As vendas no varejo no país cresceram 3,8% em janeiro de 2023, a maior variação para o mês desde o início da série histórica, em 2000. Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE.
- A alta no mês foi disseminada no setor, com destaque para o segmento de tecidos, vestuário e calçados, que saltou 27,9%, após quatro meses de queda.
- O segmento de hiper e supermercados também voltou a crescer, com expansão de 2,3%. Esse segmento tem forte peso no varejo
- Na comparação com janeiro de 2022, o varejo cresceu 2,6%, a sexta alta seguida nesta base de comparação.
- Nos últimos 12 meses, a expansão é menor, de 1,3%, já que o setor apresentou queda ou estabilidade em vários meses do ano passado.
- Especialistas pontuam que resultado reflete consumo represado pelo fracasso da última Black Friday e pelo atraso nas vendas de Natal
Esta é a primeira divulgação da nova série da pesquisa, que passou por atualizações na seleção da amostra de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades, além de alterações metodológicas, para retratar mudanças econômicas da sociedade. São atualizações já previstas e implementadas periodicamente pelo IBGE.
Um dos motivos que explica o forte crescimento em janeiro é a base fraca de comparação. Em dezembro, o comércio havia recuado 2,8% ante o mês imediatamente anterior e, em novembro, havia caído 0,7%.
“É um resultado importante, porque o comércio vinha de resultados negativos ou estabilidade”, afirma Cristiano Santos, gerente da pesquisa.
Isso aconteceu porque nem as ofertas de Natal nem Black Friday foram capazes de estimular o consumo. O desempenho de janeiro reflete iniciativas dos lojistas pós-período de festas, segundo o IBGE.
Varejo 'figital': Empresas fazem de tudo para o cliente comprar onde e quando quiser
Na explicação do professor da Strong Business School, Ulysses Reis, os brasileiros costumam antecipar as compras de Natal para novembro, quando acontece a Black Friday.
Mas o período de descontos do ano passado foi considerado o pior da história, conforme mostrou um levantamento da empresa de inteligência de dados Neotrust, em parceria com a ClearSale.
— As vendas que deveriam acontecer em novembro passariam para o Natal, mas a Copa do Mundo atrapalhou e os consumidores não conseguiram comprar para o Natal, porque tiveram pouco tempo e os preços estavam altos — afirmou.
Em janeiro, os comerciantes foram obrigados a baixar os preços e liquidar estoques, principalmente de itens de vestuário, que tiveram inflação significativa no ano passado.
Com relação a hipermercados, Reis diz que houve uma migração de consumo. As pessoas que costumam comprar produtos na Magazine Luiza e na Americanas, por exemplo, se voltaram aos varejo tradicional com a crise no setor.
Assim, deixaram de comprar produtos caros e tecnológicos e passaram a buscar alternativas simples e baratas.
— Essa migração acontece sempre que existe uma crise. Se a pesquisa for mais a fundo, vai descobrir que o atacarejo subiu ainda mais dentro desse setor.
Reis entende que não deve haver um aumento tão forte no varejo em abril, porque os consumidores ainda estão com o orçamento apertado por parcelas pendentes de contas de início de ano, como matrículas escolares.
Além disso, muita gente já aproveitou os descontos em janeiro. Segundo o professor, o setor pode voltar a subir lá para o meio do ano.
O consultor Juedir Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), está mais otimista. Na sua avaliação, o resultado pode sinalizar o início de um ciclo virtuoso para o varejo.
— O varejo precisa de emprego, renda, crédito e confiança. Esses quatro pilares estão em um momento de melhoria. Com o Bolsa Família e o aumento do salário mínimo, vai ser injetado um dinheiro no mercado que vai direto para o consumo — disse.
O pesquisador destacou também outras iniciativas do governo. Para ele, o “Minha casa, minha vida” deve estimular o setor da construção civil, gerando mais vagas e aumentando a renda.
Além disso, o novo marco fiscal e a aprovação de outras matérias no Congresso, como a reforma tributária, devem fortalecer a confiança dos empresários, o que pode levar a mais empregos e impactar no aumento do consumo.