cautela e esperar para ver se vai haver uma contaminação ou não.

André Braz, economista do FGV IBRE, destaca que o resultado traz a leitura de que há em curso um processo de desinflação, mas ainda um pouco tímido:

— A parte de serviços é onde provavelmente a autoridade monetária ainda tem mais dúvida sobre o fôlego que tem esse processo de desinflação.

Luciana Rabelo, do Itaú, também aponta que o processo de desinflação segue de forma gradual ainda que mais lento nos serviços, mas destaca que o BC segue de olho no processo de desancoragem das expectativas de inflação de longo prazo:

— Nosso cenário é de corte de juros só nas últimas duas reuniões do ano. Projetamos Selic em 12,50% no fim de 2023. Isso porque você ainda tem a desancoragem das expectativas longas no Boletim Focus — explica.

Em relatório, a Genial Investimentos indica que o bom resultado do IPCA de março ainda não abre espaço para corte de juros parte do BC. A corretora cita, entre outros fatores, o fato de que o mercado de trabalho continua a pressionar a inflação de serviços e destaca o processo de desancoragem das expectativas de inflação diante da "ofensiva de alguns atores do governo contra o atual patamar da Selic e a defesa de uma elevação da meta de inflação".

"A desancoragem dificulta enormemente o processo de desinflação", pontuaram economistas, em relatório.

Gasolina puxa alta

Economistas já esperavam uma desaceleração diante da saída do efeito dos reajustes das mensalidades escolares, concentradas no mês de fevereiro. Segundo o IBGE, o grupo Educação, que subiu 6,28% em fevereiro, teve ligeira alta de 0,10% em março.

Por outro lado, os preços de combustíveis ficaram mais pressionados diante da volta do PIS/Cofins sobre a gasolina. Por essa razão, o grupo Transportes foi o responsável pelo maior impacto sobre o índice. O segmento contribuiu com 0,43 ponto percentual no IPCA e registrou a maior variação no mês: alta de 2,11%. Só a gasolina subiu 8,33%, enquanto o preço do etanol avançou 3,20%. Gás veicular, óleo diesel e passagens áreas, por outro lado, continuaram em queda.

Segundo estimativa do IBGE, a alta da inflação em março seria de 0,25% caso a gasolina e a energia elétrica fossem retiradas do cálculo do IPCA e os pesos dos demais itens na cesta de consumo fossem redistribuídos.

Em seguida ficaram os grupos 'Saúde e cuidados pessoais' e 'Habitação', que apresentaram altas de 0,82% e 0,57%, respectivamente - uma desaceleração em relação a fevereiro. O grupo que engloba saúde e cuidados pessoais, tem sido impactado pela alta do plano de saúde, que segue incorporando as frações mensais dos planos novos e antigos referentes ao ciclo de 2022-2023.

Já o grupo Habitação sofreu impacto da alta média de 2% sobre os preços da energia elétrica residencial. Houve uma elevação das tarifas elétricas com a volta da cobrança do ICMS sobre as tarifas de uso dos sistemas de transmissão (TUST) e distribuição (TUSD).

O segmento Artigos de residência, por sua vez, foi o único a registrar queda em março. Houve recuo nos preços dos itens de tv, som e informática. Os preços dos eletrodomésticos e equipamentos também caíram, após alta de 0,45% em fevereiro.

— As promoções realizadas durante a semana do consumidor, ocorrida em março, podem ter influenciado — avalia o analista da pesquisa, André Almeida.

Alimentação no domicílio fica no campo negativo

O grupo de alimentos e bebidas, por sua vez, também desacelerou: passou de 0,16% para alta de 0,05%. A alta menos intensa foi puxada pela queda no custo da alimentação no domicílio, que ficou no campo negativo após seis meses de alta mensal.

Batata-inglesa, óleo de soja, cebola, tomate e carnes tiveram reduções de 1% até 12%. Por outro lado, a cenoura ficou 28% mais cara e o ovo de galinha registrou alta de 7%, pesando mais na cesta de consumo das famílias. Segundo o IBGE, custos de produção vem pesando nos preços dos ovos, além do aumento sazonal de demanda no período em função da Quaresma, quando há redução do consumo de carnes.

Inflação de 6% em 2023

Analistas projetam que a inflação acumulada em 12 meses vai desacelerar até meados de junho, quando volta a pegar tração e terminar o ano perto de 6%. Isso porque saem da conta o efeito das desonerações dos combustíveis, que no ano passado levou o IPCA a registrar três meses seguidos de queda nos preços.

Economistas projetam que o índice termine o ano ao redor de 5,98%, segundo o Boletim Focus do Banco Central divulgado nesta segunda-feira, que reúne projeções de economistas. Na semana anterior, a previsão era de 5,96%.

A definição de um ICMS único, que valerá a partir de julho, deverá encarecer gasolina e etanol e elevar ainda mais a inflação. Diante disso, já há bancos estimando que o IPCA encerre o ano mais próximo de 6,5%.

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