Economia
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Por Eliane Oliveira — Brasília

BRASÍLIA — Mesmo não falando inglês fluente, o presidente da Apex, Jorge Viana, diz que está qualificado para o cargo, porque Lula o indicou pela sua experiência como gestor. Viana afirma que foi prefeito, governador e como senador liderou missões ao exterior.

De volta ao comando da agência depois de uma suspensão que durou dois dias, ele contou ao GLOBO que entre os planos da Apex estão o incentivo às exportações por estados do Norte e Nordeste e a ampliação de laços comerciais com países africanos. O objetivo é fazer com que a corrente de comércio do país suba dos atuais US$ 600 bilhões para algo em torno de US$ 1 trilhão.

A decisão que suspendeu sua posse na Apex foi revertida. E agora?

Estou focado em trabalhar, em ajudar o presidente Lula a trazer o Brasil de volta para o mundo e para os negócios, o comércio exterior. E acho que nós estamos conseguindo. Nesses menos de cinco meses, o trabalho foi muito intenso e muito profissional também. A Apex tem um histórico, especialmente no último governo, muito lamentável, quando em 2019 virou um campo de batalha entre grupos que queriam de algum jeito se apropriar da agência.

Isso fez com que, no governo passado, tivéssemos quatro presidentes da Apex. O compromisso da nova diretoria aqui é extrair dessa agência, sem nenhum tipo de manipulação, o que ela tem de melhor.

O senhor se sente qualificado a comandar a Apex sem fluência em inglês?

Esse grau de exigência foi feito na última mudança de estatuto, ainda sob o comando do Ernesto Araújo (ex-chanceler de Bolsonaro, ao qual a Apex era subordinada). Eu, que coordenei a área de meio ambiente da transição, e o Floriano Pesaro, que é diretor da Apex, tomamos a decisão de revisar normas e regras alteradas no governo passado. Não quero usar de falsa modéstia, mas o presidente Lula me nomeou com base numa lei de 2003, quando ele criou a Apex. E ele me nomeou pela minha experiência de gestor, de liderança.

Com base nisso é que eu dou aula no mestrado de Administração do IDP. Foram 30 mudanças no estatuto da Apex. Todos os servidores foram ouvidos e tudo foi aprovado no Conselho de Administração. Eu me sinto absolutamente habilitado para conduzir essa importantíssima organização, tanto dentro como fora do Brasil.

Trabalhei na iniciativa privada, fui dirigente da Helibras, no Conselho de Administração, que é uma empresa multinacional francesa, durante três anos. No Senado, liderei quase 30 missões para o exterior. Fui prefeito, governador do Acre duas vezes e lá criei a Agência de Negócios do Acre.

Quais são seus planos para a Apex?

Planejamos fazer mais de 1.100 missões este ano, dentro e fora do Brasil. Já estamos chegando perto de 200 ações. Todos os dias há pelo menos três ações da Apex em algum lugar do mundo ou do Brasil. Isso inclui sábado, domingo e feriado. Tem sido muito prazeroso trabalhar aqui, nesse novo formato, porque há 20 anos o presidente Lula deu forma à Apex, estabeleceu o orçamento, as regras de funcionamento, e a agência estava vinculada, na época, ao Ministério da Indústria e Comércio.

Depois, foi para o Itamaraty, e agora, com recriação do MDIC, tendo o vice-presidente lá, é uma extraordinária oportunidade.

Muda algo na relação com o Itamaraty a transferência da Apex para o MDIC?

Continuamos trabalhando de maneira afinada com o Ministério das Relações Exteriores. Agora mesmo, estamos organizando, juntos, um evento na África do Sul, em Joanesburgo. O Brasil está há sete anos ausente da África, que é o berço da humanidade. É provável que a África como continente, até 2050, passe a China em população. Em menos de 30 anos, terá 30% da população do planeta, ou 2,4 bilhões de pessoas. E até 2100, segundo estudos das Nações Unidas, a África deve chegar a perto de 5 bilhões de pessoas.

O mundo está envelhecendo e 70% da população da África têm, hoje, menos de 30 anos. O presidente Lula tem com a África uma relação afetiva e está pensando em pelo menos duas missões na região, a partir de julho. Com essa ausência do Brasil, a China está muito presente na África, com investimentos. E o Brasil precisa voltar.

Há outros mercados prioritários além da África?

A Apex está presente nos cinco continentes, mas nós queremos reforçar nossa presença na China, na Índia, no Vietnã, no Camboja, em Singapura, na Indonésia, na Argentina e nos países de língua portuguesa.

O senhor foi duramente criticado durante sua viagem à China por ter vinculado o agronegócio ao desmatamento. O que houve?

Fui convidado pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em um evento sobre economia verde, para dar minha opinião técnica sobre sustentabilidade e sobre como o Brasil está trabalhando a questão do desmatamento. Sou um técnico, fui relator do Código Florestal no Congresso — aliás, o único defeito dele é que não foi plenamente implementado. O Brasil tem talvez a melhor legislação de uso da terra e de proteção aos recursos naturais que precisam ser protegidos. Lamento muito que minha opinião tenha sido distorcida.

O que eu falei foi que o Brasil precisa mudar a imagem que o mundo construiu dele nos últimos quatro anos, uma imagem de aumento do desmatamento, de invasão de unidade de conservação, de ameaça aos povos originários indígenas, que é uma imagem de incentivo ao garimpo em terra indígena.

Um estudo da Apex, do ano passado, mostra que mais de 60% do povo europeu têm péssima impressão do agronegócio brasileiro. E quando você vai para o Parlamento europeu, para mais de 80% dos parlamentares a imagem é negativa. O trabalho do Brasil e do setor do agronegócio é a busca de garantir selo de sustentabilidade para os nossos produtos.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que, nas últimas décadas, conseguiu, na pecuária, aumentar mais de 109% o setor reduzindo em quase 15% da área ocupada.

A Apex exigirá o cumprimento de critérios, como sustentabilidade, para firmar convênios com o setor privado na promoção de produtos no exterior?

A Apex trabalha com os setores da economia firmando convênios e parcerias para levar as empresas e os produtos brasileiros para feiras e eventos. No governo do presidente Lula, estamos incorporando conceitos novos. Por exemplo, equidade de gênero, para incentivarmos a participação de mulheres como líderes empresariais. É muito pequena a presença das mulheres liderando empresas e a Apex vai começar a cobrar um pouco mais isso.

A preocupação com a sustentabilidade, com o social e com a boa governança também passará a ser uma exigência nos convênios. Obviamente, esse é um processo que nós estamos construindo junto com os setores e estamos encontrando uma extraordinária acolhida.

O Brasil é um país continental. Há regiões que precisam mais de apoio do que outras?

O Norte e o Nordeste exportam pouquíssimo. Dos US$ 334 bilhões exportados no ano passado, o Nordeste brasileiro exportou US$ 27 bilhões. Ou seja, isso é menos de 10%. Sendo que US$ 14 bilhões desses US$ 27 bilhões foram da Bahia. Quando eu tiro a Bahia, sobram US$ 12 bilhões para oito estados do nordeste. Isso é nada, porque só o Espírito Santo exportou US$ 14 bilhões.

O Norte exporta quase nada. Dos US$ 334 bilhões exportados, o Norte exportou US$ 28 bilhões. Mas, se eu tirar o Pará, com a Vale do Rio Doce, sobram US$ 7 bilhões. Estou visitando todos os governadores. Já conversei com 17 governadores e isso não tem qualquer tipo de viés político ou partidário. Conversamos também com as lideranças locais para ajustar as cadeias produtivas.

Hoje o fluxo de comércio brasileiro está em torno de US$ 600 bilhões. Quanto deveria ser?

O Brasil tinha que estar mirando US$ 1 trilhão. Taiwan, uma ilha de 23 milhões de habitantes, que vive em eterno conflito com a China, tem um fluxo de comércio perto disso. É óbvio que tem um acúmulo muito grande na área de tecnologia. O Brasil pode ser interessante para empresas chinesas e indianas se instalarem, para que o Brasil possa viver uma reindustrialização.

Como o senhor avalia a expansão da oferta de carros elétricos no país?

Particularmente, acho que a transição da indústria automobilística brasileira não deve ser direto do carro de combustão quente por um carro elétrico. A matriz energética brasileira é exemplar no mundo e nós temos uma outra vantagem extraordinária que o mundo não tem, que é o etanol. Os biocombustíveis podem nos ajudar a fazer uma transição diferente dos outros países, pelo carro híbrido. Seria uma transição mais demorada, junto com a África e com a América Latina.

Além disso, temos que fazer a conta, porque o carro elétrico pode significar desemprego. Um carro convencional tem mais de 5 mil componentes e um carro elétrico perto de 500. Um carro elétrico, a metade do preço dele é a bateria, a outra metade, 25%, é aquela plataforma de conectividade que ele carrega, e 25% são outros componentes. Se trabalharmos com carro híbrido, podemos ter uma transição mais sustentável do ponto de vista social.

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