Economia
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Por Vitor da Costa — Rio

Alterações de última hora feitas no projeto do arcabouço fiscal pelo relator Cláudio Cajado (PP-BA), aprovadas na terça-feira pela Câmara dos Deputados, no texto-base que estabelece as novas regras para as contas públicas no Brasil, obrigarão o governo Lula a aumentar ainda mais a arrecadação com impostos em 2024 ou a pisar no freio do aumento de gastos no próximo ano.

Isso significa que será preciso um incremento na receita com impostos acima dos R$ 120 bilhões inicialmente estimados. Com a conclusão da votação dos destaques nesta terça-feira na Câmara, o texto segue agora para o Senado, que promete dar celeridade ao projeto que estabelece novas regras de controle das despesas públicas no lugar do atual teto de gastos.

No entanto, analistas de mercado ainda têm dúvidas se o novo arcabouço é suficiente para dar previsibilidade à trajetória da dívida pública.

Sócio da Inove Investimentos, João Pedote destaca que o mercado já precificava a aprovação do arcabouço, o que era refletido no movimento recente de queda de juros futuros e de valorização do real frente ao dólar.

— Algumas alterações no relatório como a parte dos gastos de 2024 foram positivas, mas nada tão relevante. O arcabouço traz um vetor positivo para o dólar, mas temos que lembrar que a moeda americana vem perdendo força no mundo, por causa de uma possível perda de força da economia dos Estados Unidos.

Impacto positivo na Bolsa

O operador de renda variável da Manchester Investimentos, Gabriel Mota, destaca que a aprovação do arcabouço pode abrir espaço para a continuidade do recente rali na Bolsa, dado o seu impacto positivo sobre os investidores.

Em maio, o Ibovespa, principal índice da B3, apresenta alta superior a 4%, movimento sustentado pela alta da Petrobras e de ativos descontados, e o dólar segue em patamares abaixo dos R$ 5.

— A aprovação do arcabouço é uma boa sinalização, e o mercado vê potencial para redução na taxa de juros, mas deve-se lembrar que o mercado precifica antes. A projeção para corte de juros aumenta o apetite de risco para a Bolsa brasileira — diz Mota.

Em relatório sobre a aprovação do texto, o economista da XP Tiago Sbardelotto analisou que, “embora tenha reduzido o mínimo de investimentos e ampliado o alcance do contingenciamento, a proposta ainda deve permitir uma expansão significativa do limite nos próximos dois anos”.

'Não muda tendência de elevação da dívida'

Para o economista-chefe da Oriz, Marcos De Marchi, as alterações feitas pela Câmara foram marginalmente positivas. Ele cita o fato de que os gastos em 2024 não vão subir mais automaticamente em 2,5% em 2024, mas sim a depender da evolução da receita até junho deste ano, e que a correção dos investimentos não será feita pela inflação e sim seguindo uma proporção do PIB estimada para cada ano na proposta de lei orçamentária.

Mas ele observou que não é suficiente para conter a alta da dívida pública:

— Tivemos um arcabouço que foi aprovado com alterações pequenas e que não mudam a realidade de tendência de elevação do endividamento público nos próximos anos. A correção pelo PIB vai trazer um crescimento menor com esses gastos ao longo dos anos.

Queda de juros no segundo semestre

Parte do mercado tem a expectativa de uma redução dos juros no segundo semestre, mas o Banco Central (BC), em suas últimas comunicações, tem reforçado a importância da ancoragem das expectativas para que isso ocorra.

Além disso, o BC destaca que a fase atual no processo de desinflação do país é mais demorada, o que exigiria uma postura mais cautelosa. O Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa básica de juros (Selic), reconheceu o esforço positivo do arcabouço em suas últimas atas, mas ressaltou que não há uma relação direta entre a aprovação do arcabouço e cortes nos juros. Para ele, a aprovação do arcabouço não altera o cenário para a queda da Selic.

— Na prática, o BC precisa ver se a condução da política fiscal, incluindo a aprovação dessa semana, vai levar os agentes a revisarem para baixo a inflação esperada para os próximos anos. Acredito que nesse momento o mercado está mais focado na decisão sobre a meta de inflação — diz Ortiz.

Pedote, da Inove, avalia que com a parte fiscal ancorada, fica mais plausível acreditar em um corte na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, como quer o governo. Com a nova regra fiscal, ele acredita que isso tem mais chances de ocorrer entre o terceiro e quarto trimestre deste ano.

Mudança nas metas

Segundo o economista da Oriz, alterações como a busca por um horizonte de tempo mais longo para o cumprimento das metas de inflação, substituindo o ano-calendário, podem gerar efeitos menos negativos para o mercado.

— Se for isso seria uma boa notícia e ajudaria os juros futuros a recuarem ainda mais. É possível também a opção de elevar a banda de tolerância da meta, atualmente em 1,5%. Mas isso dentro do contexto de um BC autônomo e com meta mantida em 3,0% seria uma combinação positiva. Aí teríamos uma notícia importante que seria reconhecida pelo BC e poderia abrir espaço para o início do ciclo de corte de juros entre o terceiro trimestre e o quarto trimestre.

Após a aprovação do arcabouço, a atenção do mercado deve se voltar não só para as discussões sobre meta, mas também para temas como a precificação de combustíveis pela Petrobras, possíveis alterações em marcos regulatórios como o do saneamento, que teve as modificações realizadas pelo governo, derrubadas pela Câmara, e a reforma tributária.

— (A reforma tributária) será acompanhada de perto, e, nesse sentido, um dos focos de atenção será a construção de uma base parlamentar de apoio mais robusta. O governo ainda tem dificuldades em montar uma base sólida, e várias medidas provisórias que serão votadas nas próximas semanas servirão de teste para o executivo.

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