Economia
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Por Janaína Figueiredo — Buenos Aires

Os bancos argentinos estão no limite de sua capacidade para armazenar dinheiro em espécie, e já informaram uma situação que consideram "crítica" ao Banco Central da República Argentina (BCRA). Em carta enviada à instituição, a Associação de Bancos da Argentina (Aba) e a Associação de Bancos Argentinos (Adeba) comunicaram que o excesso de dinheiro em espécie nas agências bancárias “está causando dificuldades em termos de logística, infraestrutura e elevados custos financeiros”.

A decisão do governo do presidente Alberto Fernández de não emitir notas de valor superior aos mil pesos — hoje a mais alta que circula na Argentina — está causando problemas graves aos bancos que operam no país. Como a moeda local vale cada vez menos (a cotação do dólar na Argentina se aproxima de 500 pesos e a inflação superou 100% ao ano) é preciso usar uma quantidade muito maior de cédulas para pagar por um produto ou fazer uma transferência bancária.

Pilhas de notas de 500 e 100 pesos estão ocupando espaços cada vez mais limitados, que impedem que os bancos possam, como sempre fizeram, ceder lugares de armazenamento ao próprio Banco Central.

Mas o governo decidiu não emitir cédulas com valores maiores porque isso deixaria claro, na visão da Casa Rosada, que a inflação está fora de controle. Não emitir notas de cinco ou até dez mil pesos, como defendem economistas locais e desejariam os bancos argentinos, por sua vez, causa problemas cada dia mais complicados.

Os argentinos, diferentemente dos brasileiros, usam muito dinheiro em espécie no dia a dia. Com uma economia informal cada vez maior, consequência, entre outros motivos, da forte pressão tributária, muitas operações se fazem em dinheiro, e com notas de baixo valor.

De acordo com o economista Aldo Abram, numa lista de 191 países no mundo, a Argentina está na posição número 21 como um dos que impõem uma carga tributária mais pesada a seu setor privado, o que afeta, sobretudo, pequenas e médias empresas, e trabalhadores autônomos. A saída encontrada por muitos foi operar na informalidade, e fora do sistema bancário.

Métodos de pagamento eletrônico, como transferências, entre outros, são utilizados, mas muito menos do que no Brasil. Supermercados, restaurantes, taxis e compras, em geral, muitas vezes se pagam em dinheiro.

A Calle Florida, mais famosa rua de pedestres de Buenos Aires, onde se concentra boa parte das casas de câmbio do mercado paralelo na cidade — Foto: Bloomberg
A Calle Florida, mais famosa rua de pedestres de Buenos Aires, onde se concentra boa parte das casas de câmbio do mercado paralelo na cidade — Foto: Bloomberg

Além de não terem mais onde guardar dinheiro em espécie nas agências, os bancos devem repor cada vez com maior frequência o dinheiro dos caixas eletrônicos. Cada caixa eletrônico tem, em geral, quatro gavetas nas quais cabem 2 mil notas.

Se as notas forem de 100 pesos, cada caixa eletrônico pode ter, no máximo, 800 mil pesos, montante que num país que teve 7,7% de inflação apenas em março dura muito pouco.

Caixas eletrônicos não dão vazão

Se os bancos colocarem notas de mil pesos, os caixas podem ter 8 milhões de pesos, montante que, num feriadão, por exemplo, não dá conta da demanda por dinheiro no país. Por isso, é frequente encontrar na Argentina cartazes que informem que um caixa eletrônico ficou sem dinheiro.

Loja de esportes em Buenos Aires mostra a cotação do câmbio nas diferentes moedas — Foto: JUAN MABROMATA / AFP
Loja de esportes em Buenos Aires mostra a cotação do câmbio nas diferentes moedas — Foto: JUAN MABROMATA / AFP

Existe, ainda, uma enorme quantidade de notas em mau estado, que já não têm qualidade para continuar circulando. Outro problema do BCRA é que o procedimento de destruição destas notas é lento e tanto a instituição como os bancos privados estão acumulando uma enorme quantidade de dinheiro em espécie, sobretudo de baixo valor, que não poderá mais ser utilizado e também ocupa espaço.

“O Banco Central está buscando comprar uma máquina que tenha maior capacidade de destruição das notas. Mas a cada mês que passa, o dinheiro se deteriora mais e o processo de eliminação do dinheiro em mau estado não é aprimorado”, informaram as associações bancárias argentinas.

Em fevereiro passado, circulou a informação extraoficial de que seria criada uma nota de 2 mil pesos, mas a iniciativa não tem data para acontecer. Lançar uma nova nota demora meses, e ninguém acredita que isso acontecerá antes das eleições presidenciais de 22 de outubro.

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